João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Gazeta Brusquense, um crime horroroso: fim da tragédia da Nova Itália

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Gazeta Brusquense, um crime horroroso: fim da tragédia da Nova Itália

João José Leal

O crime, até então o mais bárbaro ocorrido em Brusque, tinha sido praticado na manhã de 17 de janeiro, um domingo, de 1926. Já vimos que, de pronto, o autor foi identificado, preso, interrogado e o processo devidamente instruído. A celeridade da justiça daquela época, hoje, parece incrível. Pois, no dia 3 de março, menos de 60 dias depois, o acusado Carlos Noldin tinha enfrentado o julgamento implacável do tribunal do júri, que recebe o adjetivo de popular, mas que, na verdade, só tem assento para a elite, quando muito, para cidadão da classe média.

Na edição de 7 de março, a Gazeta Brusquense, único jornal da cidade, que havia publicado extensas reportagens sobre o assassinato por decapitação de Luiz Minella, publica mais um texto de louvor à justiça e de severa recriminação ao acusado do sinistro latrocínio. Começa dizendo que o “Tribunal do Jury, numa justa sentença, condennou Carlos Noldin a 30 annos de prisão cellular e marcou o fim esperado na tragédia da Nova Itália”.

Para o jornal, Noldin era o cruel personagem da “sanguinolenta tragédia que vai perdurar no sentimento religioso do nosso povo”. O perfil criminográfico, retratado de forma apaixonada pelo jornalista, não perdoa Noldin, chamado de assassino ingrato, que levantou contra si o ódio da população por ter matado seu amigo para roubar. E a Gazeta logo procura justificar o sentimento de revolta popular, esclarecendo que não se trata do “ódio aviltante, mas do ódio justo e digno daquelles que se revoltam contra os criminosos bárbaros levados ao crime pelos instintos ferozes do homem brutal e sem sentimento humano”.

Diante de um crime tão bárbaro, que realmente devia ter chocado a opinião pública de uma, então, pequena Brusque de poucos mil habitantes, a Gazeta continua a desfiar seu rosário de execração contra o já condenado Carlos Noldin, um assassino tão perverso que “nunca conseguiu levantar, nos corações mais puros e sentimentalistas, um syntoma siquer de commiseração devido ao seu cynismo alvar estampado na sua face”.

Termina a Gazeta para dizer que o Tribunal do Júri colocou um ponto final na tragédia da Nova Itália com um veredicto de inquestionável justiça. Condenou “o ingrato assassino Carlos Noldin ao destino que merece o homem despido que tem por alma os instintos thraidores e perversos dos felinos”.

A prisão, além dos seus muros, cria uma intransponível cortina de silêncio e esquecimento em torno dos seus encarcerados. Carlos Noldin foi para a prisão, mas não sabemos o que aconteceu com a sua vida.

E, Brusque, diz o Globo Repórter, é hoje a cidade mais segura do país.

Nota: A Gazeta Brusquense pode ser consultada, em sua versão digitalizada, na Casa de Brusque.

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