Apesar de estar no imaginário das pessoas como um vilão que causa poluição, o plástico facilitou muito a vida da sociedade ao longo do anos. Além de estar presente em nosso dia a dia, o trabalho realizado com o material gera riquezas e representa uma fatia importante da economia em nível nacional, estadual e municipal. É um dos setores que também contribuem para a força e diversificação da indústria brusquense.

De acordo com levantamento da Secretaria da Fazenda, o segmento tem 62 empresas em Brusque. A modificação do plástico emprega mais de 470 pessoas e gerou uma riqueza de cerca de R$ 60 milhões para o município em 2021. No estado, o ramo de plástico e químicos representou 7,1% dos empregos da indústria, 4,9% das exportações e 27,1% das importações, segundo o Atlas da Competitividade, publicado pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc).

Além de gerar riqueza e empregos, a indústria plástica funciona como uma facilitadora para outros setores. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), construção civil (23,1%) e alimentos (20,4%) são os ramos que mais utilizaram o plástico nos seus processos.

Interdependência

Proprietário da Plasmark Rotomoldagem, que fica no bairro Nova Brasília, Marco Antônio Gonçalves acredita que, se o município não tivesse a quantidade de tinturarias que têm, talvez ele não tivesse o seu negócio funcionando.

“Uma coisa puxa a outra. As tinturarias precisam das metalúrgicas também. É muito importante ter empresas ao redor, fomenta a economia, deixa mais barato e agiliza o processo”, destaca.

Há oito anos nesse ramo, a Plasmark tem 18 funcionários e fornece 80% da produção para a linha têxtil, principalmente para tinturarias, como pallets, mas também para tecelagem e confecção.

Grande parte da produção da Versátil é feita através de matéria-prima reciclável | Foto: Bruno da Silva/O Município

Especializada em frascarias, a Versátil Plásticos, do bairro São Pedro, está há 15 anos no mercado na parte de produtos químicos e domissanitários, de limpeza, defensivos agrícolas, construção civil (impermeabilizantes) e cosméticos de pet shop. A empresa tem 35 colaboradores diretos e atua nos três estados do Sul.

Para Gisele Boos, que é uma das proprietárias, a diversificação dos setores na indústria brusquense é um privilégio.

“Tudo que for diversificação, eu apoio. Temos muito a aprender com o que é diferente do nosso, desde a convivência entre pessoas. Quando se sabe olhar essa diversidade, é possível tirar o melhor de cada um. Nenhum setor está sempre em alta, tem uma montanha-russa natural, mas que cria um equilíbrio para o município, estado e país”.

Gisele enxerga no setor uma responsabilidade muito grande com o meio ambiente. “As indústrias ainda têm uma preocupação, mas, para o futuro, temos muito o que expandir, mas de forma consciente e sustentável. Quem tem esse viés, consegue manter boas perspectivas de crescimento do negócio”, ressalta. Das 75 toneladas/mês que a Versátil transforma, 80% é material reciclado. Grande parte desse material é fornecido pela empresa Montibeller Polímeros, outra empresa de Brusque.

A Montibeller, que fica no Cedrinho, tem 18 anos de experiência no mercado, 25 colaboradores e 3 mil metros quadrados de área construída. Mensalmente, a empresa transforma 100 toneladas de material reciclável, que vem dos três estados do Sul. “Nossos clientes produzem desde grampos de roupa até uma caixa d’água”, destaca o gerente Felipe Montibeller.

O material reciclável chega à empresa pré-classificado e é separado pelos funcionários na triagem, por cores e tipos. Depois, vai para a linha de moagem, lavação e secagem. Então, é encaminhado para a selecionadora, onde o colorido é separado do branco/transparente ou direto para o silo de armazenamento, para tirar a umidade, e depois passa por um processo de extrusão, para filtragem e derretimento, para fazer o granulado que é destinado para as empresas.

Sustentabilidade

De acordo com Felipe, todo o processo realizado na empresa é comprovadamente sustentável. Ele explica que, com a tecnologia disponível atualmente, todo tipo de plástico pode ser reciclado. O que falta é evoluir na conscientização e políticas públicas para que esse material chegue ao destino correto.

