Ex-Barateiro Futsal, Camilinha disputa sua primeira Copa do Mundo nos gramados

Lateral colecionou troféus em Brusque, mas logo começou a atuar nos campos e se consolidou nos Estados Unidos

Ex-Barateiro Futsal, Camilinha disputa sua primeira Copa do Mundo nos gramados

Lateral colecionou troféus em Brusque, mas logo começou a atuar nos campos e se consolidou nos Estados Unidos

Sete anos depois de ter deixado Brusque, onde conquistou diversos títulos e marcou incontáveis gols pelo Barateiro Futsal/FME, a lateral-esquerda Camila Martins Pereira, de 24 anos, disputará sua primeira Copa do Mundo, na França. Neste domingo, 9, a seleção brasileira estreia contra a Jamaica, no Grupo C, às 10h30, horário de Brasília.

Entre deixar as quadras brusquenses rumo ao campo do Kindermann, de Caçador, e chegar a uma Copa do Mundo, a jogadora conhecida como Camilinha passou por seis clubes. Enfrentou uma lesão grave, conquistou títulos, acumulou convocações, disputou uma Libertadores e faz uma dobradinha de seleção brasileira no elenco do Orlando Pride, dos Estados Unidos, com a melhor jogadora de todos os tempos: Marta.

Camilinha morou nas instalações oferecidas pelo Barateiro, no Jardim Maluche de 2009 a 2012. Estudou na Escola de Educação Básica (EEB) Dom João Becker e no colégio Honório Miranda. Conquistou o campeonato estadual sub-15 de futsal, no qual foi artilheira da competição com nada menos que 32 gols.

Além de campeã catarinense sub-15, Camilinha foi a artilheira, com 32 gols | Foto: Arquivo pessoal

A facilidade de adaptação na vida da atleta existe em suas várias mudanças nos últimos anos e também dentro de campo. É uma coringa para o Pride e para a Seleção. Começou como meia no Kindermann, em Caçador. Ao longo da carreira, também atuou nas duas laterais e, recentemente, como atacante e volante. Na Copa, deverá ser mais utilizada como lateral-esquerda.

No período atuando pelo Barateiro, colecionou títulos em competições como Olímpiada Estudantil Catarinense (Olesc), Joguinhos Abertos, Jogos Escolares Brasileiros, entre outras. “Foi um dos lugares onde acumulei mais títulos… Foram alguns (risos), não vou saber falar quantos foram exatamente”, confessa, na entrevista concedida a O Município, à qual respondeu durante a preparação da seleção, em Portimão, Portugal.

Brusque

“Eu jogava pela Malwee, em Jaraguá do Sul, e então recebi o convite do Barateiro e os de outras equipes também. Minha família e eu achamos melhor que eu fosse para Brusque. Fomos aí, a Daniela [Civinski, diretora do clube] nos recebeu, e morei com outras atletas”.

“Tive um aprendizado muito importante, porque foi a primeira vez saindo de casa, indo morar sozinha. Conheci muita gente aí, com habilidades diferentes. O pessoal do Barateiro me deu muita confiança, todo respaldo que uma menina de 15 anos precisava para se adaptar e ficar bem mesmo com a distância entre ela e a família. Graças a eles o início da minha trajetória foi brilhante.”

“Eu fiz uma história muito linda em Brusque, convivi com pessoas ótimas aí. A Carolina Bezerra [coordenadora do Barateiro] e a Daniela Civinski, dando continuidade a um trabalho que jamais abandonaram é muito importante. Outras atletas, como eu, têm o sonho de chegar onde eu cheguei, no campo e no futsal. Este trabalho valoriza estas meninas, faz com que elas acreditem em seus potenciais, em seus sonhos. Sou muito grata.”

Do salão à grama

“Eu cheguei a jogar pela seleção catarinense enquanto morava em Brusque, e isto me colocou em contato com o técnico do Kindermann na época. Então, acabei me transferindo para lá. Foi uma transição importante, porque no Kindermann a mudança da quadra para o campo foi aos poucos. A técnica aprendida em Brusque facilitou na adaptação. Grandes jogadores de futebol começaram no futsal.”

Atleta foi uma das 23 convocadas ao Mundial | Foto: CBF/Divulgação

Houston, nós temos um problema

“Dois anos depois de chegar ao Kindermann, fui para a Ferroviária, de Araraquara (SP), onde fiquei entre três e quatro meses. Então, tive uma passagem de cinco meses no Houston Dash, em 2015. Foi uma experiência incrível, o nível do futebol é muito alto na liga americana [National Women’s Soccer League (NWSL)].

Mas não foram meus melhores meses, não fui muito bem. Voltei ao Brasil sabendo que teria que voltar e fazer melhor. Aprendi muito, absorvi muitas coisas boas e sabia que precisava melhorar.”

Tiradentes e Ferroviária

Na volta ao Brasil, que durou de 2015 a 2016, Camilinha atuou pelo Tiradentes, do Piauí, que disputa a Série A2 do Campeonato Brasileiro, e teve uma segunda passagem pela Ferroviária.

