Fui convidado mais uma vez para meter minha colher num assunto que não é exatamente da minha especialidade: DST. Já inicio me justificando ao dizer que é obrigação de qualquer médico entender ao menos o básico sobre esta doença.

A Sífilis por muito tempo foi um importante problema de saúde pública mundial. Com a descoberta da Penicilina, até hoje o tratamento padrão para esta doença, praticamente todos os pacientes que procuravam assistência médica eram curados com relativa facilidade, dependendo do estágio da enfermidade. Hoje, os antibióticos tem sua comercialização restrita (ou deveriam) mas, até bem pouco tempo, eram comercializados livremente. Esta nova legislação não se deve a nenhum “lobby” médico para obrigar os pacientes a consultarem, mas um critério para evitar o desenvolvimento de resistência de bactérias aos antibióticos pelo seu uso abusivo (quando desnecessário) ou incorreto (doses inadequadas). Lembramos que outros microorganismos como fungos (micoses) ou vírus (gripes) não sentem nem cócegas com antibióticos.

Ocorre que muitas pessoas, bisonhamente, aplicavam a dolorida Benzetacil para tratar gripes, sem nenhum resultado sobre estas viroses respiratórias, mas acabando por tratar uma sífilis que eles (ou elas) não sabiam ser portadores(as). Atiravam no que viam e acertavam no que nem imaginavam ter. Com isso, mesmo que por vias tortas, os pacientes sifilíticos praticamente sumiram dos consultórios por algumas décadas.

Agora estamos vivendo um novo ciclo desta patologia. Não com a abrangência de antigamente mas, ainda assim, com importante relevância. Relevância porque toda uma geração de médicos e pacientes não se familiarizou com esta doença, e a gente só diagnostica e dá importância às doenças que conhecemos. E complica ainda mais porque seu quadro clínico é dividido em três fases distintas, que somem com a mesma velocidade com que aparecem, dando impressão de cura espontânea.

Portanto, seja Sífilis, Hepatite “B”, AIDS ou HPV, ao final voltamos para a mesma fórmula mágica: a gloriosa camisinha é a solução para quase todos os problemas em matéria de DST. Se bem utilizada, é claro!

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Jonas K. Sebastiany  – Médico do Trabalho