São poucos os atletas que podem ser considerados ídolos de um clube. Durante os 30 anos de sua história, porém, atuaram pelo Brusque jogadores que honraram a camisa, conquistaram títulos e ajudaram a construir a história do time.

Embora as primeiras gerações de atletas sejam as mais lembradas – justamente por terem conquistado o título de 1992, o mais importante troféu da coleção brusquense -, muitos personagens que vieram após o grupo capitaneado por Palmito, Washington e companhia também são lembrados com carinho pela torcida do Bruscão.

Palmito, artilheiro do título

Palmito carregado nos braços após o título de 1992. Foto: Acervo Edemar Luiz Aléssio

Natural de Palmitos, no Oeste de Santa Catarina, Edemar Luiz Aléssio carregou o apelido que homenageia sua cidade natal durante toda a sua carreira. Quando chegou em Brusque para disputar a Copa Santa Catarina de 1990, Palmito já tinha muitos quilômetros rodados: aos 30 anos, havia conquistado seis tíulos estaduais, cinco pelo Joinville e um pelo Criciúma, sendo o últiimo, com o Tigre, em 1989.

O meio-campista, inclusive, pensava em encerrar a carreira. Tinha o desejo de realizar um trabalho promovendo o futebol para crianças, e foi responsáel por acender a chama do projeto hoje conhecido como Moleque Bom de Bola. Mas, em 1990, recebeu o convite do Brusque e aceitou participar da campanha do vice-campeonato da Copa Santa Catarina. Depois disso, tomou gosto pela cidade, mas não pôde jogar em 1991. “O Brusque não tinha condições financeiras de me manter no clube, o elenco era em sua maioria formado pela base”, explica.

Na época, vigorava ainda a lei do passe: se o jogador estivesse sem contrato, seu passe iria para a federação, e qualquer clube que depositasse o valor referente ao contrato teria direito de tê-lo como seu atleta. Foi aí que o Blumenau Esporte Clube, aproveitando desta brecha, levou Palmito para a cidade vizinha.

Mas, infeliz no BEC, o meia voltou ao Brusque no ano seguinte. “Em 1992 tive contato do diretor de esportes da época, o Danilo Rezini, e conheci também o presidente Chico Wehmut. Naquele ano estava praticamente certa minha ida para o Marcílio Dias, mas o Brusque se antecipou, para minha felicidade”.

“Em 1992 tive contato do diretor de esportes da época, o Danilo Rezini, e conheci também o presidente Chico Wehmut. Naquele ano estava praticamente certa minha ida para o Marcílio Dias, mas o Brusque se antecipou, para minha felicidade”

Palmito foi um dos grandes ícones da maior conquista do Brusque. Não à toa, terminou com 13 gols marcados e foi vice-artilheiro do estadual, atrás apenas do atacante Zé Melo, do Inter de Lages. Jogador de boa técnica e exímio cobrador de faltas, Palmito também foi destaque pelo papel de liderança que exerceu junto ao grupo.

Para o ex-atleta, o clube fez muita diferença em sua vida, e por isso guarda um carinho imenso. “Gostaria que o clube fosse campeão mais uma vez e também ainda quero ver este time na elite do Campeonato Brasileiro. Precisamos ajudar o Brusque, é o time que representa a cidade. Espero que o clube tenha vida longa e que seja cada vez maior”.

Polaco, raça nos gramados
O primeiro contato do atacante José Camara, o Polaco, com o Bruscão foi jogando contra o clube. Ele estava do outro lado na grande final do estadual de 1992, no banco do Avaí, sendo que atuou durante o segundo tempo e a prorrogação. Aliás, antes de se tornar ídolo quadricolor, Polaco quase azedou os planos do título estadual, já que pouco antes do fim acertou um chutaço, momento em que o goleiro Carlos Alberto precisou fazer uma defesa milagrosa.

Natural de Maringá (PR), o atacante tomou gosto por Santa Catarina. Depois de jogar no Avaí, atuou em Jaraguá do Sul e, em 1997, fez uma opção pouco convencional: jogar pelo Brusque, na segunda divisão do Campeonato Catarinense, ao invés de voltar para o Avaí, que disputava a Série C nacional e também fez proposta ao atleta. “Eu pensei que preferia vir para Brusque e conquistar um título do que jogar a terceira divisão só por jogar, e foi um momento muito legal na minha carreira”.

