Instabilidade da economia argentina afeta negociações em Brusque
País vizinho tem encontrado dificuldades para retomar crescimento
País vizinho tem encontrado dificuldades para retomar crescimento
A instabilidade econômica enfrentada pela Argentina é acompanhada de perto por empresários de Brusque. Empresas locais exportam para o mercado argentino e compram matéria-prima. Em ambos os casos, são influenciados pelas cotações, taxas de juros praticadas e pelo dólar.
O agravamento da situação do país levou a um empréstimo de 50 bilhões de dólares junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), em julho, sob compromisso de apresentar superávit fiscal em 2021, cenário cada vez mais incerto.
Desde que assumiu, o presidente argentino Mauricio Macri tomou medidas para tentar conter a desvalorização do peso (moeda local) e o aumento da inflação no país, mas sem os resultados esperados.
O peso tem sofrido desvalorização mais forte perante o dólar, em comparação com outras moedas. Na semana passada, o dólar chegou a fechar cotado a 40 pesos. Somado a isso, as taxas de juros foram reajustadas no país no fim de agosto, de 45% para 60%.
Período de incertezas
A falta de reservas de dólares, déficits fiscais e dificuldade do governo argentino em gastar menos do que arrecada são indicados pelo economista Wagner Dantas como principais agravantes para o panorama do país. Para ele, o cenário reforça a instabilidade do país e afasta possíveis investidores. “É um jogo de xadrez, que cada movimento leva a outro.”
Segundo ele, para ter sucesso na tentativa de recuperação econômica, será preciso contar não só com as medidas tomadas por Macri, mas com o apoio e adesão da população.
O professor de Economia e Finanças da Unifebe vê semelhanças entre o processo e o passado pelo Brasil antes do Plano Real. De acordo com ele, a tendência é que as iniciativas demorem até surtir efeitos práticos. “É um processo bastante doloroso, levamos 10 anos para recuperar parte de sua credibilidade internacional.”
Dantas minimiza a busca por recursos no FMI. Acredita que, caso bem empregado e em parceria com medidas de controle fiscal, o recurso deve dar possibilidade do país voltar a crescer. De acordo com ele, a instituição costuma apresentar taxas de juros mais baixas, apesar das exigências feitas aos países que recorrem ao serviço.
Mercados alternativos
A realidade é acompanhada por Daniel Bernardo, do setor de exportação da Latina Têxtil. A empresa brusquense mantém exportações de moda fitness, esporte e moda íntima para a Argentina há quatro anos. Desde o agravamento da crise, viu a instabilidade reduzir a procura pelo produto brasileiro.
A alternativa encontrada foi investir em estratégias de valorização da marca e aproveitar o momento do dólar em alta para intensificar mercados alternativos, como Colômbia e Paraguai.
Segundo ele, a situação na Argentina é acompanhada com atenção, mas a desvalorização da moeda local dificulta as atividades. Com os produtos negociados na moeda americana, a empresa viu seus preços triplicarem no país desde o ano passado. Na época, lembra, a cotação era próxima de 15 pesos por dólar.
“O momento de compra de lá está baixo e os importadores de lá estão reduzindo”, descreve. Outro agravante é a variação diária de preços, que dificulta o processo de negociação.
Criação de oportunidades
Segundo o gerente de Compras da Guabifios, Julio Schumacher, mesmo com a desvalorização do real, o agravamento da economia argentina abre possibilidades para as empresas locais. O cenário pode ser favorável para quem importa matéria-prima. Com a maioria dos preços calculados em dólar, também é preciso atentar para o momento de cada negociação.
De acordo com ele, hoje, a aquisição da matéria-prima no país vizinho, em dólar, chega a ser cerca de 15% mais baixo em comparação com os valores que os produtos teriam há dois meses. “O mercado que atuamos, de fios, é bem cíclico. Ficamos sem comprar nada da Argentina por não valer a pena.”
Segundo o gestor, os fios comprados na Argentina mantêm qualidade semelhante a encontrada no mercado brasileiro. As compras do país vizinho começaram em 2010. Desde lá, por cerca de cinco anos a empresa de Guabiruba chegou a adiar negociações e optar por produtos locais.
Schumacher salienta a imprevisibilidade do mercado e da influência de diferentes fatores na economia local. De acordo com ele, por conta do processo eleitoral brasileiro, uma proximidade do dólar aos R$ 4 já era esperada, mas o nível de dificuldade enfrentada pela Argentina surpreendeu.