Conversas caninas – a boa mãe
As duas mulheres estavam conversando sobre a calçada. Em pé, davam trela aos seus cachorros, ainda inquietos e desconfiados um do outro. Davam trela, também, à conversa que haviam entabulado, a partir daquele ocasional encontro. Até, então, não se conheciam. Mas, já pareciam amigas de outros encontros. Afinal, o cão não é apenas um amigo. […]
As duas mulheres estavam conversando sobre a calçada. Em pé, davam trela aos seus cachorros, ainda inquietos e desconfiados um do outro. Davam trela, também, à conversa que haviam entabulado, a partir daquele ocasional encontro. Até, então, não se conheciam. Mas, já pareciam amigas de outros encontros. Afinal, o cão não é apenas um amigo. É, também, uma ponte entre as pessoas, especialmente, entre as que conhecem a intimidade da vida canina e sabem sustentar um bom papo sobre o comportamento e os caprichos dos cachorros confinados ao interior de um apartamento.
A mais velha, mulher já sexagenária, disse para a outra, dona de um Yorkshire bem penteado, cheio de fitinhas, que os dois Poodles não eram dela, mas da filha e do genro:
– Os dois casaram há três anos e não têm filhos. Dizem que ainda são novos, querem aproveitar a vida antes que a família aumente. Não sei não. Pelo jeito, nunca vão ter filhos. Ainda bem que tenho dois netos de outros dois filhos. Os tempos mudaram muito. Na minha época, era completamente diferente. A gente casava para ter filhos. Minha mãe teve nove filhos. Eu tenho quatro. Agora, parece que se casam para ter cachorros.
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– No meu tempo de solteira, não havia lugar na casa para cães. Meu pai sempre dizia que lugar de cachorro era na rua, no quintal da casa. É claro que, naquele tempo, eram aqueles vira-latas de pelo curto. Ficavam soltos no terreiro ou presos numa corrente e dormiam numa casinha de madeira, enfrentando chuva e sol. Não entravam na casa, que mal tinha espaço para a numerosa família. Cachorro de raça, com pedigree, era coisa rara, chique, que só madame podia comprar e sustentar.
Com certa tristeza, mas conformada, a boa mãe continuou falando.
– Agora, é diferente. O cão em primeiro lugar. Todo mundo, até pobre, morando em casa ou apartamento, tem cachorro de raça, que vai ao veterinário, ao salão de beleza, usa roupas de grife. Vejo pela minha filha e meu genro. Os dois dizem que adoram cães. É uma disputa para ver quem trata melhor o seu amigo peludo. São estes dois poodles, aqui, um casal. O menino se chama Fritz e ela, Frida. Sabes, o meu genro é de origem alemã, família de Pomerode, daquelas que ainda falam o Patença, como dizem por lá.
– Minha filha e nem meu genro podem cuidar dos bichinhos durante o dia. Trabalham em Itajaí. Saem de manhã cedo e só voltam à noite. Então, sobrou para mim. Vou todos os dias, de manhã e de tarde, no apartamento deles para levar esses dois a fazer suas necessidades e passear. Não reclamo, porque é uma forma de me distrair um pouco.
– Olha, minha querida, sempre pensei que, na minha velhice, iria cuidar dos netos. Mas, nunca imaginei que seria cuidadora de cachorro.
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