Alô, fulanos e beltranas viciados em séries boas, daquelas que fazem pensar e não esquecem de que precisamos de roteiros inteligentes, suspense, alívios cômicos, grandes atuações, rostos novos e conhecidos! Caso você esteja procurando um novo título para chamar de paixão (The Handmaid’s Tale só volta ano que vem, infelizmente), trago hoje uma sugestão quase novinha em folha.

Dietland estreou no canal por assinatura norte-americano AMC no comecinho de junho. Da temporada de dez episódios, oito já foram veiculados. Mas nem precisa estar em dia com a série para chegar à conclusão de que ela é obrigatória.

Primeiro, ela foge dos clichês, o que já é um alívio. Sua protagonista é uma jornalista gorda (interpretada por Joy Nash, uma estrela em ascensão que já esteve em Twin Peaks e The Mindy Project) que sobrevive nas sombras do mercado editorial da moda em NY, com seus padrões impossíveis. Plum (ameixa, em inglês, uma fruta suculenta e gordinha), a jornalista, odeia seu corpo e a reação que as pessoas têm a ele, diariamente.

Ela quer fazer uma cirurgia bariátrica e ter direito a usar seu próprio nome, Alicia. Além de escritora, seu talento mais evidente é o de confeiteira, o que, além de profundamente irônico, acrescenta uma camada de atração à sua figura carente de amor. Plum está eternamente faminta, não só de comida.

Ao mesmo tempo em que ela vê seus planos questionados e sua rotina alterada – seu “desmame” dos antidepressivos já é um clássico da TV, uma misteriosa organização terrorista feminina começa a matar homens acusados de estupro e abusos. Entre eles, um fotógrafo famoso e jogadores de futebol. A organização, batizada de Jennifer, faz literalmente com que caiam homens – mortos – do céu.

Terá Jennifer ligação com a misteriosa Julia (vivida por Tamara Tunie, de Law and Order SVU) ou com a mecenas antidietas Verena Baptist (Robin Weigert, de Big Little Lies)? Há que acompanhar para mergulhar na trama. Ah, sim, não dá para deixar de falar na editora cheia de glamour Kitty Montgomery, interpretada por ninguém menos que Julianna Margulies, a Alicia (outra Alicia!) Florrick de The Good Wife.

A série tem nos diálogos um de seus trunfos. As pequenas verdades cotidianas ditas com precisão fazem o papel de nos aproximar da história, por mais que ela seja hiperbólica, com o perdão da palavra.  Desde o começo, a gente coloca os pensamentos em movimento: será que Plum será mais feliz magra? Será que ignorar o padrão estético e ter uma vida normal (com direito à valorização profissional, a um relacionamento, ao respeito básico) é possível? Veja nos próximos capítulos!

O cenário em que crimes, terrorismo e o impensável cancelamento da semana de moda de NY se misturam é o fundo perfeito para dramas nada convencionais, mesmo que eles tenham os pés fincados na realidade que conhecemos. Que parte da revolução seja tramada literalmente nos porões da indústria da beleza é uma bem-vinda ironia.

Na mídia, a série tem sido comentada como sendo a mais nova arma feminina contra o patriarcado. Exageros à parte, ela é um belo exemplo de como a visão feminista do mundo pode gerar produtos palatáveis que podemos consumir dos nossos sofás, enquanto nos libertamos dos velhos conceitos e preconceitos.

Dietland é adaptação do livro de Sarai Walker, que fez bastante sucesso nos Estados Unidos quando foi lançado, em 2015. Até onde consegui pesquisar, não foi traduzido no Brasil. Ou seja, só fluentes em inglês poderão fazer a comparação entre o original e a versão televisiva.

A adaptação para a TV é assinada por Marti Noxon – e aí vem um daqueles casos em que um nome ficou abaixo do radar tempo demais. Marti é roteirista e produtora (sim, é mulher) de muitas séries importantes, de Buffy e Angel a Glee e Mad Men. Atualmente está nos créditos de pelo menos três séries relevantes: além de Dietland, UnREAL e Sharp Objects, o novo sucesso da HBO. Todas, repare-se, protagonizadas por mulheres e, cada uma em seu estilo, questionando o papel feminino – e o masculino. Pode colocar todas na sua listinha.

Infelizmente, Dietland ainda não está na programação de nenhum canal fechado no Brasil. E… não, não tem na Netflix. Está na programação da Amazon Video, outra opção em serviço de streaming que merece ser testada. Ou… procure nos melhores blogs do gênero. Vale a caça, até porque não existe nada melhor do que entretenimento que diverte, distrai e, como efeito colateral, faz pensar.

Dica extra: também para quem é fluente em inglês ou que pelo menos consiga se guiar por legendas automáticas, o vídeo A Fat Rant, sucesso da atriz há 11 anos, está disponível no canal do YouTube de Joy Nash. Assim como sua continuação e vários outros vídeos interessantes. Visite!


Claudia Bia
– jornalista e viciada em séries boas