Rodovia Antônio Heil, uma novela sequicentenária!
No ano de 1862, o Barão Schneéburg escreveu ao governo provincial que “uma obra de grande e incontestável necessidade é a abertura e factura de uma boa estrada em direção conveniente da Colônia à Villa de Itajahy”. Dois anos depois, diversos colonos assinaram requerimento, no qual se confessavam “convencidos da augusta benevolência de Sua Majestade […]
No ano de 1862, o Barão Schneéburg escreveu ao governo provincial que “uma obra de grande e incontestável necessidade é a abertura e factura de uma boa estrada em direção conveniente da Colônia à Villa de Itajahy”. Dois anos depois, diversos colonos assinaram requerimento, no qual se confessavam “convencidos da augusta benevolência de Sua Majestade Imperial e, assim, ousavam colocar ao pé do trono um pedido urgente e necessário para o progresso da Colônia”.
Com toda a reverência de respeitosos súditos, suplicavam que o Imperador se dignasse dar “as necessárias ordens para factura da comunicação terrestre da nossa Colônia com a Villa de Itajahy”. Só assim, diziam os colonos, ficaremos livres “do flagelo de continuar forçados a vender os nossos productos aos poucos negociantes da sede da Colônia” e deles comprar as “nossas precisões por preços caríssimos”.
Outros pedidos semelhantes continuaram sendo encaminhados aos governos provincial e imperial em documentos guardados no Museu Casa de Brusque. Em 1875 foi anunciada o término da importante obra rodoviária, que só ficaria completa mesmo em 1905, com a construção da Ponte Vidal Ramos. Cheia de curvas, com muitas subidas e descidas, a velha estrada colonial serviu por quase um século. Acabou sendo substituída pela SC-486, mais moderna e digna do tráfego de veículos motorizados.
Conhecida como a nossa Antônio Heil, sua implantação foi mais uma longa novela, cujos capítulos de se desenrolaram por 10 anos, até sua inauguração, em 1974. Alguns anos se passaram. Vieram enxames de automóveis e caminhões e o progresso já não tolerava mais estrada de poeira, buraco e lama. Então, foi a vez da campanha pelo asfaltamento. O verbo mudara. Em vez de súplica à Sua Alteza Imperial, a República passou a garantir o direito de reivindicar, mas sem data marcada para atender ao pleito popular.
O tempo passa rápido e o progresso está sempre a exigir mudanças contínuas. Uma nova campanha comunitária passou a reivindicar a duplicação dessa movimentada rodovia. Depois de inúmeras promessas, a obra foi iniciada em 2014 e sua inauguração com discursos oficiais aconteceu em 2017, por um governante de saída. Como estamos cansados de saber, inauguração nunca foi garantia de obra pública completamente acabada. Assim, o trevo de acesso à BR-101 não foi construído.
Em março, foi anunciada a licitação para execução dessa obra final. Passaram dois meses e, na semana passada, este jornal publicou a informação governamental de que é preciso antes ajustar o preço da obra. É triste, mas é assim. Em nosso país, obras públicas são prometidas. O início, nunca se sabe quando vai acontecer. E o seu final, muito menos ainda, só a Deus pertence.
E assim, tudo indica que vamos amargar mais alguns anos enfrentando engarrafamos quilométricos para ingressar na BR-101.