José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Hosana ao hidrogênio!

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Hosana ao hidrogênio!

José Francisco dos Santos

Durante a semana passada, circulou link do Jornal “El País”, replicando a ideia de Roger Kornberg, ganhador do Prêmio Nobel de Química em 2006, de que “as pessoas resistem à ideia, mas a vida é só química”. Conforme diz a reportagem, ele analisou o processo de transcrição, através do qual as células copiam as instruções escritas no DNA e as escrevem em outro idioma, o das moléculas de RNA e aí todo o processo vital se desenvolve.

Até aí, muitos parabéns ao cientista. No entanto, após tanto empenho sério de pesquisa, ele resolve dar um passo além de suas pernas científicas, e afirma que, já que tudo está dado na química, Deus não é necessário, e a religião é uma espécie de ilusão. O único argumento apresentado na longa reportagem é uma frase em que ele diz que as pessoas querem dar algum significado a suas experiências através da religião, mas tudo se resume à química.

A entrevista, fora a frase infeliz, traz muitas informações científicas relevantes, mas o acento da manchete – e o que certamente fez com que o link fosse passado à frente – é o comentário “religioso” e absolutamente não científico do químico. O mínimo que se exigiria de uma reportagem cujo título diz que a vida é só química é que o entrevistador explorasse as razões de quem afirma isso. Mas como imprensa séria é raridade, o post não passa de um veículo de publicidade, que passa a ideia de que o ateísmo é coisa de gente inteligente, já que um prêmio Nobel o está afirmando.

Vamos deixar uma coisa bem clara. Nenhum cientista, de nenhuma área pode afirmar, cientificamente, que Deus existe ou deixa de existir. O cara pode ter a opinião pessoal dele sobre esse assunto que, ademais, vale tanto quanto a minha ou a do falecido Timbé. Deus não é objeto da química ou da física. Um cientista pode desvendar o DNA, mas não pode explicar como o mesmo DNA, com a inteligência absurda que ele concentra, se originou de si mesmo, como um acidente cósmico.

Todos sabemos que a água é composta de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, mas nenhum químico pode saber como o hidrogênio se tornou hidrogênio, e como sua estrutura infinitesimalmente pequena pode englobar tanta informação, tanta capacidade de se juntar ao colega oxigênio, para gerar um bem tão precioso quanto a água. Quem deu origem a tudo isso?

Qual a Inteligência por trás da tabela periódica, cujos elementos compõem tudo o que existe no mundo material? Quem orienta as relações entre essas particulazinhas para gerar tanta variedade, tanta beleza, tanta perfeição? Haja fé na matéria para imaginar que ela, por si mesma, se auto-originou e deu origem a tudo que existe, incluindo vida e Inteligência.

Ora, o entrevistador do El País deveria ter perguntado isso ao famoso prêmio Nobel, ou ter ignorado sua opinião teológica, por que, pelo seu pitaco em assunto religioso, onde sua química não alcança, ele mereceria o prêmio Nobel da presunção ou da estupidez.

Respeito os ateus e agnósticos que duvidam com alguma seriedade da existência de Deus ou dos dogmas religiosos, já que a fé não pode ser exigida de ninguém. Mas quando o camarada quer usar seu diploma de cientista ou seu prêmio “sei lá das quantas” para afirmar que Deus não existe, só pode ganhar meu desprezo. Os que exploram esse equívoco metodológico para propagandear um ateísmo inconsequente merecem um desprezo ainda maior.

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo