Grupo Escoteiro de Brusque completa 60 anos de história preparando jovens para a vida

Movimento prevalece baseado na vida ao ar livre, desenvolvendo princípios de respeito, autonomia e trabalho em equipe

Grupo Escoteiro de Brusque completa 60 anos de história preparando jovens para a vida

Movimento prevalece baseado na vida ao ar livre, desenvolvendo princípios de respeito, autonomia e trabalho em equipe

O escotismo foi criado na Inglaterra em 1907 e, rapidamente, se espalhou por todo o mundo. O movimento é, por essência, voltado para o público jovem, e também feito por eles, com o auxílio de adultos voluntários. Em 1960, diversas famílias se uniram para a fundação do Grupo Escoteiro Brusque (GEB), depois de outras duas iniciativas que duraram pouco na cidade. A prefeitura, na época, incentivou a iniciativa.

Desde então, o movimento na cidade envolveu várias famílias, mudou de sede, desenvolveu vários jovens e ajudou a construir a sociedade brusquense, chegando a 60 anos de atividades nesta sexta-feira, 29.

Primórdios do movimento em Brusque

O Grupo Escoteiro Brusque foi oficialmente fundado em 29 de outubro de 1961, após uma ideia lançada por Marieta Schaefer, segundo documentos da época. Em terras do marido de Marieta, João Antônio Schaefer, conhecido como doutor Nica, foi construída a primeira sede com material de construção remanescentes das festividades do Centenário de Brusque.

Márcio fez sua promessa no dia 29 de outubro de 1961 | Foto: Arquivo pessoal

Um dos primeiros jovens brusquenses a fazerem sua promessa escoteira foi Márcio Belli, e ele foi o primeiro chefe que nasceu no grupo. O empresário de 74 anos guarda várias lembranças e ensinamentos importantes daquela época, que o acompanham durante a vida.

“Na primeira sede, tinha quatro salinhas, uma para cada patrulha, além da sala de chefia e outra maior com uma mesa de tênis de mesa. Ali, era o lugar onde a gente se reunia. Naquela época, exploramos os morros do Bateas, o Spitzkopf. Mas, além disso, a gente teve uma base, uma orientação, na época certa. Meus dois filhos também participaram. O escoteiro é solícito, educado, tem que auxiliar as pessoas. Uma vez escoteiro, sempre escoteiro”.

Desde os primeiros anos, a atuação do GEB foi intensa na comunidade e também em atividades distritais, regionais e mesmo nacionais. Márcio recorda que os escoteiros eram muito procurados para assessorar eventos em sua época e conhecidos pelo pioneirismo.

Grupo sempre participou dos desfiles na cidade, este na abertura dos Jogos Abertos em 1965 | Foto: GEB/Arquivo

“A gente esteve na primeira Festa da Uva, em Videira, na década de 1950. Fomos para lá de ônibus, de Blumenau até Rio do Sul, depois até Curitibanos. Para Videira, fomos em cima de uma caçamba, mas a festa acabou sendo adiada por causa da chuva. Fiquei lá sendo o chefe da gurizada, e o Clube de Mulheres ajudou a gente uma semana. As organizações nos procuravam muito para ajudar no cerimonial. Éramos os primeiros nos desfiles cívicos, a gente visitava o Rotary, o Lions para falar sobre nosso movimento”.

Márcio foi homenageado há poucas semanas pela União dos Escoteiros do Brasil pelos serviços prestados | Foto: Bruno da Silva/O Município

As dificuldades de infraestrutura na antiga sede localizada na rua João Bauer, foram tornadas públicas através da imprensa em 28 de março de 1980. Um texto publicado pelo então chefe do GEB, Celso dos Santos, foi bastante divulgado na comunidade e, em 30 de novembro de 1982, foi lançada a pedra fundamental da nova sede do Grupo Escoteiro Brusque, em terreno doado pela prefeitura na gestão de Alexandre Merico.

Antiga sede, que ficava próximo à rua João Bauer, começou a ser invadida por barro que vinha de construção de loteamento | Foto: Arquivo pessoal

Ensinamentos para a vida

A sede, que fica na rua Dr. Penido, no Centro, foi inaugurada em 1984. Com uma casa própria e estruturada, o GEB passou a atender cada vez mais crianças e jovens, do ramo lobinho, escoteiro e sênior.

