O Ódio está na moda. Odiar sem freios. Usar a voz que as redes sociais nos deram para explicitar Ódio irracional. O Ódio devora nossa inteligência e nos tira a capacidade de enxergar. O Ódio não volta atrás. Ele não admite erros. Ele só avança. Contra as vítimas mais inimagináveis.

E não é que um inocente Polenguinho, em suas redes sociais, resolveu fazer uma homenagem ao que talvez seja o mais conhecido disco do Pink Floyd, Dark Side of the Moon… e acabou atraindo Ódio e mais Ódio dos que viram uma coisa e entenderam outra completamente diferente?

(aproveitando… que tal ouvir o álbum?)

Para quem não sabe, a capa do disco mostra um prisma. E um prisma, como nos diz o dicionário, é um “sólido em forma geralmente triangular, feito de vidro ou outra substância transparente, usado para dispersar ou refratar a luz”. Quando a luz é decomposta nas sete cores de seu espectro, todo mundo vira criança de novo e fica de queixo caído. Não é?

O mesmo fenômeno forma os arco-íris, a gente sabe. As gotículas de chuva fazem o papel do objeto que “divide” as cores. E todo mundo corre para postar no Instagram. Mas… prisma é uma coisa e arco-íris é outra. Não dá para confundir os dois. Ou dá?

Dá. O Ódio, usando seus exércitos de raivosos, resolveu que a homenagem do Polenguinho era, na verdade, um apoio ao ativismo LGBT. Porque, claro, arco-íris é o símbolo usado pelo LGBT. E não pode mais ser usado em outro contexto.

Sabe vergonha alheia?

A página do Polenguinho teve que vir se explicar: “nossa equipe criativa teve como inspiração a capa do álbum The Dark Side of The Moon, da banda Pink Floyd, para “brincar” com o conceito de fominha, tão utilizado quando o assunto é Polenguinho. Prezamos pela paz, pelo respeito e pela igualdade em nossa comunidade aqui. Embora não tenhamos feito alusão ao movimento LGBT+, temos máximo respeito pela causa”.

Mas o Ódio não quer saber de explicações, ele quer perseguir. Quer obrigar todo mundo a enxergar a realidade distorcida, junto com ele. Porque o Ódio tem muito Medo de quem vê as coisas de um jeito diferente. Não pode. Não pode questionar valores – ainda que os valores que o Ódio acredita nunca tenham, de verdade, funcionado. A família de margarina sempre teve seus Segredos e Mentiras. Ela nunca foi perfeita. Só pisoteava e escondia as diferenças e os problemas debaixo de seus tapetes vistosos.

Mas sua imagem interessa demais aos poderes econômico, político e religioso, não é? Quanto mais uniforme a sociedade, mais fácil dominá-la. Formigas e abelhas. O Ódio serve ao Poder. E o poder não poupa ninguém. Nem as cores do arco-íris.


Claudia Bia
– jornalista