O tempo é algo curioso. Digo isso porque ontem estive em uma festa com pessoas que não via há praticamente 40 anos, desde que terminei o colegial. Claro que, ao olhar para o espelho, não percebemos que o tempo passou e deixou suas marcas. Entretanto, ao rever pessoas das quais nos recordamos ainda jovens noto o quanto cada uma mudou: Jorge (ou seria Carlos?), o garoto mais cobiçado da escola agora possui rugas e um olhar triste que em nada lembra o seu rosto ou o olhar que atraía as garotas, inclusive eu, quando jovem.

Sentada em uma cadeira um pouco distante de mim, reconheço minha velha amiga do colegial, a melhor que já tive em toda minha vida. Ao contrário de Jorge (ou Carlos, não me recordo exatamente), esses 30 anos que passaram tornaram Odete uma bela mulher de cabelos negros e olhos esmeralda. Seu jeito espontâneo e seu sorriso contagiante permanecem os mesmos da juventude, e embora nunca tenha sido uma das melhores alunas da sala, soube que se tornara uma excelente geriatra em uma cidade vizinha. Lembro-me de quando ia à sua casa para estudarmos juntas (Matemática, acho) e acabávamos falando dos garotos do colégio. Bons tempos aqueles…

Mas então noto que aquela não era Odete e reconheço o quanto o tempo mudou meus colegas, mas acima de tudo, me dou conta do quanto o tempo ME mudou. Embora me custe admitir com minhas próprias palavras, já não sou aquela jovem que tinha a memória invejável. Sou apenas mais uma pessoa de 60 anos com problemas de memória e vítima do tempo: essa coisa curiosa e, sobretudo, confusa.

 

Gabriela Schwamberger – 17 anos – Terceirão