Há uma preocupação generalizada nos educadores e médicos sobre o aumento significativo de casos de autismo nas escolas e nos consultórios respectivamente.

Com frequência professores me perguntam quais seriam as causas para este aumento. Primeiro lembremos que a terminologia atualmente usada para este diagnóstico é Transtorno do Espectro Autista (TEA), estão aqui incluídos os casos leves rotulados como Síndrome de Asperger, os casos moderados e severos.

Há algumas explicações consistentes e outras prováveis para este aumento na prevalência do TEA, entre as explicações consistentes podemos citar o aumento do número de profissionais (médicos e psicólogos) com especialização sobre o assunto. Também o fato que os critérios diagnósticos foram muito bem definidos e ampliados nos últimos anos, incluindo dessa forma principalmente os casos leves que anteriormente não chegavam a preencher esses critérios.

A melhor compreensão e conhecimento sobre o tema pela sociedade como um todo tem permitido que os pais estejam mais atentos às alterações de comportamento e de desenvolvimento de seus filhos, procurando atendimento com maior frequência.

Finalmente o trabalho dos grupos de pais de autistas, das ONGs e da mídia em geral divulgando de forma correta que não se trata de uma doença, que não tem cura e que a intervenção precoce é uma estratégia importante e necessária.

Mesmo assim é provável que estas explicações não sejam suficientes para justificar o grande aumento de casos e aqui entra uma explicação provável relacionada à herança poligênica que se atribui ao Transtorno de Espectro Autista, nas últimas décadas com o advento das redes sociais tem sido possível que pessoas portadores de alguns traços de comportamentos hipersistemáticos tenham facilidade para se encontrar, se identificarem, se relacionarem como casal e terem filhos que teriam uma chance ainda maior de serem portadoras dessas mutações poligênicas necessárias para o aparecimento do TEA. Nos próximos anos os estudos poderão confirmar ou descartar esta teoria.

Infelizmente não dispomos de estatísticas confiáveis sobre o TEA no Brasil, os números do CDC de Estados Unidos podem servir como comparativo:

Em 2002 havia uma criança autista para cada 150, em 2012 uma para cada 68, em 2020 uma para cada 54 e em 2021 uma para cada 44.
Significa que nos Estados Unidos nos últimos 20 anos houve um aumento de 340% nos casos de autismo, um aumento impressionante. Chama a atenção também o fato que de 2020 até 2021 houve um aumento de 22%.

Entre os educadores e médicos há a sensação de que algo semelhante acontece no Brasil.

Alguns especialistas estimam em que 1% da população mundial seria portadora de TEA, isso significa que no Brasil teríamos algo mais de 2 milhÕes de portadores deste transtorno.
É errado querer romantizar o diagnostico de TEA como acontece com frequência nas redes sociais ao divulgar que pessoas muito bem-sucedidas como Elon Musk, Bill Gates, Susan Boyle, Anthony Hopkins, portadoras de Síndrome de Asperger (uma forma de autismo leve) teriam até vantagens em relação às pessoas não portadoras de TEA.

Devemos lembrar que a grande maioria de casos de autismo exigem a superação de grandes desafios e provocam uma grande preocupação e muitas incertezas nos pais dos portadores.

A verdade é que o cérebro dos autistas é diferente e funciona de forma diferente, simplificando podemos dizer que os autistas têm menos conexões entre os dois hemisférios cerebrais ao mesmo tempo que há um excesso de conexões dentro do mesmo hemisfério, o fenômeno da poda neuronal necessária para o normal desenvolvimento do sistema nervoso não acontece ou acontece parcialmente no autismo. Há alterações significativas no cerebelo, córtex cerebral e sistema límbico dos autistas.

Os pais de autistas costumam fazer de tudo para ajudar ao desenvolvimento de seus filhos, lembremos que muitos autistas têm também epilepsia, déficit de atenção, transtornos gastrointestinais. Com frequência enquanto o pai trabalha para o sustento da família, a mãe se dedica em tempo integral a cuidar do filho e procurar todos os tratamentos necessários.
Muito temos ainda a melhorar para dar suporte diagnostico e terapêutico para os portadores de Transtorno de Espectro Autista na rede pública de saúde.

O especialista em TEA, Simon Baron-Cohen diz que o autismo é tanto uma deficiência quanto uma diferença. Precisamos achar meios de atenuar a deficiência e ao mesmo tempo respeitar e valorizar a diferença.