Inauguração da nova sede, em 1984, deu um impulso para o GEB | Foto: GEB/Arquivo

Antônio Clóvis Gartner, 53 anos, lembra bem desse período de transição. Ele entrou no movimento por acaso, após convite do amigo Alexandre Visconti. Ele começou já como sênior, aos 16 anos, e construiu uma longa trajetória no GEB. Enquanto a sede era construída, Clóvis recorda, as reuniões aconteciam em locais improvisados, como no pátio do terreno ou dentro do prédio onde é a Unifebe.

“Quem iniciou naquela época foi se tornando chefe na sequência. Chegamos em um momento de mudança, o grupo estava sendo resgatado, se reerguendo, não tinha uma sede própria. A gente até ajudava a carregar material, organizar o pátio na época. Era uma situação meio precária, mas, com a finalização do novo prédio, passamos a ter mais apoio, incentivo e visibilidade”.

Clóvis ficou dos 16 aos 28 anos com funções no movimento, mas mantém conexão até hoje | Foto: Arquivo pessoal

Além do conhecimento adquirido para atividades práticas, Clóvis destaca que o espírito escoteiro faz as pessoas estreitarem laços entre si e com o movimento. Após extrapolar a idade de participar como beneficiário, ele foi subchefe, chefe de Alcateia, auxiliar distrital, assistente regional de coeducação, participando da implantação da alcateia feminina na cidade, participou da comissão regional e nacional dos lobinhos e da Equipe Regional de Adestramento (ERA), promovendo e participando de cursos. No total, foram 12 anos de dedicação.

“Durante a faculdade, fazia Psicologia em Itajaí, mas continuei participando. Me trouxe muita coisa, muitos contatos, até na questão profissional. O espírito escoteiro faz a gente criar uma relação muito forte. Até hoje, tenho amigos em Florianópolis, Blumenau, Joinville, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre. Fui me desvinculando por causa das atividades, mas tenho muito orgulho de ver o amor que as pessoas têm com o movimento escoteiro. Cada vez que se encontra, que tem algum evento, parece que ainda está vivo dentro da gente”.

Princípios e valores

O movimento sempre teve uma reputação e uma boa relação com a sociedade brusquense. Clóvis recorda de várias atividades realizadas com apoio de empresas, comércios e também das entidades da cidade, além do governo.

“A gente fazia atividades de campismo para expor dentro do shopping, os comércios disponibilizavam as vitrines para gente mostrar nossos trabalhos. Tínhamos grandes participações nos desfiles, as escolas cediam os alunos para mostrar a nossa tropa. A sociedade apoiava muito. O movimento escoteiro é de grande respeito, que eu me orgulho de ter feito parte”.

Em 2000, o espaço físico foi ampliado, com a construção de uma sede coberta, mais uma vez com auxílio da prefeitura. Atualmente, o GEB tem uma área construída de 700 metros quadrados.

Para celebrar os 60 anos, o GEB organizou um culto ecumênico, um ato solene, com homenagem a pessoas, empresas e instituições que colaboram para o movimento, além de reencontro de várias gerações, um carreteiro e, para encerrar, um fogo de conselho especial, que vai acontecer neste sábado, 30.

“Em todo acampamento, realizamos o fogo de conselho na última noite. É um momento para confraternizar. É muito lindo, uma atividade extremamente escoteira. Esse fogo de conselho vamos fazer para celebrar, é um convite aberto para todo mundo que já foi escoteiro em Brusque nessa história de 60 anos participar”, explica a presidente do GEB, Malisa Bruns.

Pessoas importantes para o movimento escotista em Brusque foram homenageadas em ato solene | Foto: Valdete Witkowski/GEB

Malisa e o marido se conheceram no grupo de escoteiros. Ela veio para Brusque com a família de São Vicente, cidade do litoral de São Paulo, e entrou no GEB em 1989, quando as turmas ainda eram separadas entre meninos e meninas, o que se manteve até meados da década de 2000.

“Eu amava estar aqui, mesmo tendo sido difícil no início, já que as meninas não se interessavam muito. Teve uma época que não tinha instrutora feminina aqui e eu ia até Itajaí de ônibus todo sábado para participar do grupo lá. Mesmo sendo difícil, nunca pensei em desistir, tudo que eu aprendia era bom. Me ensinou a ser uma pessoa melhor, com valores e princípios”.

