João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Divórcio e partilha dos cães

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Divórcio e partilha dos cães

João José Leal

Neste tenebroso tempo de pandemia causada pelo coronavírus, escolas fechadas, alunos e professores em casa, as duas professoras de uma escola estadual se reencontram depois de quase um ano.

– Como estás, Maria Francisca, que bom te ver. Eu estava mesmo querendo falar contigo. Estou pensando em comprar ou adotar um cachorro e um dia me disseste que tens três deles em casa. Gostaria de algumas informações sobre despesas, vacinas, banhos e, principalmente, sobre o incômodo que poderei ter. Sabes como é. Hoje, gente que se preza tem o seu cão de estimação. Alguns, como tu, têm três ou mais. No entanto, moro num pequeno apartamento e não quero comprar briga com os vizinhos.

– Olha, amiga, gasto em média 500 reais com ração, banhos e vacinas no Pet Shop perto da minha casa. Mas, pensa bem antes. Dás aula o dia todo. Se não tens com quem deixá-lo, podes te incomodar. O bichinho pode sentir a tua falta e ficar latindo o tempo todo. Não é só a gente. Animal, especialmente, o cão sente saudade danada e começa a ganir alto, como se estivesse chorando. Então, não vai faltar um vizinho, desses que não gosta de cachorro, para reclamar do barulho. O síndico vai te chamar e até ameaçar com multa. Pior, pode fazer uma denúncia de maus-tratos contra animais. E o que não falta é uma entidade protetora para te azucrinar a vida.

– E como fazes com os teus cães?

– Ah! Eu deixo os meus queridinhos num quarto, até a minha volta. Eles foram amestrados para não ganir e para fazer as necessidades num local apropriado. Até agora, não tive qualquer problema. Quando chego do serviço, é aquela festa.

– Tem outra coisa. Se gostas de viajar, fica sabendo que não é legal deixá-lo sozinho por muitos dias. Fica triste, até doente com a falta da dona. Durante três anos, fomos a Belém passar o Natal com os pais do meu marido. Os cachorros foram juntos. Custa caro e dá trabalho. Passamos o ano economizando cada centavo. Uma vez, fomos de carro, três dias de viagem e tem hotel que não aceita cachorro. Foi um sufoco. Mas, eu prefiro ficar em casa que viajar sem os meus dois cães.

– Maria Francisca, não eram três cães?

– Não estás sabendo? Deve ser a pandemia. Desde o ano passado estou separada do meu marido. O safado estava de caso com outra. Até iria perdoá-lo. Mas, disse que estava apaixonado pela sirigaita. Então, decidi pedir o divórcio amigável. Não temos filho e mandei o meu ex-marido sair do apartamento, que já era meu antes do casamento. Ele não podia reclamar nada. Veio do Pará com uma mão na frente e outra atrás. A única discussão aconteceu porque ele quis levar o Yellowstone, o Golden dourado que eu amava de paixão. Passei uma semana chorando com a separação. Não do meu ex que é um safado. Mas, do meu adorado Yellowstone. O meu consolo é que fiquei com a Princesa e o Brad Pitt.

– Então, fica sabendo. Fala para o teu marido e deixa bem claro que, se um dia vocês resolverem se separar, tu ficas com o cachorro.

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