Fechamento de empresas tradicionais de Brusque surpreende clientes
Empresários falam em queda nas vendas, altos custos com aluguel e novos investimentos
Instabilidade econômica, mudança de estratégia e novos investimentos são alguns dos fatores apontados por empresários de Brusque para o fechamento de empresas tradicionais.
Após a família atuar por 50 anos no comércio de aviamentos, Sérgio Gianesini, 54, resolveu encerrar as atividades da Loja Morelli. A decisão exigiu um ano de preparação do empresário. Ele trabalhou por 18 anos na empresa. “Gosto muito, cheguei a trabalhar com meu avô, minha mãe”.
A previsão de Gianesini é manter o ponto em atividade até o início de abril, dependendo da liquidação do estoque da loja. Cinco pessoas chegaram a trabalhar simultaneamente no estabelecimento. Hoje, ele atua sozinho.
Nos últimos dias, a notícia causou surpresa entre os clientes da tradicional loja de aviamentos, uma das poucas atuantes no Centro da cidade. Entre os motivos indicados por ele para a decisão estão a redução das vendas, no movimento do entorno e nos custos com aluguel.
O baixo consumo também é indicado por Edson Zambonetti para o fechamento do Auto Posto Jardim. A empresa existia desde 1976 e foi adquirida por ele há 12 anos. O local chegou a empregar dez pessoas e, segundo ele, não tinha um retorno financeiro adequado, mas era mantido por compromissos contratuais.
Ele afirma que é difícil estabelecimentos individuais, fora de uma rede, manterem a competitividade. “Arrisco a dizer que os postos pequenos pagam para trabalhar. Hoje, os postos ganham dinheiro ou se sustentam pelas lojas de conveniência”.
Custo invisível
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Brusque, Fabrício Zen, o panorama é resultado do Custo Brasil. Ele acredita que as mudanças no mercado tenham relação direta com o aumento do número de microempreendedores individuais.
Mesmo com a recuperação gradual da economia, muitos empresários optam por mudar o foco de investimentos devido altos custos de operação, pouco retorno dos impostos gerados e a oscilação do mercado, avalia Zen.
Segundo o presidente, outro fator que tem influenciado é a mudança de dinâmica natural de mercado. De acordo com ele, com o incremento de concorrência em todos os setores, muitas empresas acabam sofrendo.
“Precisamos rever nossos custos todos os dias. O empresário que coloca seu tempo e dinheiro no negócio, vê que não vale a pena trabalhar e dedicar tantas horas com margens tão pequenas”, afirma.
O presidente ressalta a atuação da CDL na qualificação e atualização dos lojistas locais. Segundo ele, com as ferramentas de apoio fornecidas em palestras, cursos e atividades internas, é possível melhorar a capacidade de reação das empresas locais.
Recuo estratégico
Para o subgerente de uma das três unidades da Multisom em Blumenau, Reinaldo Lima, o fechamento filial de Brusque foi um “recuo estratégico”. A rede atuou no município por cerca de dez anos e empregava uma média de oito pessoas. As operações encerraram oficialmente no início deste mês.
A decisão, diz Lima, é uma adaptação da rede. Uma reabertura no futuro não é descartada. Além da unidade de Brusque, uma das quatro lojas de Blumenau fechou em janeiro deste ano. Ela ficava no Shopping Park Europeu. Neste momento, afirma, não há previsão de fechamento de novas unidades na região.
Segundo Lima, o panorama econômico e a queda no consumo influenciaram na decisão. “Infelizmente o comércio está defasado. O giro tem sido bem reduzido e manter funcionários e custos com aluguel não é tão barato”.
O Banrisul também encerrou as atividades em Brusque. Operava no município desde 2010. O fechamento já era cogitado desde o ano passado, segundo o Sindicato dos Bancários.
Desde fevereiro, a agência está fechada. Equipamentos e móveis já foram retirados do prédio. A reportagem contatou a assessoria de comunicação do banco, mas não teve um posicionamento oficial até o fechamento desta edição.
Saldo positivo
Como publicado por O Município neste mês, dados fornecidos pela Junta Comercial do Estado de Santa Catarina (Jucesc) revelam um crescimento do número de empresas constituídas em Brusque nos últimos anos, assim como uma melhora no saldo resultante do número de empresas abertas em relação ao número de empresas fechadas.
Segundo o relatório, foram constituídas 1.917 novas empresas em Brusque no ano passado, e 1.678 deram baixa, ou seja, foram oficialmente encerradas.
O saldo positivo é de 239. No ano anterior, em 2016 apesar de ter se registrado também crescimento no número de empresas abertas, o saldo final havia sido de 246 empresas fechadas a mais do que as constituídas.
Os dados são comemorados pelos empresários, pela prefeitura e também pelo governo do estado, sobretudo porque o número de empresas fechadas caiu em 2017.
Microempreendedores respondem pela maior fatia de empresas abertas em Brusque nos últimos anos. Só no ano passado foram 1.492 novos negócios, de acordo com os dados da Jucesc.