Do antagonismo ao protagonismo: ex-aluna da Apae de Brusque conta sobre trajetória de vida

Palestrante Viviane Voss participou de live especial da Apae de Brusque em evento na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla em 2020

Do antagonismo ao protagonismo: ex-aluna da Apae de Brusque conta sobre trajetória de vida

Palestrante Viviane Voss participou de live especial da Apae de Brusque em evento na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla em 2020

Como parte da programação da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Brusque promoveu na quinta-feira, 27 de agosto uma live especial “Do antagonismo ao protagonismo: uma história de vida”, com a ex-aluna da instituição, Viviane Aparecida Voss.

Durante 1h30, Vivi, como gosta de ser chamada, falou sobre sua deficiência, sua trajetória de vida, alguns dos diversos desafios enfrentados por ela, além de sua superação e a importância dos serviços oferecidos pela Apae que auxiliaram em sua formação e desenvolvimento.

Realizada entre os dias 21 a 28 de agosto, a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla em 2020 teve como tema “Protagonismo empodera e concretiza a inclusão social”.

Pela proibição de eventos presenciais por conta da pandemia, a live foi uma das formas encontrada pela instituição brusquense para compartilhar experiências e discussões a respeito do tema.

“Precisamos cada vez mais abrir espaços de discussão e enxergar a pessoa com deficiência, intelectual ou múltipla, como um cidadão participante da sociedade. E cada vez que se abrem essas discussões, de participação e de temáticas de interesse deles, nos tornamos uma sociedade mais participativa e principalmente mais inclusiva. E esse protagonismo, da própria pessoa com deficiência, é essencial, pois estamos dando a essas pessoas a oportunidade de falarem sobre suas experiências. Por isso convidamos a Vivi que foi uma aluna da Apae e que é um dos nossos exemplos de protagonismo a falar sobre isso”, comentou durante a abertura a coordenadora pedagógica e mediadora da live, Anelyn Pinheiro.

Reprodução

Antagonismo e protagonismo

Ao longo de sua palestra, Vivi contou sua trajetória de vida, em como passou de uma criança, que não falava, não andava e nem sentava, até a mulher que é hoje: independente, que se locomove para onde deseja, se comunicar da melhor forma e dá palestras com seu exemplo de vida para várias pessoas.

Nascida em uma cidade pequena e simples, no Mato Grosso, Vivi veio ao mundo após o período que deveria nascer, o que trouxe sequelas e impactou em seu desenvolvimento. Com o tempo e suas limitações, seus pais perceberam a necessidade de buscar serviços que a auxiliassem, e dessa forma vieram para Brusque, onde encontraram a Apae, em 1992.

Desde então, dos sete aos 33 anos, Vivi foi aluna da instituição, passou por processos de fisioterapia a alfabetização onde pode desenvolver suas habilidades motoras, de comunicação, convivência e alfabetização.

“Hoje sou o que sou porque houve uma equipe na Apae que nunca desistiu de mim. Consegui andar e não parei mais. Aprendi a falar e também não parei mais. A Apae foi fundamental para estarmos aqui hoje, falando de igual para igual”, relatou.

Depois de aprender a ler e escrever, Vivi também passou a escrever sua própria história, marcada por muitas conquistas, evolução, mas também muito preconceito.

Entre as lembranças contadas durante a live, Vivi falou sobre sua triste experiência ainda jovem quando foi para o ensino regular, por volta de seus 12 anos, quando sofreu bullying.

“Frequentei a escola por uma semana. Não tinha professor auxiliar na época e infelizmente os outros alunos não me respeitaram, me empurravam e até da escada cheguei a cair. Foi a pior semana da minha vida”, relembra com tristeza do fato ocorrido há 23 anos.

Graças a evolução, aos diálogos e leis, a inclusão passou a fazer parte do ensino regular e cada vez mais transformou a realidade vivenciada por Vivi em um capítulo do passado. Mesmo assim diariamente a ex-aluna da Apae relata sua batalha contra o preconceito.

“Ainda tem muito preconceito da sociedade, mas hoje sei enfrentar melhor essa questão. Eu mesma até meus 15 anos não me aceitava, mas depois passei a mudar esse olhar, a conviver comigo mesma e perceber que ninguém é melhor do que ninguém. Somos todos diferentes e isso não me faz ser maior ou menor que qualquer outra pessoa. Sou humana, tenho sentimentos como qualquer outra mulher, mas acima de tudo sou muito feliz”, enalteceu.

Em 2014, por meio de uma parceria da Apae, Vivi foi encaminhada ao Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) onde graduou-se no Ensino Regular e Ensino Médio. Hoje, aos 35 anos, ela é palestrante e se prepara para a vida acadêmica, pois sonha em cursar a faculdade de psicologia, inspirando diversas pessoas com sua história.

“Agradeço muito por esse espaço oportunizado pela Apae, esse local que sempre me acolheu. Que as pessoas possam conhecer mais o trabalho feito pela entidade que é maravilhoso e principalmente que parem de ter preconceito, pois ninguém é melhor que ninguém”, completou.

A live promovida pela Apae de Brusque contou com mais de 2 mil visualizações, mais de 500 comentários e inúmeras reflexões a respeito da importância do olhar voltado para a pessoa com deficiência.

Destaque nacional

Outro importante momento no dia 27 de agosto foi a participação da Apae de Brusque na videoconferência da Federação Nacional das Apaes (Fenapaes), que teve como tema “A educação como meio para o desenvolvimento humano em igualdade de oportunidades”.

O evento contou com a participação de representantes de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Piauí, Paraíba e Minas Gerais, e espectadores de todo o país, que discutiram a respeito do processo educacional para geração de oportunidades iguais e inclusão das pessoas com deficiência.

O evento on-line nacional contou com a participação de Viviane Voss e da professora da Apae de Brusque Joice Diegoli que compartilharam a experiência de vida de Vivi e sua trajetória na Apae, desde o processo de alfabetização até a independência dela, que hoje circula pela cidade de ônibus, e sonha em cursar psicologia.

“Nunca estou contente com o que tenho, sempre quero mais e mais. O ‘não’ sempre fez parte da minha vida, mas sempre o enfrentei, pois ele é quem me motivava. O preconceito ainda é muito grande, mas eu nunca desisto dos meus sonhos, pois quando o realizamos, é melhor ainda”, enfatizou Vivi.


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