João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Primeira professora, a iluminadora de mentes!

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Primeira professora, a iluminadora de mentes!

João José Leal

Já com seus 70 anos, a paciente chegou ao balcão e apresentou a carteira do plano de saúde para a consulta com o cardiologista. A secretária abriu um sorriso cheio de simpatia e, antes das anotações rotineiras, perguntou como se a conhecesse de longa data.
– Como vai a senhora? Faz tempo, mais de 30 anos, que não lhe vejo. Sabe como é, com esse pessoal que veio de fora, de outras cidades, muitos da Bahia e até do Pará, Brusque cresceu demais nos últimos anos. Não é mais como antes e a gente acaba não encontrando mais as pessoas conhecidas.

– Você já me conhece? Desculpe, não estou reconhecendo você.

– Fui sua aluna no primeiro ano do primário, no colégio Dom João Becker. E ninguém esquece da primeira professora. Aliás, quando converso com os meus colegas daquela turma que começou em 1980, sempre lembramos dos bons professores que tivemos. Mas, a senhora era especial. Talvez por ter sido a nossa primeira professora, toda a turma adorava a senhora. Cada um lembra de alguma coisa que marcou aquele nosso primeiro ano de escola.

– Todos em fila, como era a disciplina da época, ficávamos em silêncio, esperando para ver a sua chegada e responder, bem alto, ao Bom Dia que a senhora nos dava, sempre alegre e com muita simpatia. Nenhum dos seus alunos daquele tempo esquece a imagem da professora sempre de salto alto e muito elegante. Em casa, muitas vezes, botei os sapatos da minha mãe e ficava tempo na frente do espelho. Dizia para ela que, quando crescesse, eu queria ser professora como a dona Ana.

– Hoje, quando uso sapato de salto alto, lembro da senhora. Não sei como a senhora conseguia ficar tanto tempo em pé, caminhando por toda a sala, olhando os cadernos, corrigindo as tarefas, os erros e, com a maior delicadeza, insistindo para todos melhorar a letra. Hoje, se tenho letra bonita, agradeço à senhora.

– A turma era grande e alguns tinham dificuldades. Mas, a senhora tinha um jeito especial para lidar com eles. Lembro que tinha o Francisco que se recusava a escrever o ditado, não fazia as leituras nem aceitava escrever no quadro. Só queria fazer contas. Outro, também com dificuldade, era o João Bento, surdo-mudo e a senhora conseguiu que ele aprendesse a ler e escrever como todos os outros. Recordo, ainda, do Fernando, que tinha uma doença rara, era albino, pouco enxergava e queria a senhora sempre perto dele.

– Todos nós ficávamos admirados com a sua calma, a sua paciência e delicadeza para ensinar a todos nós, principalmente, aos três que precisavam de atenção especial. No começo, tínhamos até um pouco de preconceito. Achávamos que eles iriam atrapalhar as aulas. Mas, a senhora nos mostrou que a convivência era possível. Não demorou muito, todos compreenderam e colaboravam.

– Fico feliz em ver a senhora novamente, depois de tanto tempo. Quero dizer-lhe que sou muito grata por tudo o que a senhora fez por mim e pela nossa turma.

Amanhã é o Dia do Professor. Dedico esta crônica a todos os professores e, especialmente, à Ana Maria, que foi uma excelente professora do primeiro ano do curso primário. Por muitos anos, iluminou as mentes de centenas de crianças, ensinando-as a encontrar o caminho do saber e da cidadania.

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