João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Açougueiro

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Açougueiro

João José Leal

O tradicional açougue, aquele com o nome do dono e o desenho de um boi numa placa ou na parede do estabelecimento, está desaparecendo da paisagem das nossas cidades.

O estabelecimento, comércio de carnes que é, deveria ser chamado de “carniçaria”. Mas, nosso idioma lusitano, por conta dos sete séculos de domínio árabe, incorporou muitos vocábulos da língua árabe. Assim, temos a palavra “açougue” que, na língua de origem, significa mercado ou comércio.

Na minha infância, em Tijucas, lembro que se matavam bois em galpões de madeira, nos bairros da Praça e da Joaia. Dali, saía a carne para ser vendida nos poucos açougues da cidade.

Quando cheguei em Brusque, havia também pequenos matadouros, que abasteciam os diversos açougues espalhados pela cidade, estabelecimentos com uma balança em cima do balcão, pesados quartos dianteiros e traseiros pendurados em fortes ganchos, à espera da faca para o desosso e o retalho em postas ao agrado dos clientes, geralmente, donas de casa, porque o marido, naquele tempo, não tinha tempo para as coisas domésticas.

Por muito tempo, como era costume na época, fui freguês de caderno, do Açougue da família Härle. Atrás do balcão estava a simpática dona Cláudia, atendendo os fregueses, encaminhando os pedidos e encomendas de coxão mole, costela, alcatre e outros cortes da carne bovina.

Seu filho, Jorge, manejava a afiada faca, com a destreza de quem havia começado cedo, na arte de talhar a carne. Poucas vezes vi Georg Harle, o proprietário, que trabalhava no abatedouro, localizado na saída para Gaspar.

Em nome da segurança alimentar e do selo SIF, a vigilância sanitária não dá trégua. Tem sido implacável com os pequenos matadouros de fundo de quintal, que não conseguem atender às exigências da regulamentação a serviço da segurança alimentar, neste novo tempo de carne preparada, industrializada em grandes frigoríficos para ser vendida, em sofisticadas embalagens, nos supermercados.

E, assim, os tradicionais estabelecimentos da carne fresca vão fechando suas portas ou buscando outras alternativas para se manter de pé.

Tudo em nome do progresso que não tem compromisso com saudosismos nem com a tradição. É verdade que, atrás do balcão refrigerado e envidraçado da carne de um supermercado, tem um empregado para manejar e cortar a carne.

Mas, não é a mesma figura do tradicional açougueiro, em pé, atrás do balcão, avental branco manchado de gotas encarnadas, faca afiada de cortar barba numa das mãos, a conversar com a conhecida freguesa, antes do talho certeiro na carne, para atender ao pedido dona de casa, na missão doméstica de levar a carne fresca para o almoço nosso de cada dia.

Hoje, o açougueiro está comemorando a data da sua profissão, tão importante para nós que não passamos sem carne no nosso prato.

Ao açougueiro, do tradicional estabelecimento ou do supermercado, meus parabéns pelo seu dia.

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