Em 2001, a aposentada Maria Gevaerd, 70 anos, descobriu um câncer de mama. Sempre com os exames e, principalmente, o preventivo em dia, ela conseguiu detectar a doença no início, fez a cirurgia, onde retirou parte da mama, e após os cinco anos de tratamento com a medicação, foi considerada curada.
Vinte e quatro anos após o diagnóstico, ela é um exemplo para todas as mulheres que recebem a confirmação da doença e buscam ajuda na Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brusque.
Maria é voluntária na entidade há mais de 20 anos e, diariamente, faz a diferença na vida de dezenas de mulheres que estão em tratamento, passando por toda a angústia e incertezas que ela também já passou um dia.
“Quando o médico me deu a notícia do câncer de mama, eu disse: ‘nada na vida da gente é por acaso, e um dia eu vou saber o por que e para que eu tive a doença’. Nunca perguntei para Deus o motivo, apenas comecei a ajudar as pessoas”, conta.
Se hoje, receber o diagnóstico de um câncer assusta, no início dos anos 2000, como foi com Maria, era ainda mais aterrorizante. “Você fica sem chão. Depois vem todas as limitações pós-cirurgia, mas fui levando e, graças a Deus, hoje estou aqui, e sigo me cuidando e fazendo o acompanhamento”.
Na época, ela havia acabado de se tornar avó e, após a cirurgia e as sessões de radioterapia, decidiu que iria ajudar outras pessoas.
“Sempre gostei de ajudar. Muitos sabiam que eu tinha câncer, que estava em tratamento, e me procuravam para pedir informações, dicas, e eu naquela adrenalina toda, querendo ocupar a cabeça, comecei a ajudar”, diz.
O começo do voluntariado foi de forma particular, fora da Rede Feminina. Maria auxiliava pessoas que também enfrentavam tratamentos difíceis. “Eu pegava o meu carro, e levava as pessoas para fazer o tratamento em Blumenau, Florianópolis, até Curitiba eu fui.
Quando você tem câncer, você cria um mundo próprio e acaba se identificando com as pessoas, os outros pacientes se tornam uma família e você vai aprendendo, vai adquirindo conhecimento e, com isso, eu ia ajudando”.

História com a Rede
Maria começou a frequentar a Rede Feminina um tempo depois por incentivo de uma amiga, que também estava com câncer, e a convidou para participar. A partir de então, ela direcionou seu voluntariado para a entidade.
Continuou atuando como motorista, mas desta vez, levando as pacientes em tratamento da Rede. E até hoje, ela segue na estrada. Aos 70 anos, é uma das voluntárias motoristas e, frequentemente, acompanha as pacientes nesse momento tão difícil das consultas e exames em Blumenau.
Entre os pouco mais de 40 quilômetros entre Brusque e o Hospital Santo Antônio, o carro se torna um espaço seguro e de acolhimento para que as pacientes compartilhem suas experiências e seus medos, sem julgamento. Mas também é um lugar em que a esperança e o otimismo estão sempre presentes.
“Muitas vezes, as pacientes estão tristes, preocupadas. Eu estou ali com o meu ombro, dou espaço para chorar, mas também tenho o papel de animar, de ajudar elas a se levantar, então começo a brincar, falar bobagem, e quando vejo, elas já estão outras pessoas”, diz.
Além do transporte, as voluntárias também fazem o papel de acompanhantes, cuidam da parte logística de remarcações e trocas de exames, reduzindo ao máximo o tempo de espera no hospital.
Quando não está na estrada, Maria se dedica a fazer visita às pacientes em casa. “Também entro em contato com as mulheres que estão ausentes. Às vezes estou em casa, mando mensagem, ligo para saber se está tudo bem, conversar. E é tão bom. Elas se sentem acolhidas e quem acaba ganhando sou eu. Sou ajudada também”.
“A Rede é a minha vida”
A partir do momento que iniciou como voluntária da Rede, Maria não parou mais. Além de motorista, rapidamente foi se integrando em outras atividades, como o artesanato e a decoração. Também já atuou fazendo o acolhimento pós-diagnóstico.
“Quando o mastologista começou e tinha resultado de biópsia, eles me ligavam e eu vinha pra Rede para fazer esse acolhimento das pacientes que recebiam a notícia. É muito marcante esse primeiro abraço que ela recebe depois da notícia, e como eu já passei por isso, já faz mais de 20 anos, muitas acabam me vendo como exemplo, sabem que podem passar por isso também”.
Com uma história de mais de duas décadas dedicadas à Rede, também chegou a ser vice-presidente da entidade na gestão 2023/2024. “Eu contribuo no que eu posso. Hoje minha vida é isso aqui, é a Rede, porque estar aqui ajudando me faz bem”.
A voluntária, que já esteve como paciente, lembra que a prevenção é a chave para o sucesso do tratamento. “Mulheres, se previnam. A prevenção hoje é a cura. Façam o autoexame, e se perceberem que algo não está certo, procurem o quanto antes o ginecologista ou mastologista. E esse conselho é para o ano inteiro, não só durante o Outubro Rosa. Hoje estou aqui por causa da prevenção”.
