Estou achando cada vez mais estranha essa confusão sobre emoções, que fazemos há muito tempo. Homem não chora, mulher não ri. É até título de livro, sabia? A antropóloga Miriam Goldenberg escreveu um livro sobre o tema, baseado em uma pesquisa que fez, que revelou que 95% das pessoas entrevistadas consideram que as mulheres choram mais – e nenhuma respondeu que é o homem quem chora mais. Outra curiosidade: os homens acreditam que riem mais, e o tempo todo: no trabalho, na saída com os amigos, bares, etc; e as mulheres concordam, e, quando questionadas sobre isso, responderam que não gostariam de rir mais. Chocada! A autora até faz uma brincadeira em um capítulo: homem bobo, mulher chata.

Entendo que há muita influência da educação, estereótipos de gênero, e toda aquela conversa que ouvimos desde crianças: menino não pode chorar, menina tem que se comportar.

Acontece que há uma bobagem operante no discurso de pais, professores, educadores em geral, a respeito sentimentos e emoções. Ainda escuto isso quando uma criança chora, porque se machucou: “Calma, não foi nada”, “Não tá doendo tanto”, “Engole o choro”, “Você é uma princesa, e princesa não chora”, e por aí vai. Provavelmente você e eu fomos educados com essas frases também.

Ocorre, porém, que quando dizemos para uma criança que a dor que ela está sentindo naquele momento não é nada, isso gera uma confusão na cabeça dos pequeninos. Como assim, se está doendo, não é nada? A dor vai passar, sim. É isso que a criança precisa saber. Mas precisa também aprender que o que ela está sentindo é real.

O problema dessa confusão que vivemos desde a infância, é que ela gera adultos inseguros, com falta de habilidades interpessoais. Uma incapacidade de diferenciar emoções, sentimentos, estados de humor. Se é difícil identificar em nós mesmos, mais difícil ainda nos outros. O que explica a falta de empatia e nenhum talento para demonstrar afeto.

E quando alguém me fala que gostaria de ser menos sensível? Não entendo.

Estamos vivendo mudanças de tempos. E precisamos de pessoas com sensibilidade para perceber o meio, intuição afiada, inteligentes emocionalmente, com liberdade para escolher se quer rir ou chorar. Expondo a essência, seja ela mais racional, que luta, briga por uma causa, ou mais sensível que cuida de quem está próximo. Sem estereótipos, nem gêneros. Apenas manifestação de quem somos.

Só acho. E concordo com Alice Ruiz, quando escreve: “Lembra o tempo que você sentia, e sentir era a forma mais sábia de saber e você nem sabia?”

 

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Clicia Helena Zimmermann – professora, consultora e especialista em mapeamento de ciclos.

 

 

arte: Silvia Teske