O Brusque se reestruturava sob a batuta do presidente Ricardo Viana Hoffmann e do diretor Euzébio Pereira, o Caloca. Conhecido pela raça e completa dedicação aos clubes que defendeu, Polaco revelou o motivo de sua total entrega o Brusque, que em 1997 vivia situação financeira e estrutural delicada. “Depois de um treino, o presidente me visitou onde eu estava hospedado, de surpresa. Ele tomou um café comigo e disse que confiava em mim. A partir daquele dia, se eu precisasse dar a vida pelo Brusque, eu daria”.

“Depois de um treino o presidente Ricardo me visitou onde eu estava hospedado, de surpresa. Ele tomou um café comigo e disse que que confiava em mim. A partir daquele dia, se eu precisasse dar a vida pelo Brusque, eu daria”

Naquele ano, 1997, Polaco foi campeão com o Brusque. Permaneceu no clube em 1998, ano da segunda melhor campanha da história do clube no Campeonato Catarinense: um terceiro lugar. O grupo superou suas próprias limitações naquela temporada, já que a base da segundona foi mantida.

Polaco, inclusive, protagonizou um lance que ficou famoso e parou no programa Fantástico, da Rede Globo: jogando a semifinal estadual de 98 com o Avaí, ele passou no meio de dois marcadores e caiu na área. O árbitro não daria a penalidade, mas Rogério Prateat, do Avaí, recolheu a bola com a mão pensando que havia sido marcada a falta. O jogo, porém, terminou com a classificação azurra.

O ex-atleta seguiu sua vida antes de se aposentar, e hoje mora e trabalha em Balneário Camboriú. Contudo, embora tenha convivido com as glórias em seu período de atleta profissional, Polaco guarda o Brusque em um lugar muito especial no coração. “Foi um tempo muito emocionante, empolgante. Criamos um laço de amizade enorme entre jogadores e torcida, e que perdura até hoje”.

Rafael Xavier, chama reacesa

Xodó, Rafael Xavier teve recente passagem vitoriosa pelo quadricolor. Foto: Marcio Costódio

O Brusque passou por um grande vácuo de títulos de elite após 1992. Além disso, sofria com quedas para a segunda divisão e a desconfiança da torcida. Até que, em 2008, uma geração campeã surgiu. Novamente na segundona, o time contou com a força de um atacante natural de Santana do Livramento (RS) para conquistar o título da divisão especial.

Então com 22 anos, Rafael Xavier foi importante para a conquista da segundona e, mais tarde, nos títulos da Copa Santa Catarina, além da inédita Recopa Sul-Brasileira. Depois de um ano fora, voltou em 2010, o ano do tricampeonato da Copinha. Nessa ocasião ele protagonizou ainda mais, terminando como artilheiro da competição com 11 gols, marcando, inclusive, o gol da vitória na primeira partida da final.

Hoje no Cianorte (PR), Xavier não esconde o carinho e a lembrança saudosa dos tempos que vestiu o manto quadricolor. “O Brusque pra mim representa muita coisa boa. Cada vez que fui para o clube marquei gols. É um lugar que me sinto muito bem, e onde conquistei meu primeiro título como profissional. São lembranças boas. É um time grande que merece estar nos melhores lugares”, diz.

“O Brusque pra mim representa muita coisa boa. Cada vez que fui para o clube marquei gols. É um lugar que me sinto muito bem, e onde conquistei meu primeiro título como profissional. São lembranças boas. É um time grande que merece estar nos melhores lugares”

Depois das duas brilhantes passagens, Xavier voltou em 2016, já mais experiente e calejado. Como não poderia deixar de ser, ele balançou as redes em seu retorno e revelou uma história especial sobre o acontecido. “Antes desse jogo, eu tinha sonhado que eu voltaria para o Brusque, marcaria um gol e a torcida gritaria: o Xavier voltou”.

Como em um roteiro de cinema, o sonho virou realidade no dia 26 de junho de 2016, quando ele ajudou o quadricolor a vencer o JMalucelli pela Série D do Brasileirão.