Na noite desta terça-feira, 10 de setembro, o Casarão Garibaldi finalizou e fez a entrega de uma obra em grafite que homenageia três industriais de empresas centenárias de Brusque: Carlos Renaux, Eduardo von Buettner e Gustavo Schlösser. Mais do que valorizar o passado, foi possível reviver grandes momentos da história do município, já que o evento foi prestigiado pelos bisnetos dos empresários: Astrid Renaux, Herbert Pastor e Marcus Schlösser. Além disso, a professora Rosemari Glatz fez uma explanação sobre a colonização européia e o inicio da atividade industrial na região.

“O Casarão Garibaldi é um lugar que transpira cultura e valoriza a história da cidade. Por isso, quando o arquiteto Luiz Otávio Trainotti sugeriu um grafite na parede do nosso bar, o objetivo era buscar uma ilustração de acordo com o conceito da casa. Ao mesmo tempo iniciou o processo de venda da fábrica Schlösser, seguido pela Renaux. Então surgiu a ideia de homenagear os fundadores das três grandes empresas centenárias do município”, explica o proprietário do Casarão Garibaldi, Jonathan Anthony Casagrande.

Segundo ele, o projeto superou as expectativas e impressiona quem passa pelo local. “Muitas pessoas conhecem os três industriais apenas pelo nome. E quem não conhece fica curioso, quer saber da história. Então o Casarão Garibaldi cumpre uma de suas missões , que é valorizar a história da cidade através da gastronomia”, enfatiza.

O artista plástico escolhido para eternizar a história em pintura foi Wilson Nenen, carioca, que há 14 anos mora em Brusque. Diante da responsabilidade e da proporção do projeto, ele escolheu uma linha menos convencional do grafite e substituiu o spray pelo pincel na elaboração da obra. “O grafite é libertário e não tem uma técnica exclusiva. A base geralmente é o spray, mas como identifiquei personagens, decidi utilizar a forma mais clássica, através do pincel”, revela.

Para compor o projeto, Wilson Neném buscou inspiração em fotos antigas e a produção levou quase dois dias para ser finalizada. Agora as pesquisas continuam, na tentativa de identificar e reproduzir na parede a assinatura de cada industrial.

 Emoção pelo reconhecimento

Uma carta escrita que nunca foi enviada ou um piano lançado ao mar são histórias que os livros não contam, particularidades vividas pelos descendentes das famílias Renaux, Buettner e Schlösser. No Casarão Garigaldi, mais do que partilhar a mesma mesa, Astrid Renaux, Herbert Pastor e Marcus Schlösser também dividiram sorrisos e lembranças, enquanto preenchiam algumas lacunas da própria história.

“Eu me sinto muito bem por estar aqui e passar adiante o que eu sei. É pouco, mas sempre ajuda”, conta Astrid, bisneta de Cônsul Carlos Renaux.

Herbert Pastor também estava emocionado com a homenagem. “Nos últimos 10 anos Brusque não deu muita importância e raríssimas vezes se mencionou o nome das três grandes empresas centenárias da cidade, que foram fundamentais para o desenvolvimento econômico do município, sobretudo nos 100 primeiros anos. Estou feliz pelo reconhecimento de hoje”, observa.

Para Marcus Schlösser, o diálogo sobre o passado foi o ponto alto da noite. “Partilhamos emoções e esclarecemos alguns pontos desta história. É uma conversa que soma. Espero que a iniciativa possa continuar e que aconteçam mais encontros como este”, avalia.

Toda noite de terça-feira, no Casarão Garibaldi, é realizado o encontro do grupo Contraponto. O evento, que surgiu em uma reunião despretensiosa entre amigos, começou a se consolidar como um ambiente para discutir cultura, moda, lazer, entre outros assuntos do cotidiano. A premissa é simples: respeito para ouvir e ser ouvido. Não há restrição de tema e nem cobrança de entrada. Apesar de a cozinha estar fechada, o bar serve uma carta limitada bebidas com preço promocional, já que a ideia é mesmo estimular o diálogo e a reflexão.

História centenária

Cônsul Carlos Renaux chegou ao Brasil em 1882 e se instalou em Blumenau, onde trabalhava como caixeiro em uma venda. Depois se tornou representante e atendia os municípios de Brusque e Gaspar, até comprar a empresa, em 1892.

“O que fez ele prosperar foi o estudo. Trabalhou durante três anos em banco na Alemanha e, aqui na região, foi pioneiro em adquirir produtos agrícolas e pagar por eles, quando a maioria das pessoas ainda negociava tudo na base da troca”, ensina a professora Rosemari Glatz.

Entre as empresas centenárias, a segunda a se instalar em Brusque foi a Buettner, também no fim do século XIX. Inicialmente, o empreendimento não era uma indústria têxtil, mas uma venda de varejo que comercializava produtos vindos do Rio de Janeiro. Após a morte de Eduardo von Buettner, a viúva e seus oito filhos deram sequência ao negócio, comprando teares usados e iniciando as atividades de fiação.

Por fim, foi fundada a Schlösser. O patriarca da família chegou ao Brasil já contratado pelo Cônsul Carlos Renaux para trabalhar como tecelão, até seguir os passos de seus antecessores e abrir sua própria empresa. “Hoje, a indústria têxtil corresponde a 60% dos empregos de Brusque e região e mais de 50% da produção de riqueza. E isso se deve ao conhecimento dos colonizadores, vindos de diversas regiões da Alemanha. É para estes três industriais e para muitos outros que devemos tudo o que somos”, salienta Marcus Schlösser, que também é presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Brusque.