José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Saindo do casulo

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Saindo do casulo

José Francisco dos Santos

Li alguma vez, não me lembro em detalhes, uma estória a respeito de um indivíduo que ficou com pena das borboletas, que passam por um processo penoso para saírem do casulo. Inventou, então, uma maneira mais fácil de tirá-las de lá. O resultado foi uma leva de borboletas feias e desengonçadas, que mal conseguiam voar.

Querendo facilitar a vidas das larvas no casulo, o cara não se deu conta de que as dificuldades criadas para a saída da borboleta são o que fazem com que a larva crie forma e beleza. O casulo é espremido e resistente exatamente para que a larva envide todos os esforços necessários para que a beleza que está nela em potência desabroche. Essa é uma regra básica: o que é fácil e não exige esforço é sempre menos valioso que o que é conquistado a duras penas.

Outra estória parecida é de um homem que pediu a Deus para que tirasse uma montanha de um lugar que atrapalhava seu caminho. Deus então lhe disse que, todos os dias, empurrasse com força a montanha. Ele fez isso por vários anos e a montanha não se moveu sequer um centímetro. Então foi se queixar a Deus, que lhe pediu para que olhasse para si mesmo. Seu corpo estava torneado e musculoso pelo esforço que fizera. A montanha não se moveu, mas ele ficou melhor ao tentar movê-la.

Há situações óbvias na nossa vida em que percebemos o bom resultado do esforço ou o mal resultado da preguiça e do desleixo. Há pessoas talentosas que enterram seu talento na preguiça, e se conformam a um resultado médio sem esforço. E há pessoas excepcionais no que fazem, porque temperaram o talento natural com horas infindáveis de treino e paciência. Basta ver João Carlos Martins ao piano, Almir Sater na viola ou Baryshnikov dançando.

Mas há situações em que não vemos nem compreendemos o processo nem os resultados, pois ultrapassam nossos limites humanos de compreensão. É o caso de pessoas que passam por sofrimentos terríveis, como os que sofrem de uma doença terminal destrutiva – não raras vezes em tenra idade – e dos familiares que os acompanham estarrecidos, sofrendo na alma o que o paciente sofre no corpo.

Há também os que nascem com limitações físicas ou intelectivas, que requerem atenção e cuidados permanentes dos familiares. Outros cuidam de si e dos outros, apesar de sofrerem limitações que nem imaginamos, como dona Lilli Steffens, retratada por Saulo Adami no livro “Nas mãos de Deus”.

Nossa miopia pode nos fazer desacreditar no sentido desse sofrimento, mas eu prefiro acreditar que ele é o casulo que embeleza quem o experimenta, e que o que de melhor brotará de nós está para além da nossa existência mortal. Por isso a eutanásia e o aborto, como desculpa para abreviar ou evitar sofrimentos, são como a “cesariana” dos casulos: desnecessária e destrutiva. Que tenhamos força e fé para enfrentarmos cada sofrimento ou desafio, pequeno ou grande, como quem tece um futuro de harmonia e beleza.

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