João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Enchente de 1984, quem viveu não esquecerá!

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Enchente de 1984, quem viveu não esquecerá!

João José Leal

Ontem, a tragédia da grande enchente completou 35 anos. Se não foi a maior do século passado, certamente, foi a mais devastadora, a que mais causou destruição. Outras, as de 1911 e 1960, também ficaram na história como “grandes enchentes”. Mas, a de agosto de 1984 inundou uma cidade que já abrigava considerável população urbana, com muitas residências, indústrias e casas comerciais construídas em áreas baixas e alagáveis. Isto, com certeza, fez a diferença para que causasse tanto impacto, tanto estrago e deixasse, na sua rápida passagem, um assustador rastro de destruição sem precedentes.

Bastou um dia de chuva para colocar nossa cidade, suas casas, seus estabelecimentos comerciais e industriais debaixo d’água. A chuva torrencial começou forte, intensa, na madrugada do dia 5, domingo. Sem dar tréguas, sem parar um minuto, choveu a canivetes durante todo aquele fatídico dia de descanso. Seria apenas mais uma enchente da nossa história, não fosse a infeliz coincidência de, na véspera, ter chovido a cântaros na região de Vidal Ramos.

Então, naquela sinistra noite dominical, deu-se o tenebroso encontro das águas aqui despejadas com aquelas que rolaram desde as cabeceiras e seus afluentes. E o nosso Itajaí-Mirim, sempre quieto no seu leito, transbordou para se transformar num mar a invadir as partes baixas desta naufragada cidade. E a manhã de segunda-feira amanheceu com a grande enchente colocando Brusque embaixo d’água.

Na parte baixa do bairro Jardim Maluche, vi muita gente chorar, lágrimas escorrendo dos olhos. Vi suas casas, suas moradas construídas a duras penas, os jardins e hortas cuidadosamente cultivados, tudo impiedosamente invadido pela água barrenta; vi casas com a água passando veloz e furiosa na altura dos telhados; vi eletrodomésticos embaixo d’água, móveis de madeira boiando nos quartos e salas e, até alguns, passando rápido na correnteza as ruas e quintais, convertidos num rio caudaloso. Com tristeza na alma, vi também famílias inteira assustadas, pais em silêncio e abatidos, mães desoladas, crianças tristes, famílias inteiras assustadas, expulsas de suas casas pelo flagelo diluviano.

Já no dia seguinte as águas começaram a baixar, tão rápido como haviam chegado para depositar um formidável mar de lama no interior das casas, nos quintais e nas ruas da cidade. Mas, tudo passa. As águas também passaram e levaram consigo o desânimo, o medo e a tristeza de uma população que, mais uma vez, precisava superar a tragédia. Então, testemunhei a coragem, a bravura, a vontade inquebrantável de trabalhar e de reconstruir que o povo brusquense carrega consigo, saga herdada dos seus antepassados.

Na terça-feira, não lembro se já havia sol ou se ainda chovia, baixadas as águas, causou-me forte emoção ver o exército de bravos brusquenses, vassouras nas mãos, baldes, mangueiras, pás e enxadas – armas da limpeza e da ordem – a trabalhar arduamente para reconstruir suas vidas, fazendo a grande faxina nos seus lares danificados, enlameados pela tragédia diluviana. Não eram somente pais, filhos e familiares, mas também vizinhos e amigos, empenhados num espetacular mutirão comunitário, numa impressionante ação solidária para varrer as imagens da destruição.

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