As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo e também no Brasil.

Há diversos tipos de doenças cardiovasculares, porém a mais frequente e com maior mortalidade é aquela que acomete os vasos coronarianos, quer dizer as artérias que irrigam o próprio músculo cardíaco. 

Quando existe uma obstrução significativa de alguma artéria coronária pela existência de uma placa de arteriosclerose a manifestação clínica pode ser uma angina pectoris  (dor no peito) ou um infarto agudo de miocárdio. 

Se estima que o risco de desenvolver doença coronariana ao longo da vida após os 40 anos de idade seja de 50% nos homens  e 33% nas mulheres.

O infarto agudo de miocárdio é responsável por 50% das mortes nos países desenvolvidos.

O estreitamento das artérias coronarianas é consequência do processo de arteriosclerose que se inicia precocemente na vida de todos nós e o grau de afetação está muito relacionado com o estilo de vida, como tipo de alimentação, grau de atividade física, uso de cigarro e bebidas alcóolicas, controle adequado de doenças relacionadas como diabetes, hipertensão arterial, hiperlipidemia (colesterol ou triglicerídeos altos), obesidade, etc.

No Brasil acontecem mais de 300 mil infartos de miocárdio por ano com uma taxa de mortalidade de 30%, se calcula que até 2040 haverá um aumento de 250% nos casos de infarto no Brasil.

Muitas vezes a doença coronariana é assintomática, daí a importância dos exames preventivos periódicos com o cardiologista, quanto mais comportamento e fatores de risco o paciente tenha, mais precocemente e mais frequentemente este acompanhamento se faz necessário.

Justamente as dificuldades de acesso à saúde nos países de média e baixa renda faz com que 75% de todas as mortes por doenças cardiovasculares aconteçam nos países pobres. 

Estas doenças a nível individual provocam uma despesa significativa no orçamento das famílias e a nível macroeconômico criam também uma carga pesada na economia destes países (mortes, ausências no trabalho, aposentadoria precoce).

A OMS tem recomendado cinco políticas públicas que quando implementadas tem se mostrado eficazes em reduzir a incidência de doenças cardiovasculares em geral (e não somente doença coronarianas). 

As recomendações são, políticas abrangentes para o controle do fumo de cigarro, impostos para reduzir a ingestão de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal, construção de vias para caminhadas e uso de bicicleta tanto para exercício quanto para mobilização em distâncias menores, estratégias para reduzir uso de álcool e oferecer refeições escolares saudáveis.

Na nossa cidade chama a atenção no noticiário o número de acidentes, muitas vezes fatais, envolvendo ciclistas. 

No começo da pandemia, quando não estava liberado o transporte público, poderíamos ter aproveitado a oportunidade para incentivar o uso da bicicleta e aumentar a exígua rede de ciclofaixas. 

Muitas cidades do mundo assim o fizeram, algumas delas fechando de vez zonas do centro para o trânsito de veículos motorizados, e dando subsídios e crédito para usuários de bicicleta.

Em poucas décadas o benefício do estímulo à prática de atividade física retorna em forma de menos gastos com saúde além de termos uma cidade com menos poluição, mais humana e que desperta o interesse de outros tipos de turismo.

Quando falamos em saúde a prevenção é sempre a melhor e a mais barata das opções.

A cardiologia brasileira é uma das mais conceituadas do mundo, teve grandes expoentes como o Dr. Euryclides Zerbini que em 1967 realizou o primeiro transplante cardíaco na América Latina, diariamente se realizam centenas de cateterismos e angioplastias exitosas no país, há grandes hospitais que dispõem das mais modernas tecnologias para o diagnóstico e tratamento das doenças cardiovasculares, mas se não investimos na prevenção de doenças através de mudanças no estilo de vida como recomenda a OMS vai faltar estrutura médico-hospitalar para atender a demanda de pacientes com estas doenças nas próximas décadas.