Editorial: O paradigma entre emprego e pobreza em Brusque
O assunto pobreza está sempre presente em nossa sociedade. Sua existência nos faz refletir sobre os menos favorecidos. Sua origem, segundo os estudos, pode ser atribuída a fatores políticos-legais, econômicos, socioculturais, naturais, de saúde e históricos.
As causas da pobreza e sua eliminação são uma questão altamente controversa e politizada. A direita costuma olhar para fatores mais estruturais que impedem o crescimento econômico. A esquerda vê a pobreza como resultado de diferentes fatores sistêmicos, como a falta de oportunidades, falta de intervenção governamental e também como expressão da questão social vinda do conflito capital x trabalho.
Toda esta questão é exaustivamente debatida, estudada, escrita, ensinada, e aceita nas mais diversas sociedades. Mas um fenômeno que ocorre em Brusque talvez merecesse atenção e pudesse contribuir nesta discussão.
Nossa cidade também tem pessoas pobres, muitas delas utilizam programas sociais. Em julho deste ano publicamos aqui no jornal O Município que o número de famílias registradas no Cadastro Único neste ano era de 4747. As pessoas cadastradas neste sistema são consideradas de baixa renda e estão elegíveis para receberem algum benefício do governo. Deste total, 1734 famílias são beneficiadas com o bolsa família. Ambos tiveram aumento em relação ao ano passado.
Como explicar então que uma cidade que está precisando encarecidamente de mão de obra também vê aumentar o número de auxílios sociais?
Outros indicadores da Secretaria de Desenvolvimento Social apontam que se compararmos o período compreendido entre 1º de janeiro a 30 de setembro de 2020 e 2021 veremos que o atendimento do albergue reduziu de 1624 atendimentos para 914, mas os atendimentos no Centro Pop cresceram quase 30%, indo de 2088 para 2689. As cestas básicas mais que dobraram, indo de 5189 para 11541.
Mas o que intriga é que esta mesma Brusque está em pleno desenvolvimento econômico contabilizando mais de 900 vagas abertas somente pelo Sine. Se contarmos as agências de emprego privadas com certeza vamos passar da casa do milhar.
Esta carência de mão de obra é tão grande que nesta sexta-feira a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Brusque está promovendo o mutirão de empregos no pavilhão da Fenarreco. No local haverá mais de 50 empresas do município, em diversos setores (têxtil, metal mecânica, serviços, comércio, construção civil) com entrevista de emprego diretamente com os contratantes.
Além disso, serão oferecidas orientações em relação ao comportamento durante as entrevistas, imagem e postura. Ainda nesta linha o mutirão vai contar com parcerias do Senai, Senac, IFC, Sebrae que estarão divulgando seus cursos de qualificação.
Como explicar então que uma cidade que está precisando encarecidamente de mão de obra também vê aumentar o número de auxílios sociais? Não dá pra dizer que falta oportunidades, nem que falta intervenção governamental, afinal quem chega por aqui pode contar com uma ampla rede pública e privada de acolhimento
Mas até que ponto este assistencialismo é positivo? Até que ponto ele é uma necessidade e em que ponto vira uma dependência? O caso de Brusque seria um case para uma boa tese no estudo da pobreza. Muito mais que teorias temos um laboratório ímpar para se aprofundar no tema e ver até que ponto os conceitos atuais são verdadeiros.
Com certeza seriam quebrados muitos paradigmas e talvez até pudéssemos constatar a quem a pobreza interessa. A verdade é que muita gente vive dela, e a explora por questões políticas, ideológicas e até filosóficas. Mais do que o flagelo humano tornou- se uma indústria, um negócio. Vale uma reflexão, vale um estudo.