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Bastidores da política e do Judiciário, opiniões sobre os acontecimentos da cidade e vigilância à aplicação do dinheiro público

Editorial: A espantosa ciranda da política catarinense

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Bastidores da política e do Judiciário, opiniões sobre os acontecimentos da cidade e vigilância à aplicação do dinheiro público

Editorial: A espantosa ciranda da política catarinense

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Às vezes a gente tem a impressão que os políticos catarinenses não levam a sério seus eleitores. Por exemplo: o eleitor catarinense derrotou o Gelson Merísio (PSD) nas eleições ao governo do estado. Preferiu uma chapa de “novatos”, que surfava no tsunami bolsonarista. O recado parecia ser de clara rejeição aos políticos mais tradicionais.

Mas, se tem uma coisa que todo político sabe, é que a paciência é uma virtude e que vingança é um prato que se come frio. Assim que o governo da dupla Carlos Moisés Maurício Vieira e Daniela Cristina Reinehr passou na primeira lombada, aproveitaram o solavanco para tentar “consertar” o resultado das urnas.

Num movimento cujos detalhes e bastidores ainda não foram completamente revelados, iniciou-se o processo de impedimento do governador e sua vice. O beneficiado mais visível seria o então presidente da Assembleia Legislativa, Júlio César Garcia.

A vice-governadora, que de “novata” na velha política não tem nada, usando os métodos mais tradicionais (que provavelmente aprendeu com a movimentação mais ou menos recente do vice-presidente Michel Miguel Elias Temer Lulia), aproximou-se dos que pretendiam defenestrá-los e conseguiu que só o governador fosse afastado e, em vez de Garcia, ela assumisse “interinamente” o governo.

Está cada vez mais claro que os políticos derrotados nas urnas agiram para explorar as fraquezas políticas do governo Moisés/Daniela

A palavra “interinidade” parece não ter muito significado para a vice-governadora, que assumiu o governo como se tivesse acabado de ser eleita para um mandato de quatro anos. Terminado o período de afastamento, o governador voltou. Pronto, em pouco tempo o estado é novamente paralisado para troca de titulares de secretarias e recomposição do que tinha sido alterado.

Mas o processo não encerrou. Havia um outro impedimento em curso. E, novamente, o governador foi afastado. E, mais uma vez, a vice-governadora assume como se tivesse sido eleita numa chapa de oposição ao governo (faz tempo que as urnas falaram, então talvez ela nem lembre quem era o cabeça de chapa que ela apoiou). E se movimenta com desenvoltura nas áreas mais tradicionais da “velha política” guiada, em alguns dos seus passos, ora vejam só, pelo ex-adversário Gelson Merísio, o mesmo que a chapa Moisés/Daniela tinha derrotado nas urnas. E, na busca por apoio, mesmo identificada com o mais aguerrido bolsonarismo, a governadora interina não deixou de fazer agrados até mesmo ao… PT. 

Aí, quando tudo parecia correr conforme o previsto, aparece no Superior Tribunal de Justiça (STJ) um pedido de arquivamento da denúncia contra o governador. Cai por terra a suspeita que motivara esse segundo impedimento. Em resumo: a investigação chegou à conclusão que o governador não tem culpa no caso dos respiradores fantasmas. Por isso a coisa foi arquivada no STJ. O Tribunal Especial de Julgamento tem agora uma batata quente nas mãos. Porque, se não houve o crime, qual seria o motivo para o impedimento?

Está cada vez mais claro que os políticos derrotados nas urnas agiram para explorar as fraquezas políticas do governo Moisés/Daniela. E, espertos que são, souberam aproveitar-se do apetite da vice-governadora pelo poder para capitalizar um aparente tropeço no processo (o afastamento apenas do governador), transformando-a em aliada. O eleitor que elegeu a chapa Moisés/Daniela achando que tinha derrotado Merísio/Kleinübing deve estar meio confuso.

 

 

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