Nas últimas décadas o número de casos de fibromialgia vem aumentando na população. Com o advento da pandemia de Covid-19 não há dúvidas que há uma eclosão de novos casos. Essa avalanche de novos casos pode ser explicada porque a fibromialgia é comprovadamente uma das manifestações da chamada Covid Persistente (Long Covid).

A fibromialgia é uma doença que se caracteriza pela presença de dores ao nível do sistema musculoesquelético que se prolongam por mais de três meses. Um dos sinais principais é que existe dor na compressão de pelo menos 11 de 18 pontos dolorosos distribuídos no corpo: pescoço, costas, braços e pernas.

Critérios mais recentes dispensam a necessidade de ter esses pontos hipersensíveis, mesmo assim são uma ajuda para o diagnóstico, já que não existem exames complementares que possam confirmar a doença.

Os exames complementares que o médico solicita são importantes para descartar outras condições que possam ser confundidas com a fibromialgia, entre elas podemos citar as artrites, polimialgia reumática, infeções virais, dores neuropáticas, disfunção da tireoide, transtorno depressivo maior e uso de estatinas.
Devemos lembrar que alguns pacientes podem ter alguma destas condições que podem atuar como gatilhos para o inicio dos sintomas fibromialgicos.

Não é raro encontrar pacientes com depressão não tratada que algum tempo depois iniciam com sintomas de fibromialgia.

Apesar que o sintoma principal da fibromialgia sejam as dores musculoesqueléticas, os pacientes com muita frequência se queixam também de fadiga, dificuldades com a memória e a concentração, insônia, dores de cabeça, alterações do trânsito intestinal, ansiedade e depressão.

A incidência de Fibromialgia que sempre foi ao redor de 2% da população tem aumentado e provavelmente já é superior a 4%, acomete mais mulheres que homens numa proporção de 9:1.

As dores no corpo todo que relatam os pacientes se caracterizam por ser pouco localizadas, em ambos os lados do corpo, acima e abaixo da cintura e além dos membros superiores e inferiores acometem pescoço, costas ou região torácica.

A fibromialgia não provoca nenhum dano orgânico no nosso corpo, nenhum órgão é lesado, não é uma doença com risco de morte quando acontece isoladamente, porém pode chegar a ser incapacitante.

A hipótese mais aceita para o surgimento das dores é a presença de uma alteração no processamento da dor no nosso cérebro.
Está confirmado que existem alterações de alguns neurotransmissores principalmente ao nível da medula espinhal e também alterações das vias dopaminérgicas e das endorfinas cerebrais.

Tem se detectado também algumas alterações de tipo inflamatório, com aumento de citoquinas; no momento sem utilidade para o diagnóstico.

Com frequência antes do aparecimento das dores acontece algum fator desencadeante como traumas físicos, emocionais, ou mesmo alguma doença viral.

Um dos sintomas que dificulta muito a vida do paciente com fibromialgia é a fadiga ou sensação de cansaço permanente, muitas vezes o paciente acorda cansado, geralmente após uma noite mal dormida.

A dor e a fadiga aumentam com a prática de atividades físicas, daí que é importante o tratamento medicamentoso para aliviar estes sintomas e então sim poder iniciar um programa de atividades físicas que é necessário para o controle e cura da doença.

Há vários medicamentos que ajudam muito no controle dos sintomas de fibromialgia. Os analgésicos não são indicados principalmente pelo seu potencial de criar dependência e sua pouca eficácia no longo prazo.

Há necessidade de tratar quaisquer outros transtornos acompanhantes, como depressão, ansiedade, insônia. Os pacientes que conseguem os melhores resultados são aqueles que se engajam num programa de atividade física de nível crescente, iniciando com atividades aeróbicas de baixa intensidade sempre sob supervisão de um profissional da educação física.

Há milhares de pessoas famosas ou anônimas que tem convivido com dores crônicas ao longo da sua vida, um personagem icônico e que retrata perfeitamente o que significa conviver com dores de forte intensidade diariamente por décadas foi a famosa pintora mexicana Frida Kahlo.

Frida, que já era portadora de sequelas de poliomielite, sofreu com 18 anos de idade um sério acidente de trânsito, uma barra de ferro atravessa seu corpo, a partir disso inicia uma vida de dores, peregrinação em hospitais, internações e dezenas de cirurgias.

Historiadores acreditam que, além das dores decorrentes destes eventos, Frida desenvolveu também um quadro típico de fibromialgia. Suas cartas e toda sua obra pictórica são o fiel reflexo desse sofrimento.

Um grande amigo de Frida fez um resumo fiel da sua vida: “ela foi morrendo todos os dias da sua vida”. É exatamente isso o que sentem os pacientes portadores de fibromialgia, um sofrimento diário que tira o prazer de viver e que muitas vezes os leva a perder os melhores anos de suas vidas.