Quando a crise aperta, é preciso saber se ajustar para, depois, voltar a crescer. Foi isso que Carlos Roberto Fischer, 54 anos, proprietário da Molas Brusque fez de 2015 para cá. Os resultados já apareceram e a indústria planeja investir em novos equipamentos num novo segmento em breve.

A empresa atua em diversos segmentos. Faz molas grandes e pequenas, pesadas e leves, para automóveis, tratores, maquinário têxtil e outros equipamentos. Atualmente, a empresa conta com 137 funcionários e vê a sua produção crescer.

Os trabalhadores se revezam no primeiro e segundo turnos, e no horário comercial. No entanto, a história era diferente há pouco mais de dois anos.

Em 2015, a crise financeira bateu à porta da Molas Brusque. A situação ilustra como a economia está interligada. A indústria da cidade – instalada num município onde o agronegócio é praticamente inexistente – tinha clientes agrícolas, de outros estados, e automobilísticos.

Naquele ano, os dois setores registraram resultados ruins. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário de 2015 foi de apenas 1,8%. Embora positivo, o número é menor do que o normal para o setor.

Ainda em 2015, o setor automobilístico despencou. As vendas caíram 26,55%, e as montadoras mais demitiram que contrataram. Os pátios ficaram lotados e, com isso, a produção foi reduzida.

O impacto da economia ruim foi sentido no bairro Nova Brasília – onde fica o parque fabril de 29 mil metros quadrados, 9,2 mil deles de área construída. Foi necessário fazer adequações, conta Fischer. Há mais de 30 anos no mercado e tendo vivenciado diversos momentos difíceis, o empresário tomou uma atitude.

“Em 2015, contávamos com 180 funcionários, mas com a retração econômica foi necessário diminuir para a metade. Hoje, já voltamos a contratar. Com a crise aprendemos a abrir a janela e buscar novos mercados e clientes”, afirma o empresário, destacando o surgimento de oportunidades em períodos difíceis.

A visão empresarial deu certo e já apresenta resultados. Uma máquina alemã que estava parada desde abril de 2016 voltou a funcionar em novembro, por exemplo. O quadro de empregados foi aumentado e a Molas Brusque já vive momentos melhores, com a retomada da sua produção e perspectiva de novos investimentos.

Fischer viajará para a China em outubro deste ano, com o objetivo de ver de perto uma máquina nova, que faz molas maiores, de 25 milímetros. “Queremos trabalhar em cima da linha ferroviária, que são molas mais pesadas”, projeta o empreendedor.


Atualização constante para ser competitivo

A viagem programada para a China é uma amostra de uma característica da Molas Brusque. Desde a sua fundação, em 1984, a indústria sempre buscou novos equipamentos mais modernos para aumentar a produtividade e a competitividade no mercado nacional.

“Em 1997, fomos para a França e Alemanha atrás de equipamentos modernos, a chamada máquina CNC. Hoje, somos uma das grandes fábricas de molas do país, e, sem dúvida nenhuma, a maior do Sul do Brasil”.

A cada dois anos, a empresa participa de alguma feira internacional para acompanhar as últimas tendências. Com essa filosofia de investimento e atualização constante, a indústria se antecipou aos concorrentes.

Quando as fábricas brasileiras ainda trabalhavam em sistemas manuais ou obsoletos, a Molas Brusque trouxe máquinas CNC. O pensamento por trás das aquisições de Fischer sempre foi fazer melhor e não igual ao concorrente, afirma o empresário.

Com a indústria automatizada, a empresa conquistou clientes de porte nacional, como a John Deere e o grupo AGCO – detentor de marcas como Valtra e Massey Ferguson -, ambos fabricantes de tratores.

Atualmente, a maior parte da produção da companhia brusquense vai para o setor agrícola. Mas o segmento automotivo também é importante, com vários clientes em São Paulo. Na linha branca, marcas como Electrolux e Cônsul compram molas da empresa.


Empresa tipicamente familiar prepara sucessão

A peça-chave para empreender é identificar uma necessidade da sociedade para preenchê-la. Foi isso que Carlos Roberto Fischer, suas irmãs e seu cunhado fizeram em janeiro de 1984, quando abriram a Molas Brusque.

Até o início dos anos 80, Fischer trabalhava com o pai em outra fábrica de molas. Iniciada na década de 1970, a empresa tinha as indústrias têxteis como principais clientes. À época, era necessário ter peças de reposição para atender o mercado local.

A partir de 83, um concorrente do Rio Grande do Sul comprou a indústria e levou a estrutura embora. O mercado da região, portanto, foi afetado, já que a demanda deixou de ser atendida.

Meses depois, os Fischer abriram a Molas Brusque, em 84. Ao longo dos anos, os sócios venderam suas partes e hoje o único proprietário é Carlos Roberto Fischer.

Ele diz que, embora tenha outros negócios, a Molas Brusque é a menina dos olhos. Como foi onde tudo começou, dedica mais atenção a ela. “Como sempre trabalhei nesse ramo, é minha paixão estar envolvido na criação de um novo produto”.

O gosto pela criação de novos produtos faz de Fischer um empreendedor ativo. Ele gosta de estar presente e, sempre que possível, participar de cursos de aperfeiçoamento na empresa.
Hoje, as filhas Juliane Fischer Fritzke, 31 anos, e Caroline, 23, trabalham com ele. Ivania Tholl Fischer, esposa, também atua na empresa. Já Jordana Fischer, 25, também filha, trabalha na CRF Construtora, pertencente à família. No entanto, ela também já atuou na fábrica de molas.

A herança do pai deve passar para as filhas. Fischer já começa a preparar o processo de sucessão. “Estamos trabalhando na troca de comando, então todas estão passando por setores da fábrica, para conhecimento da área”.

Embora seja natural de Guabiruba, Fischer diz que Brusque foi importante para o desenvolvimento da empresa. Quando o pai dele começou, na década de 1970, o setor têxtil fervilhava.

Com a derrocada do segmento na cidade, a Molas Brusque precisou se renovar. Ainda na década de 1980, passou a produzir para a Busscar, de Joinville, WEG, de Jaraguá do Sul, e outros clientes.

A partir de 2012, a Molas Brusque passou a dar cada vez mais atenção para o segmento agrícola, que hoje é o seu carro-chefe. A indústria fabrica anualmente 2 mil toneladas de molas dos mais variados tipos e para diversos segmentos.