Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Dinheiro: miséria do pobre, miséria do rico (1)

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Dinheiro: miséria do pobre, miséria do rico (1)

Pe. Adilson José Colombi

O dinheiro está intimamente ligado à propriedade e à pessoa. Ele é uma preocupação diária para uma grande maioria de seres humanos. Significa também a razão de ser e de viver para a maior parte deles. Sem dúvida, é um dos grandes pilares de nossas relações socioculturais que, em grande parte, são buscadas sob a influência de uma soma cifrada.

Dentro de nossa civilização do trabalho, a existência humana é mobilizada, em grande parte, em vista da aposentadoria em fim de carreira. Sonho que traz o modesto gozo compensatório de um dinheiro acumulado ao longo dos anos de trabalho e de investimentos.

Desta forma, o dinheiro invade a vida privada e pública da pessoa humana. Incide, às vezes, profundamente sobre o comportamento humano. A revista Esprit, porta-voz do Movimento do Personalismo Francês de Emmanuel Mounier (1905-1950), consagrou ao tema “dinheiro” um número especial bem significativo, sob o título: L’argent, misère du pauvre, misère du riche, octobre 1933, nº 13.

A antropologia personalista mounieriana considera o dinheiro como um grande progresso, como meio de medida e de câmbio. Instrumento aperfeiçoado, em sua forma e em suas expressões, é, ao mesmo tempo, um símbolo e uma mediação necessária, malgrado suas crises periódicas, resultantes de seu caráter impessoal.

Crises que se manifestam pela desvalorização, revalorização e pela especulação da bolsa de valores, gerando instabilidade e insegurança.

Clássica foi a crise de 1929 da Bolsa de Nova Yorque, da qual sabemos as consequências. Mounier viu nela, não apenas uma crise técnica do sistema econômico vigente, mas, sobretudo, uma crise total de uma civilização e de uma cultura. O dinheiro falava uma linguagem que era preciso saber escutar e interpretar com uma sensibilidade de médico. Após esta crise, era necessário construir uma metafísica e uma ética novas, baseadas em outra escala de valores.

Dentro deste contexto e sob a inspiração direta do pensamento de Péguy (Charles Péguy, Orleans, 07 de Janeiro de 1873 – 05 de Setembro de 1914), Mounier empreendeu uma luta violenta contra o “mundo do dinheiro”, contra a “desordem estabelecida’ e suas consequências desastrosas para a pessoa e comunidade humanas. O dinheiro atinge de alguma forma a todos.

Ele envolve a nossa vida. Daí ser ele um questionamento permanente que exige uma mudança radical de mentalidade, de relações intersubjetivas e intersociais. Ele está ligado ao processo de libertação da pessoa humana e da comunidade humanas.

Tanto o rico como também o miserável são envolvidos pelo “reino do dinheiro” que dividiu, em mundos fechados, categorias ou classes sociais, estabelecendo distinções e separações entre elas, às vezes, gritantes. Desta forma, o dinheiro não é assunto exclusivo de especialistas e técnicos monetários, mas também para filósofos, antropólogos, psicólogos, educadores… ou donas de casa, operários, lavradores… Ele a todos atinge.

Esta situação exige uma reflexão profunda e uma mudança radical de mentalidade e das relações humanas. A pessoa humana deve libertar-se do dinheiro e pelo dinheiro para que possa viver autenticamente sua existência pessoal. Essa libertação não é tão fácil de ser conseguida, principalmente, quando estamos envolvidos por uma Cultura do Bem-Estar, que prega o consumismo e invade permanentemente nossa vida, com seus apelos explícitos ou subliminares ao consumo.

Essa cultura insinua, constantemente, que a felicidade está no ter, no possuir, no fruir de tudo o que traz status social, poder, prazer. Infeliz é aquele (a) que não tem como acessar a esse estilo de vida. (continua).

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