Especialistas questionam pedido de corte de árvores das marges do rio Itajaí-Mirim

Sugestão de vereador é vista com desconfiança por representantes de órgãos ambientais

Especialistas questionam pedido de corte de árvores das marges do rio Itajaí-Mirim

Sugestão de vereador é vista com desconfiança por representantes de órgãos ambientais

A ideia do vereador Ivan Martins (PSD) em sugerir a possibilidade de supressão de parte das árvores das margens do rio Itajaí-Mirim é vista com preocupação por especialistas em meio ambiente.

Nesta semana, ele apresentou um requerimento em que pede que seja feita uma reunião conjunta das comissões de Serviços Públicos e Meio Ambiente da Câmara, a fim de discutir a retirada total ou poda das árvores existentes ao longo das margens do rio Itajaí-Mirim.

Ao reter detritos, ele justifica, a vegetação impediria o escoamento rápido das águas durante as cheias, especialmente na avenida Beira Rio.
“Enalteço a preocupação do edil com a população em período tão drástico, como o é, durante as cheias que assolam nossa cidade”, opinou Vanessa Becker, presidente da Comissão de Gestão Ambiental (Cogemas) do Samae de Brusque, por meio de e-mail enviado ao Município Dia a Dia.

Nesta mesma correspondência, Vanessa lista uma série de fatores que a preocupam, se a medida for, por ventura, aprovada. A especialista cita a Descida do Rio, ação com intuito de recolher detritos do leito e da margem do Itajaí-Mirim, como uma solução adequada para melhorar o fluxo das águas, e não pura e simplesmente suprimir vegetação.

Ela sugere que o vereador, se preocupado com a retenção de detritos nas margens do rio, que proponha uma força tarefa afim de desassociar o leito do rio e de seus ribeirões e recuperar as áreas de preservação permanente degradadas, a fim de parar a erosão.

Vanessa alega que as árvores da mata ciliar impedem o escoamento rápido das águas pois esta é uma de suas funções. “Pois a água das chuvas desce em grande velocidade, e se não houver mata ciliar estas águas carregam as margens do rio, e entram nas casas com enorme força, e o estrago é bem maior”.

A presidente do Cogemas continua sua defesa da permanência da mata ciliar. “Pois a vegetação ribeirinha regula a temperatura da água através do controle da luminosidade, garantindo o ensombramento do leito, diminui a velocidade da água em situação de cheia, serve de abrigo para as espécies animais terrestres, de proteção das margens contra a erosão”, cita, entre outros benefícios.

A especialista sugere que se proponha um programas de medidas que vislumbre, por exemplo, a redução e o controle das fontes de poluição pontual e controle das fontes de poluição difusa.

“Não é algo normal”, diz engenheiro

O corte de árvores também é visto com preocupação pelo engenheiro agrônomo Juliano Piske, do Clube de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Ceab) de Brusque. Ele acredita que é muito vago falar que o excesso de vegetação vai contribuir para reter o fluxo das águas.
“Tem lugares em que até pode acontecer, mas não é o normal, porque na calha do rio não tem vegetação, vai ficar na margem”, afirma o engenheiro. “Tem que ver casos específicos. Como regra geral, não cabe, é muito perigoso fazer isso. Se tirar vegetação desestabiliza a margem”.

Piske salienta que, ao suprimir vegetação, haverá menos raízes segurando o solo, o que resulta em debarrancamento da margem. “Muita vegetação trava o escoamento, sim. Mas cortar as árvores porque elas seguram a correnteza é uma posição equivocada”, ressalta.
Também há impedimentos legais. O Código Florestal brasileiro proíbe o corte de vegetação em área de preservação permanente; só com uma boa justificativa para isso ser feito sem caracterizar crime ambiental.

O engenheiro cita que, quando houve a proposta de se plantar árvores na avenida Beira Rio, no trecho onde está uma academia para todas as idades, próximo ao pavilhão Maria Celina Vidotto Imhof, havia o temor de que este poderia ser um ponto que seguraria entulhos.
No entanto, os temores não se confirmaram. “Após a cheia não ficou entulho nenhum”, relembra.

Prefeitura não tem parecer concreto

Contatada pelo Município Dia a Dia para opinar sobre a sugestão do vereador Ivan Martins, a Prefeitura de Brusque informou que ainda não há um parecer concreto sobre o tema.

Em nota, o superintendente da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema), Cristiano Olinger, diz que ainda não há opinião definitiva “pois sabe-se que a mata ciliar tem sua importância no contexto ambiental, dando sustentação às margens do rio contra a erosão, diminuindo o livre acesso que facilita o despejo de resíduos no rio e melhorando também o micro clima da região, entre outros fatores”.

“Quanto ao fato de a retirada das árvores trazer benefícios no escoamento das cheias, é necessária a realização de um estudo mais detalhado para que seja possível avaliar se esta medida traria realmente um efeito significativo”, conclui Olinger.

 

 

 

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