João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Coronavírus e o primeiro surto de doença em Brusque

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Coronavírus e o primeiro surto de doença em Brusque

João José Leal

Tanta ciência e tecnologia, tanto conhecimento e a medicina deste século 21 não consegue domar esse microscópico cavaleiro do mal chamado coronavírus. Estamos como há 160 anos, quando o medo e o confinamento eram as únicas armas contra doenças contagiosas. Fiz uma pesquisa sobre epidemias, surtos de doença e toques de isolamento ocorridos no passado da nossa Brusque. As fontes históricas são escassas. Quase nada ficou registrado.

Nossos colonos-fundadores, gente de têmpera forte, enfrentaram com admirável coragem a dureza dos primeiros tempos nesta terra prometida, ainda sem ruas nem estradas, sem casas nem saneamento, sem escolas, sem médico nem hospital. Aqui só encontraram a terra virgem, a mata inóspita a ser derrubada e tudo por construir.

Toda essa bravura para aqui se estabelecer não os impediu de, logo nos primeiros dias, chorar a primeira morte relatada da história brusquense. Data certa do falecimento não se sabe nem seu prenome é conhecido. Sabe-se apenas que era uma criança de 18 meses de idade, filha de João Groh e que o óbito ocorreu logo depois de 19 de agosto de 1860. A pequena já teria vindo doente para ser a primeira imigrante a ser enterrada neste chão que um dia viria a ser esta cidade de Brusque.

A bravura dos primeiros imigrantes também não impediu que se assustassem diante de uma desconhecida virose, que fez diversos doentes, numa população de apenas 370 pessoas. Nas palavras do Barão de Schneeburg, um surto de “diarreia de sangue” que ele atribuiu “à humidade (sic) contínua da atmosfera, tinha molestado vários colonos”.

Sem médico nem hospital, os mais doentes devem ter sido atendidos nos rústicos leitos estendidos nos chãos de terra batida ou nos catres de madeira bruta e cipó instalados nos ranchos de pau a pique. Assim, a força da doença transformou a primeira e provisória morada coletiva dessa gente pioneira numa enfermaria da desassistência médica, do medo e da desolação.

Mas, eram fortes. Enfrentar o mal era preciso, em terras do Novo Mundo. Felizmente, a misteriosa doença tinha vindo para cumprir sua tenebrosa missão de assustar. E não para matar. A única morte foi a da pequena Groh, que adoecera durante a viagem. Como neste tempo de coronavirus, os escolhidos para morrer, geralmente, já são os portadores de moléstias preexistentes ou, cumprindo a lei natural, os mais velhos.
Passado tanto tempo, a Medicina avançou de forma extraordinária e a ciência tem feito maravilhas. No entanto, uma coisa parece certa. Hoje, como ontem, diante de um misterioso vírus que traz doença e morte, só temos o isolamento como remédio e o medo como indesejável comparsa.

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