José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Masculinidade, paternidade e sacrifício

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Masculinidade, paternidade e sacrifício

José Francisco dos Santos

Ninguém nasce, vive ou morre para si mesmo. Nada do que somos faz sentido se, de algum modo, não estiver a serviço, como um dom a entregar, como um sacrifício a ofertar. Ser homem também precisa ser visto sob essa perspectiva. Se à mulher cabe, como papel natural, gerar e acolher a vida, ao homem cabe protegê-la. Ele não tem útero, sua sensibilidade não é das melhores para as coisas afetivas, mas tem um faro mais aguçado para detectar o perigo e uma configuração física mais adequada para fazer frente a ele. É próprio dele não se furtar ante o perigo iminente de vida ou de mutilação. Há um bem mais valioso que a sua própria vida, que lhe incumbe proteger.

Nessa tarefa, a masculinidade ganha seu contorno definitivo. Não se trata apenas de ter um pênis entre as pernas, ser forte, desafiar o perigo por mera diversão. Tudo o que o homem é converge para a função que lhe cabe: cuidar e proteger a família dos perigos externos e inserir os filhos, a seu tempo, nesse mundo hostil, que em nada se parece com o aconchego do útero ou com o colo da mãe. Ao se entregar sem medidas nessa tarefa, torna sagrado o que poderia ser apenas um equivalente mais refinado dos instintos dos animais.

No espaço sagrado que traz dentro de si, o homem toma contato com o que o move desde o início, mas que ele nem sempre reconhece: o Amor Ágape. O impulso sexual é Eros, a busca, no outro, daquilo que falta a si. O erotismo o impulsiona na direção do feminino, que é a parte que lhe falta. Nesse impulso natural geram-se os filhos, a Terra é povoada. Até aqui é tudo similar ao animal. Mas nenhum homem se realiza apenas nessa dimensão. A enorme riqueza interior do ser humano precisa de tempo, espaço, proteção e cultivo para se desenvolver. Por isso o homem e a mulher são chamados a formarem família, e não apenas a se juntarem em época de cio. E a família é o lugar do sacrifício. Sacrificar significa tornar sagrado. Não se trata de se resignar a uma obrigação enfadonha. O verdadeiro sacrifício liberta, dá sentido, põe um sorriso na alma. Quem procura viver apenas para si mesmo jamais saberá o que isso significa. Buscará sempre a própria satisfação. Verá o esforço e a responsabilidade como um peso, do qual tentará se livrar ou carregará com ar de desgosto. Mas quem entende que sua existência e sua função nesse mundo é parte de algo maior e mais significativo não fugirá à luta. Renunciará a si mesmo para proteger os que lhe são confiados dos perigos físicos, culturais e espirituais. Nesse processo, se aperfeiçoará, ficando cada vez mais disposto e preparado para a tarefa. Aprenderá a amar no sacrifício, e acessará o nível mais elevado desse jogo da vida, no qual muitos permanecem apenas na fase inicial. Essa é a vocação humana em geral, mas masculina de modo especial. Conheço muitos homens que trilham esse caminho, e são sacerdotes nas suas famílias, oficiando o sacrifício cotidiano de prover, proteger, corrigir, encaminhar. Que o Dia dos Pais desperte e renove em nós a vocação masculina do sacrifício. O mundo precisa de homens que vivam para além de si mesmos. Já temos banzos demais!

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