Malisa com o marido, o pai e os filhos em atividade do GEB | Foto: Charleston Braz/GEB

Entre idas e vindas, ela assumiu vários cargos no grupo, até se tornar presidente. Os filhos também acabaram pegando gosto pelo movimento e pediram para participar. Para Malisa, além dos distintivos, insígnias, histórias para contar de acampamentos e atividades externas, as lições ensinadas pelo escotismo são fundamentais para a vida.

“Somos um movimento educacional, as crianças aprendem tudo na prática – desde pequeninos, eles têm que aprender a cozinhar, instruções de primeiros socorros, por exemplo. Eles estão aqui porque querem estar. Aqui, os jovens e crianças aprendem a ter independência, autonomia, organização”.

Desde lobinhos, crianças já aprendem a ter autonomia e iniciativa | Foto: Charleston Braz/GEB

Para participar das atividades, é preciso ter completado 6 anos e meio, idade que o movimento considera que a criança tem autonomia necessária para desenvolver as atividades propostas. Atualmente, o GEB é composto por cerca de 200 pessoas, sendo 150 crianças e jovens, que se encontram nos fins de semana e feriados, e o restante de adultos voluntários.

“Todas as atividades são planejadas e os instrutores, a maioria são pais, passam por formação e se preparam durante a semana através de uma proposta educativa, as diretrizes vêm da União dos Escoteiros do Brasil. A gente atende várias crianças autistas que se desenvolvem muito aqui. Todas as crianças são inseridas, trabalham em grupo”.

GEB é formado por cerca de 200 pessoas atualmente, sendo 150 beneficiários e o restante de adultos voluntários | Foto: Deise Fernanda/GEB

Malisa destaca que uma das coisas mais bonitas que vê no movimento é a diversidade de cor, classe social e crença religiosa presente nos grupos. “Nenhuma criança fica de fora. Se os pais não têm condição, a gente faz a isenção. Aqui dentro, nas equipes, a gente não vê as diferenças que existem lá fora. A gente prega sempre o respeito, todo mundo se entende por causa dessa inclusão”.

Vida ao ar livre

As atividades realizadas pelos jovens são realizadas baseadas nos princípios fundamentais do escotismo. Em uma sociedade cada vez mais conectada tecnologicamente, o movimento escotista preserva a convivência e as atividades ao ar livre também como um escape para as situações do dia-a-dia. Quando o empresário Rodrigo Freitas, hoje com 51 anos, começou a frequentar o grupo, porém, o mundo era outro.

“Onde está o Angeloni, começava um baixadão. Ali no Banco do Brasil, era tudo uma lagoa, um lugar muito bonito. Naquela época, não tinha muita opção de lazer, mas tinha muito verde. Não era tão acessível a máquina fotográfica, mas as lembranças estão todas na cabeça e ainda vêm até hoje. Atualmente, tem muita concorrência, mas, mesmo assim, temos um contingente grande de crianças. Não colocamos mais porque não temos estrutura física”.

Rodrigo (de boné azul) desenvolveu paixão por atividades ao ar livre | Foto: Arquivo pessoal

Ele entrou para o GEB aos 7 anos e também estava no lançamento da pedra fundamental da nova sede. Aos poucos, o seu pai, Hailton de Souza Freitas, também se envolveu na vida do grupo, principalmente na diretoria executiva, buscando recursos para o grupo.

“Meu pai nunca participou de chefia, mas sempre se envolveu no financeiro, administrativo, montava rifas, foi muito ativo e brigava para ajudar o grupo a ter recursos. Ele sempre esteve envolvido em trabalho voluntário e acabou tendo essa influência positiva na família”.

Mesmo entre idas e vindas, por causa de compromissos profissionais e familiares, Rodrigo, que foi chefe e ainda teve cargos na diretoria e dois mandatos como presidente, manteve a conexão com o grupo. Conhecendo muito os valores e os benefícios do escotismo, ele também levou seu filho para participar.

“Minha esposa por muito tempo também foi junto, para ajudar na alimentação, organização dos banhos das crianças em eventos. Nós sempre trabalhamos com jovens, na Apae, na igreja. No grupo escoteiro, a gente colhe muita coisa. Se eu parar com uma pessoa que participou do movimento, passamos uma tarde toda conversando, temos muita história para contar. Quando levei meu filho lá, eu queria uma formação diferente, que desenvolvesse o caráter, civismo e liderança, além do contato com o ar livre. Uma criança que participa do movimento é diferente, alguma coisa diferente é plantada”.


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