João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: bloco dos kaingangs de Chapecó

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: bloco dos kaingangs de Chapecó

João José Leal

No final de fevereiro, a pandemia recuou e já não assustava mais. Aliviados, depois de dois anos de afastamento sanitário, a turma do Alvorada do Atlântico decidiu realizar o seu baile de carnaval da terceira idade, que os mais jovens dizem ser o baile dos velhinhos assanhados. Outros, mais insolentes, falam que é a festa do reumatismo.

Assim, como nos anos anteriores, o carnaval da terceira idade mais uma vez foi um sucesso e assunto para conversas até hoje. Maria Antônia, gaúcha de Passo Fundo, como sempre, estava com a palavra contando para as amigas o acontecido nos dias de preparativos para a festa carnavalesca.

– As veranistas chapecoenses tinham pensado em formar um bloco de índios, o Kaingangs da Terceira Idade. Queriam homenagear o histórico Índio Condá, a respeito do qual só sabiam que Chapecó era a cidade desse nativo, que o CTG e uma das emissoras de rádio local levam o nome desse indígena. E, porque este é o país do futebol e da bola rolando sem parar, sabiam também que o estádio da Chapecoense leva o nome de Arena Condá. Uma delas lembrou ainda que tem uma rua com o nome desse índio em Chapecó.

– Vejam vocês, amigas. Não quero falar mal dessa turma de Chapecó. Falam com tanto orgulho da cidade, enchem a boca para dizer que é a Capital do Oeste, mas ninguém sabia que o herói chapecoense havia nascido no século 19, numa aldeia das terras do Planalto de Guarapuava. Ignoravam por completo que, um dia no passado já distante, esse indígena liderou o seu povo nativo para defender as terras da região do Rio Chapecó, contra a invasão de fazendeiros vindos de São Paulo e Guarapuava.

– Desconheciam que a atual história oficial de Chapecó ensina que Condá foi um líder que merece ser reverenciado, por sua luta na defesa da sobrevivência do seu povo kaingang. Lutou, foi perseguido e alcançou uma liderança capaz de negociar com autoridades militares do governo imperial para salvar o seu povo de um massacre ainda maior. Daí a homenagem oficial da cidade e do povo chapecoense ao líder indígena.

– Olhem, colegas, não dá para acreditar. Mas, foi uma amiga de Xanxerê que deu essas informações. Acrescentou, ainda, que foi uma luta inglória do índio Vitorino Condá, marcada pelo sofrimento do seu povo nativo obrigado a ceder em favor do branco invasor, que ali chegava apadrinhado pela força do exército brasileiro para conquistar e ocupar as terras ancestralmente pertencentes à gente kaingang.

– Vocês não vão acreditar. Três chapecoenses eram filhas de antigos fazendeiros daquela região e não gostaram muito daquela história. Formou-se uma discussão, quase brigaram e, ao final, decidiram nada de índio. Então, como vocês viram, as mulheres foram fantasiadas de colombina e odalisca. E os maridos, a muito custo, concordaram em vestir uma bermuda branca e aquela camisa verde e branca da Chapecoense. Mas, com resistência de alguns, porque Chapecó está cheia de gremistas e colorados.

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