Carnaval da Terceira Idade, a Messalina
Há cinco anos que os moradores do edifício Alvorada do Atlântico fazem o seu baile na segunda-feira de carnaval. Com seus 120 apartamentos, quase uma pequena cidade durante a temporada, a imponente construção de 30 andares, tem morador permanente e veranistas de muitas cidades do Brasil. O baile é para todos os condôminos. Mas, o […]
Há cinco anos que os moradores do edifício Alvorada do Atlântico fazem o seu baile na segunda-feira de carnaval. Com seus 120 apartamentos, quase uma pequena cidade durante a temporada, a imponente construção de 30 andares, tem morador permanente e veranistas de muitas cidades do Brasil. O baile é para todos os condôminos. Mas, o pessoal da terceira idade, mais de 25 casais, meia dúzia de viúvas e divorciadas, a maioria de Curitiba, Chapecó e algumas cidades do Oeste catarinense, acaba tomando conta da festa carnavalesca, transformada num autêntico baile da saudade.
Nesse carnaval da velhice, dá para ver claramente as duas turmas de foliões da terceira idade amadrinhadas: a de Curitiba e a de Chapecó, esta reforçada com veranistas de Passo Fundo e de outras cidades gaúchas. Dizem estes úlrimos que Chapecó é um pedaço do Rio Grande encravado na terra do Índio Condá. São autênticas tribos de condôminos reunidas em torno das mesas, as mulheres para um lado e os homens para outro porque assim era no começo. E o costume, ninguém pode negar, sem que a gente possa desviar, indica o rumo das nossas condutas.
Ninguém esquece o concurso de fantasias deste ano. Os homens, como sempre, se recusaram a desfilar mascarados. Estavam velhos demais para bancar o palhaço. As mulheres, apesar do clima pesado em casa, ficaram entusiasmadas com o concurso. Nesta altura do jogo conjugal próximo das bodas de ouro, elas não se assustam mais com cara feia de marido. Agora, família constituída, filhos e netos criados, não tem mais volta. É ficar ou continuar vivendo juntos. Ademais, elas devem ter lembrado dos seus tempos de moça, quando sonharam desfilar de cinderela nos bailes da sua cidade.
Gente da terceira idade não vai para cama depois da meia-noite. E, pouco mais das oito horas, as concorrentes já estavam desfilando. Na frente, fantasiada de Cleópatra, puxava o cordão uma condômina de Curitiba. Com seus 72 anos de idade, nunca é tarde para ser rainha, a candidata tinha se inspirado nas vestes usadas pela bela atriz Elisabeth Taylor, no famoso filme sobre a legendária soberana do Egito.
Foi seguida pelas concorrentes, todas metidas em vistosas e cintilantes fantasias de seda e cetim. Vinham cheias de purpurina, lantejoulas, muito babados e luxuosas plumas da cabeça aos pés. Enfim, passavam esnobando paetê pelo salão. Algumas delas, por timidez ou pela idade avançada, desfilaram escondendo-se atrás de belas máscaras compradas em Veneza. Sob o olhar de pouco entusiasmo dos maridos, passaram odaliscas, colombinas, cinderelas, Mulher Maravilha, Mulher Cangaceira, princesas e imperatrizes.
Venceu uma candidata da turma de Chapecó. Tinha desfilado numa luxuosa fantasia de Messalina, a famosa Imperatriz Romana. Foi uma festa para a turma do Oeste catarinense. Todos saíram pulando e cantando. Para se vingar, uma concorrente de Curitiba contou para alguns sobre a vida particular pouco recomendável da imperatriz Messalina. Então o ambiente ficou pesado. O clima de euforia deu lugar a palavrões e até ameaças. Como o pessoal da terceira idade está velho para brigar de verdade, tudo logo se acalmou. A música continuou, mas o baile acabou bem mais cedo, muito antes da meia-noite.