“Dando a destinação correta, o plástico pode ser utilizado várias vezes. Até os canudinhos, sacolas de mercado. Trabalho com dois tipos de plástico aqui e, o que eu não consigo reciclar, encaminho para empresas que trabalham”, conta.

Antes da pandemia, a Montibeller chegou a iniciar um trabalho piloto em uma escola do Paquetá para incentivar que as crianças dessem a destinação correta para o plástico. A intenção é retomar esse projeto já no próximo ano. “A coleta ainda tem o que melhorar. Mas, as próprias pessoas precisam se conscientizar. É uma via de mão dupla”.

Montibeller transforma 100 toneladas de material reciclável por mês | Foto: Bruno da Silva/O Município

Gisele conta que, no processo interno da Versátil, não há nada prejudicial ao meio ambiente, a não ser os óleos utilizados nas máquinas, que são separados e destinados para coleta por uma empresa específica. Ela destaca que esse é um valor importante para a empresa, que inclusive acompanha as fornecedoras para saber se eles são autorizados a reciclagem.

Na Plasmark, ao longo do tempo, foi percebida a necessidade de reciclar produtos dos clientes que acabam quebrando ou amassando. Para isso, a empresa montou uma estrutura que permite a reutilização desses materiais. “Desenvolvemos essa receita, misturamos um percentual de materiais recicláveis e virgens. Para eles, é bom, conta para o ISO, e para a gente também é importante”, explica Marco.

Desafios

Além da sustentabilidade, a capacidade de inovação é essencial para a sobrevivência das empresas do setor plástico. Marco conta que na Plasmark, que trabalha com produtos de dimensões bem grandes, mas também bem pequenos, para resolver um problema específico de clientes, a criação de novos produtos é constante.

“Desenvolvemos novos produtos analisando o mercado, analisamos a dificuldade do cliente. Às vezes, o trabalho é adaptar o que já existe, outros surgem e tornam o seu obsoleto. Precisamos nos reinventar. Temos um engenheiro próprio, que faz os projetos, e tenho uma metalúrgica, onde são feitos os móveis, que fica em outra unidade”, conta.

“Mesmo com a pandemia, a empresa prosperou”, ressalta proprietário da Plasmark | Foto: Bruno da Silva/O Município

Durante a pandemia, a Versátil teve que se adaptar ao que o mercado apresentava. Como a empresa trabalha B2B e tem muitos clientes que atendem licitações, a demanda de produtos teve uma grande mudança.

“As escolas pararam, mas foi um boom para o setor hospitalar. Foi uma procura muito grande por embalagens de álcool gel, por exemplo. A Versátil se tornou mais conhecida, houve uma demanda maior. Empresas de vários estados ligaram para a gente nos procurando. No nosso segmento, as empresas estavam com a produção toda tomada, mesmo trabalhando 24 horas por dia. Houve falta de embalagem no Brasil”, lembra.

Nesse período, a Montibeller conseguiu se manter. Felipe conta que aumentou a procura pelo material, mas também ficou mais escassa a matéria-prima, o que dificultou um pouco.

“A maioria dos clientes que produziam embalagens para álcool em gel, galões (temos clientes que fazem o produto e a embalagem também). Não tinha matéria-prima virgem para comprar, então foi crucial ter a reciclada para que eles conseguissem seguir a produção. A clientela se manteve, mas aumentou a procura por empresas que fazem embalagens, cloro, alvejante e desinfetantes também. A demanda subiu”.

Depois desse momento inicial, porém, as empresas registraram uma grande procura em 2021. “Mesmo com a pandemia, a empresa prosperou. Dobramos o faturamento, mas também as matérias-primas aumentaram muito”, destaca Marco, da Plasmark.

O momento atual é outro. Com o preço da matéria-prima atingindo o pico e agora se estabilizando em um patamar ainda bem alto, as empresas agora tentam identificar as necessidades e tendências do mercado para seguirem prosperando.

“O consumo já voltou ao normal. Sentimos uma baixa entre junho e julho, que é normal para o nosso setor. Não sentimos isso nos dois primeiros anos da pandemia, mas agora voltou. Os preços começaram a reduzir um pouco, mas muito longe do patamar que era antes da pandemia”, conta Gisele.


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