Guardas de trânsito são investigados por suspeita de corrupção
Agentes foram denunciados por dono de empresa de guincho, que recebeu proposta de pagamento de propina
Agentes foram denunciados por dono de empresa de guincho, que recebeu proposta de pagamento de propina
O Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) apura denúncia de que dois agentes da Guarda de Trânsito de Brusque (GTB) tentaram implantar na cidade um esquema fraudulento, conhecido como “guinchada”, o qual consiste na realização de abordagens para apreensão de automóveis e, posteriormente, o recebimento de um percentual sobre o valor do guincho, em parceria com a empresa responsável pelo serviço.
Desde o começo do mês, a 3ª Promotoria de Justiça de Brusque investiga o caso, por meio de inquérito civil. Conforme informou o promotor Daniel Westphal Taylor, no despacho de abertura do inquérito, a implantação do esquema não chegou a se concretizar, porque a empresa à qual os agentes de trânsito fizeram a proposta não concordou com ela, e comunicou o fato à Prefeitura de Brusque.
O inquérito investiga as condutas de Éberton Gonçalves de Saibro Júnior e Willyan Luciano, ambos agentes da trânsito da GTB, sendo este último já exonerado do cargo. O Município Dia a Dia localizou o proprietário da empresa que recebeu a proposta, que não será identificado, a pedido.
Ele explica que, inicialmente, apenas um dos dois agentes o procurou, mas não revela o nome. O dono da empresa diz que a abordagem foi feita pessoalmente, mas que a conversa não durou muito tempo. “Chegou ao meu conhecimento e, como a empresa não concorda e não pratica isso, levamos ao conhecimento do secretário [de Trânsito de Mobilidade, Paulo Sestrem] para tomada das providências”, afirma.
A proposta não aceita era de que sua empresa fosse sempre chamada para guinchar os carros apreendidos pela Guarda de Trânsito; em contrapartida, ele repassaria aos agentes parte do valor cobrado pelo serviço, como propina.
Servidores afastados
Questionado, o proprietário da empresa de guincho disse que o guarda que o procurou não falava só por si, mas também “em nome de outros”. O secretário Paulo Sestrem foi quem recebeu a denúncia do dono da empresa. Imediatamente, ele tomou algumas providências.
A primeira delas foi encaminhar o caso à secretaria de Orçamento e Gestão, a qual instaurou um procedimento administrativo disciplinar para investigar a conduta dos agentes, além de remeter o caso ao Ministério Público. Como medida preventiva, o secretário da pasta, Diego Fagundes, determinou, no dia 26 de fevereiro, o afastamento remunerado de Éberton, por 60 dias, prazo necessário para conclusão das investigações.
Não foi necessário determinar também o afastamento de Willyan Luciano, porque ele havia pedido exoneração no dia 9 de fevereiro, tendo sido atendido um dia depois, com a publicação de portaria pela prefeitura. O secretário Paulo Sestrem não soube informar se o pedido de exoneração teve relação direta com a denúncia.
O curioso é que Willyan foi considerado estável na função há poucos meses, por meio de portaria publicada em 23 de julho de 2014. Ou seja, desde o ano passado, não poderia mais ser demitido do serviço público, salvo em caso de cometimento de falta grave.
Éberton Gonçalves, Paulo Sestrem e o dono da empresa de guincho já foram ouvidos pelo Ministério Público, que, em breve, deve concluir o inquérito. Caso os fatos narrados na denúncia se confirmem, a promotoria irá ajuizar ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra os agentes.