“Foi uma passagem gostosa, vivi uma outra realidade, diferente, sem apoio, com tudo mais difícil. Algumas condições que havia lá não deveriam ser normais. Vi muitas dificuldades, muita batalha de todos envolvidos. Fomos longe enquanto estive lá, a passagem rendeu muito para mim.”

“A Ferroviária acabou me abrindo muitas portas. Fui convocada para a seleção e tive a chance de voltar aos Estados Unidos.”

Camilinha vestiu a camisa 2 jogou diversas vezes na Arena Brusque | Foto: Arquivo pessoal

Orlando Pride

Em dezembro de 2016, o Orlando Pride contrata Camilinha para a temporada 2017 da NWSL. Dois anos depois da experiência no Houston Dash, a polivalente jogadora disputou 24 partidas, marcou quatro gols e deu cinco assistências. Mas, em 30 de setembro de 2017, uma grave lesão no joelho direito a tirou de ação por nove meses.

“Fiz diferente quando fui para o Orlando, fiz melhor do que no [Houston] Dash. Já tenho um carinho do pessoal de lá. Por onde passamos, dá para ver que as pessoas me conhecem, reconhecem o trabalho. Gosto muito do Orlando, me sinto em casa e pretendo continuar.

Foi um período difícil o da lesão, mas deu tudo certo. Todo o suporte do Orlando Pride, dos fisioterapeutas, e inclusive da CBF.”

Em 2019, Camilinha jogou seis partidas das oito do Orlando Pride, e em nenhuma atuou durante os 90 minutos. A última foi em 11 de maio. A equipe enfrenta uma péssima fase, e está na lanterna da competição, com dois empates e seis derrotas em oito jogos. Para piorar, ficará desfalcada de Camilinha e Marta, pois a NSWL não para em função da Copa do Mundo.

Em ação nos treinos do Brasil em Portugal | Foto: CBF/Divulgação

Libertadores

Tendo entre os objetivos de sua carreira da disputa por uma Libertadores, Camilinha conseguiu a oportunidade com um empréstimo ao Iranduba, de Manaus, enquanto a temporada estadunidense não começava. A edição de 2018 da Libertadores feminina foi realizada toda na capital amazonense, de novembro a dezembro.

A equipe caiu nas semifinais, nos pênaltis, contra o Atlético Huíla, da Colômbia, que se sagraria campeão em final contra o Santos. Na disputa com os chutes da marca da cal, Camilinha foi a única que marcou para a equipe brasileira. O Iranduba também nos pênaltis, garantiu o terceiro lugar, contra o Colo Colo, após 1 a 1 no tempo normal. A ex-Barateiro não decepcionou e converteu sua cobrança.

“Eu nunca tinha disputado a Libertadores, sempre quis. Quando veio a proposta do Iranduba, decidimos, junto com meu empresário, que seria importante participar. Não teria motivos para não aceitar. Manaus acolhe bem, me senti muito bem lá.”

Em 2011, Barateiro conquistou os Jogos Escolares Brasileiros; Camilinha, à direita na foto, exibe sua medalha | Foto: Arquivo pessoal

Marta

“É uma felicidade muito grande compartilhar momentos com ela, conviver com uma mulher que se tornou um ícone tão grande no futebol e fora dele. Admiro muito a Marta e busco aprender tudo com ela. Acredito que ela só tem a evoluir cada vez mais, está no sangue dela ser cada vez melhor. Conviver com uma mulher assim nos faz querer ser e estar entre as melhores.” 

A Copa mais vista

Nunca uma Copa do Mundo feminina terá tanta visibilidade no Brasil quanto a de 2019. A Rede Globo transmitirá todos os jogos da seleção brasileira na França, e na TV fechada, o SporTV transmitirá os que não envolvam o Brasil, inclusive com comentaristas mulheres. Também será possível assistir às partidas na Band. E a edição de 2019 da Copa é a primeira com o álbum de figurinhas oficial da Panini sendo vendido no Brasil. Camilinha está no álbum.

“Não tenho minha figurinha ainda. Estamos em preparação em Portugal. Assim que eu achar [os envelopes com figurinhas], vou comprar, mas provavelmente minha família já deve ter algumas.

Sim, é a Copa com mais visibilidade, mas não comentamos quase nada sobre isto. Não é com isso que devemos nos preocupar no momento. O importante é nossa preparação. Mas sentimos, sim, que é uma chance de mostrar que o futebol feminino vale a pena, que tem que ter visibilidade sim, que é grande. Há estes dois lados. De qualquer forma, estamos mais preocupadas em fazer nossa parte e mostrar para o Brasil quem nós somos. Fica a critério do Brasil acompanhar, gostar e se apaixonar.”

Brasil na Copa
A seleção realizou uma preparação no estádio Municipal de Portimão, em Portugal. Nesta quarta-feira, 5, a delegação viajou a Grenoble, no sudeste da França, onde enfrenta a Jamaica na estreia. Em 13 e 18 de junho, o Brasil, que está no Grupo C, enfrenta, respectivamente, Austrália e Itália. Os dois melhores de cada grupo passam às oitavas de final, além dos quatro melhores terceiros colocados.

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