Quando 11 jovens decidiram, em uma reunião no dia 30 de dezembro de 1918, fundar o Clube Esportivo Paysandú, talvez não tivessem a dimensão daquela atitude. O alviverde se tornou, com o passar dos anos, uma das agremiações mais importantes de Santa Catarina, não apenas pelas glórias no futebol, mas por toda a cultura construída e proporcionada pelos paysanduanos.

De uma modesta ideia juvenil, o projeto tomou corpo e aceitação dos brusquenses. O Paysandú ajudou a moldar não só a paixão pelo esporte no berço da fiação catarinense, mas também a própria construção social da comunidade, promovendo festas, eventos, bailes, carnavais e festas juninas.

Somente com esta aceitação foi possível que o jovem grupo que pegava emprestado um terreno das empresas Buettner para improvisar como campo pudesse ter, hoje, uma das maiores sedes sociais de clubes de futebol do país, além do imponente estádio na região central da cidade.

O primeiro jogo oficial do esmeraldino não poderia ser contra outro adversário: o Sport Club Brusquense, posteriormente Clube Atlético Carlos Renaux, em 8 de junho de 1919. Com o passar das décadas, esta rivalidade entre Paysandú e ‘Carrenô’ foi alimentada, de modo que havia até mesmo discussões familiares. Paysanduano não podia casar com tricolor, como muitos torcedores confidenciaram.

Porém, em 1987, devido a problemas financeiros em ambos os clubes – principalmente após as enchentes de 1983 e 1984 -, os dois rivais realizaram a fusão que originou o Brusque Futebol Clube. A fusão foi dissolvida, e hoje os três clubes existem e são administrados separadamente.

Desativado do futebol profissional desde 1986, o Paysandú concentra atualmente suas atenções nas atividades de futebol de base e projetos de escolinha da modalidade. Existem ainda atividades paralelas, como eventos sociais e o futebol de campo amador. A sede do clube também conta com restaurante e serviço de bar e cozinha.

A fundação de um campeão

Primeiro time do Paysandú que se tem registro, de 1919. Acervo Casa de Brusque.

No começo do século 20, o futebol eclodia no Brasil. As grandes e históricas agremiações nacionais do eixo Rio-São Paulo, muitas delas reconhecidas até hoje, foram fundadas entre 1900 e 1910. Na região Sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul, não foi diferente, e em pouco tempo o esporte passou a ser xodó nacional. Em Brusque, já surgia em 1913 o Sport Club Brusquense – que viria a se chamar Clube Atlético Carlos Renaux em 1944 -, mas, em pouco tempo de vida, o tricolor teve período de inatividade por dificuldades.

Neste vácuo, um grupo de jovens amantes do futebol, capitaneados por Victor Gevaerd, decidiu fundar um novo clube na cidade, que tinha como principal função a difusão do esporte. Em uma reunião às 11h do dia 30 de dezembro de 1918, Victor Gevaerd, Rodolpho Moritz, Augusto Moritz, Arnoldo Moritz, Rudolpho Deichmann, Luiz Alves Gevaerd, Otto Demarchi, Pedro Gevaerd Sobrinho, Adolpho Walendowsky e Fritz Ammann assinavam a ata da fundação do Sport Club Paysandú.

Em um período pós-Primeira Guerra Mundial, os jovens brusquenses cravavam a bandeira branca da paz e verde da esperança na jovem cidade. Mas viria pela frente um longo trabalho até que o clube se tornasse uma das mais importantes instituições esportivas e culturais da região.

A escolha do nome
Das várias dúvidas que permeavam a cabeça dos fundadores do clube, certamente o nome não era uma delas. Desde o princípio, o alviverde recebeu a nomenclatura que ostenta até hoje: Paysandú, nome de uma cidade uruguaia, como forma de homenagear o histórico episódio conhecido como A Tomada de Paysandú (ou Cerco de Paysandú), ocorrida em 1865.

