Fila de espera para cirurgia bariátrica pode chegar a cinco anos em Brusque

Município tem 55 pessoas esperando para realizar o procedimento pelo SUS, governo do estado libera, em média, 10 cirurgias por ano

Fila de espera para cirurgia bariátrica pode chegar a cinco anos em Brusque

Município tem 55 pessoas esperando para realizar o procedimento pelo SUS, governo do estado libera, em média, 10 cirurgias por ano

Após pouco mais de um ano e meio de espera, a merendeira Marlúcia Rodrigues de Oliveira, 47 anos, finalmente conseguiu se submeter à cirurgia bariátrica – redução do estômago – pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O procedimento foi realizado no dia 16 de janeiro, no Hospital Santo Antônio, em Blumenau.

A princípio, o tempo de espera de Marlúcia na fila pela cirurgia parece grande, no entanto, se comparado com os números repassados pela Secretaria de Saúde de Brusque, a espera foi rápida, já que a fila em Brusque pode chegar a até cinco anos. “Até 31 de outubro de 2014, 11 pacientes fizeram a cirurgia bariátrica pelo SUS no ano, e 55 ainda aguardam em fila de espera”, afirma a secretária de Saúde, Ana Ludvig.

De acordo com ela, a média de cirurgias autorizadas pelo governo do estado em Brusque é de 9 a 10 por ano. “Esse número de procedimentos realizados vem aumentando nos últimos anos conforme a disponibilidade técnica e profissional dos hospitais credenciados pelo estado para esta especialidade. No nosso caso, o hospital de referência é o Santo Antônio, em Blumenau”, diz.

A secretária destaca que esta especialidade cirúrgica é de responsabilidade do estado, por isso, deve-se respeitar a pactuação de cirurgias de alta complexidade definidas por ele. “Cabe ao município o atendimento inicial, exames, transporte do paciente para as consultas pré-operatórias com o cirurgião, bem como transporte para cirurgia. O que é preciso entender é que cirurgias bariátricas não são, em sua maioria, procedimentos considerados de urgência, e devem ser o último recurso utilizado para o combate à obesidade”, explica.

Ana afirma que o município tem urgência em ampliar a cota, não apenas de bariátrica, mas de todas as especialidades. “O estado alega geralmente a falta de profissionais, de estrutura física dos hospitais, já que esta cirurgia exige que haja leito de UTI disponível, e falta de recursos financeiros. Estamos lutando pela ampliação das cotas de todas as especialidades, de média e alta complexidade, para que as filas sejam menores, junto aos órgãos estaduais, que regulamentam esta distribuição de cotas de cirurgias e procedimentos aos municípios”.

Em 2013, o município realizou sete cirurgias, já em 2014 foram 11. Em dois anos, apenas 18 pessoas conseguiram fazer o procedimento. Ana ressalta que o processo para conseguir a autorização da cirurgia é longo. “É um processo longo até chegar ao momento da cirurgia, pois demanda um acompanhamento multiprofissional desde endocrinologista, nutricionista, psicólogo, entre outros, dependendo de cada caso”.

“Estou me sentindo ótima”

Marlúcia foi para a cirurgia pesando 124 kg. Ela recebeu a orientação de seu endocrinologista de que deveria passar pelo procedimento porque o sobrepeso já estava gerando outros problemas de saúde. “Eu estava com problemas de coluna, pressão alta e o diabetes estava muito alto. Antes da cirurgia, meu diabetes estava em 110, depois da cirurgia passou para 73”, conta.

A merendeira realizou todo o acompanhamento pré-cirúrgico em Brusque. “Todos os exames eu fiz pelo SUS de Brusque. Fui muito bem atendida, e agora os exames pós-operatório também estou fazendo por aqui”.
Antes de fazer a redução do estômago, Marlúcia tentou emagrecer de diversas formas. “Fiz vários tratamentos para emagrecer, tomei muitos remédios, fiz acompanhamento com nutricionista e nada resolveu. Agora, 40 dias depois da cirurgia estou começando a emagrecer. Estou muito feliz com o resultado”, diz.

Marlúcia já perdeu 20 kg, e com o tempo, espera eliminar, pelo menos, mais 30 kg. “Tenho 1,63 metros, então o meu peso ideal seria 63 kg, mas o médico disse que se eu chegar entre 65 kg e 70 kg, já está muito bom. Espero muito conseguir”.