No evento histórico, o Brasil colaborou com mais de 2 mil homens para tomar a cidade durante a Guerra do Uruguai. O nome do município uruguaio foi copiado com excelência pelo clube, repetindo a utilização da letra ‘y’ e do acento agudo no ‘u’.

Primeiros campos

Estádio Cônsul Carlos Renaux nos anos 1950. Acervo Wallace Borba

Não foi logo de cara que o Paysandú saiu jogando no estádio Cônsul Carlos Renaux. A construção patrimonial se deu ao longo dos anos, e os primeiros toques na bola foram dados em campos emprestados e improvisados, não específicos para a prática do futebol. Nos primórdios, os jogadores atuavam em um terreno na rua Itajaí, mas o local era precário e em pouco tempo foi necessária a busca de outro campo.

Foi aí que surgiu a oportunidade de ocupar um campo, de maneira alugada, que pertencia à empresa Buettner. Em 1920 o time fez sua primeira partida amistosa no novo gramado, contra o Brasil Foot-Ball Club, de Tijucas, que terminou empatado em 1 a 1. Antes deste duelo, contudo, o clube já havia realizado outras partidas, e seu primeiro jogo registrado foi uma partida contra o eterno rival Carlos Renaux, ainda com o nome Sport Club Brusquense, em junho de 1919 – vitória alviverde pelo placar de 3 a 1.

Faltava, ainda, um local próprio para o clube jogar. Com poucos recursos de associados e tentativas de ações entre amigos, enfim o clube adquiriu um terreno em 1922. Por meio de muito sacrifício e trabalho dia e noite, com a ajuda da comunidade a até de atletas paysanduanos, foi possível realizar o aterramento, a limpeza do terreno e a construção do sonhado campo. Em 15 de junho de 1924 foi inaugurado o estádio próprio e o pavilhão, batizado de Praça de Desportos Coronel Carlos Renaux, mais tarde denominado Estádio Cônsul Carlos Renaux.

Amistosos contra Corinthians e Santos

Recorte de jornal do amistoso contra o Corinthians. Arquivo pessoal

Entre o fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, o Paysandú realizou dois amistosos históricos, que trouxeram plantéis cheios de estrelas para Brusque. O primeiro foi contra o Santos, em 1979. O jogo foi em comemoração à inauguração do sistema de iluminação, o que fazia o alviverde, finalmente, poder sediar partidas à noite.

O elenco santista havia conquistado o Paulista de 1978 e contava com o goleiro Vitor, Clodoaldo, Pita, João Paulo e Nilton Batata. Todos os ingressos para a grande partida foram vendidos e o estádio Cônsul Carlos Renaux registrou lotação máxima. Sem lugar para mais ninguém, havia gente pendurada nos muros para acompanhar ao jogo.

João Paulo, do Santos, marcou o primeiro gol, mas Luiz, do Paysandú, deixou tudo igual. Aos 25 minutos ocorreu a virada paysanduana: gol de Grilo. Mas Nilton Batata e duas vezes João Paulo foram responsáveis por uma nova virada, fechando a vitória santista pelo placar de 4 a 2 no dia 16 de dezembro de 79.

O confronto com o Corinthians foi em 1982, auge da Democracia Corinthiana. Estiveram presentes em Brusque os atletas Casagrande, Biro-Biro, Zenon e Wladimir. Sócrates, na época, não viajou para jogar o amistoso. A equipe alvinegra era fortíssima, mas o esquadro alviverde segurou bem o ímpeto adversário e o placar final apontou um empate sem gols.


Você está lendo: 100 anos de esporte e cultura


Veja outros conteúdos do especial:

– Introdução
– Datas, fundadores e hino do Paysandú
– Conquistas históricas
– Os ídolos alviverdes
– Coração paysanduano
– Zelo pelo patrimônio
– Vocação ao esporte
– Formando vencedores
– A cultura verde e branca
– O alviverde em palavras