Ainda em recuperação, Marlúcia afirma que nunca se sentiu tão bem. “Estou me sentindo ótima. A autoestima já mudou. A pessoa gorda é muito discriminada na sociedade, sempre tem alguém que diz que você não passa aqui porque é gorda, não pode sentar aqui porque vai quebrar a cadeira, senti muito isso. Teve um tempo que eu sofri muito. Nós já não estamos bem com o peso, e por isso, achamos que todo mundo está olhando, julgando”.

Após a cirurgia, até as dores na coluna minimizaram. “Depois da cirurgia, não precisei mais tomar os remédios para coluna. Não sinto mais dor, estou caminhando muito melhor. Antes, eu vivia a base de anti-inflamatório”, lembra.
Apesar da melhora significativa na qualidade de vida, Marlúcia sabe que para conseguir os resultados desejados, precisa ainda de muito esforço e dedicação. “Após a cirurgia, tem uma série de cuidados que preciso tomar. Ainda não posso erguer peso, fazer faxina, nada pesado. Já estou podendo comer purê de batata com carne moída, peixe grelhado, frango. Só comidas leves. Claro que comer é bom, mas eu sei que agora, as coisas mudaram para mim, e não posso mais comer como antes”.

Ela afirma que a redução na quantidade de comida não a deixa com fome. “Não sinto muita fome. Se como uma banana, já estou saciada. Meu estômago reduziu de 1000 ml para 30 ml, então não é como antes. Meu metabolismo já está acostumado. Sigo todas as recomendações da nutricionista, faço acompanhamento com psicólogo e tenho certeza que vou conseguir chegar a minha meta. Estou muito feliz, me arrependo por não ter feito a cirurgia antes”.

Cirurgia é complexa

O médico da Clínica Vidar, de Blumenau, especialista em cirurgia do aparelho digestivo e cirurgia bariátrica, Felipe José Koleski, afirma que para o paciente realizar o procedimento é preciso seguir alguns critérios. “O paciente pode ser operado quando tem o Índice de Massa Corporal (IMC), aquela fórmula que é peso x altura², maior do que 35, associada com comorbidade, que é alguma doença agravada pela obesidade como pressão alta, diabete, colesterol, ou aqueles pacientes que tem IMC acima de 40, mesmo sem doença associada”, explica.

O especialista também destaca que a cirurgia não pode ser feita em pacientes que estão com sobrepeso há pouco tempo. “Tem que ter uma obesidade estabelecida por, pelo menos, cinco anos. Não é porque ficou obeso de um ano para o outro que se faz a cirurgia. Primeiro, tem que ter a tentativa clínica de emagrecimento sem sucesso, comprovada, com o relatório do outro médico que tentou tratar”.

Segundo ele, na maioria dos casos, os pacientes são encaminhados à clínica por outros especialistas. “Muitas vezes os pacientes vêm encaminhados do cardiologista, endocrinologista, do ortopedista ou do próprio clínico geral. Tratamos a obesidade grave, que é aquele paciene que tem obesidade e doenças agravadas pela obesidade, chamado de obesidade mórbida”.

O médico afirma que existem três tipos de cirurgia de redução do estômago: a que a capacidade gástrica é reduzida através de uma banda de silicone; a que o estômago é ligado ao jejuno e a que é feita a exclusão de uma parte do estômago. “A cirurgia que diminui o tamanho do estômago é a mais procurada. O tipo de cirurgia é uma decidida após uma discussão entre médico, paciente e a análise do quadro clínico do paciente”.

O procedimento leva em torno de uma hora, mas o médico destaca os cuidados anteriores e posteriores à cirurgia. “Obrigatoriamente o paciente tem que passar por uma psicóloga, por nutricionista, fazer exames para avaliar o risco pré-operatório, para ver se a cirurgia pode ser feita, se tem algum risco que contra-indique. A cirurgia é feita por videolaparoscopia, que é o procedimento em que se faz os cortes pequenos, dependendo da profissão do paciente, o retorno ao trabalho leva de 15 a 60 dias”.

O médico também destaca que o resultado é adquirido aos poucos. “A cirurgia é só uma etapa do tratamento. Operamos o estômago do paciente, não a cabeça. A obesidade é uma doença crônica e incurável, ela tem tratamento através da cirurgia, mas é apenas uma etapa do tratamento. É preciso continuar com o acompanhamento e seguir tudo à risca, porque senão corre o risco de voltar a ficar obeso. O paciente tem que entender que não vai sair da sala de cirurgia magro, é um processo. Isso exige do paciente uma dedicação importante, tem que dar o seguimento médico necessário para chegar ao resultado final”, diz.

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