João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Laranja e corrupção

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Laranja e corrupção

João José Leal

A laranja, uma fruta cítrica tão saborosa e rica em vitamina C, da qual somos o maior produtor mundial, é hoje um importante produto da agricultura brasileira. Gerando empregos, riqueza e impostos tão necessários para os cofres da República. No entanto, neste país de tanta contradição, de corrupção sem fim azeitando toda a engrenagem da onerosa máquina administrativa pública, o amarelo cítrico tem, agora, outro significado figurativo.

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Longe das terras dos imensos pomares paulistas, a palavra “laranja” tem sido frequentemente usada, num sentido pejorativo, para designar a pessoa que empresta seu nome a fim de disfarçar uma operação financeira suspeita, ilegal ou criminosa em favor de um terceiro, verdadeiro beneficiário da fraude. É uma espécie de “testa-de-ferro” para que um terceiro possa se apropriar de dinheiro público. A expressão teria surgido nos anos de 1970, referindo-se à figura da laranja injetada com bebida alcoólica, usada por contraventores norteamericanos para burlar a Lei Seca.

No Brasil, os “laranjas” da improbidade, podem viver em casas simples, sem endereço, sem profissão e sem emprego. Alguns deles, podem ser inocentes e até não saber que viraram fruta amarela. Outros “laranjas”, porém, são malandros, sabem de tudo, agem na calada da noite, disfarçam, passam por bons cidadãos para tirar vantagem da falcatrua e do assalto aos cofres da república. São os laranjas-podres.

Mas, o pior de todos é o manipulador, o arquiteto do maquiavélico esquema, verdadeiro beneficiário da ação criminosa. Diferente da “fruta”, o manipulador pode ser um parlamentar, federal, estadual ou municipal, operador do abominável esquema da “rachadinha”, tão familiar nos corredores do Congresso Nacional, das assembleias e até de câmaras municipais, que transforma assessores em lavanderias de recursos da nação. No Brasil, assessoria parlamentar virou sinônimo de apropriação criminosa de dinheiro público.

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O chefe do “laranjal” pode ser, ainda, alto funcionário, grande empresário e sonegador de tributos, até políticos que chegaram à presidência da República e aos governos de estados, como revelaram as operações policiais dos Portos, da Lava Jato e tantas outras. Já houve casos de manipulador em Tribunal, que assacava parte do salário do assessor e que acabou aposentado como castigo por sua conduta criminosa. Isso demonstra, de forma inequívoca, que temos “laranjas” espalhados por todos os escalões da administração pública e da área empresarial.

Não é por acaso que estamos mal, muito mal mesmo, no ranking da corrupção mundial, beirando o vergonhoso centésimo lugar entre as demais nações. Pior do que o Brasil, nesse ignominioso campeonato da improbidade, só Ruanda, Timor Leste e países, onde o vírus da corrupção divide a população em uma minoria milionária e privilegiada e uma maioria de pobres e excluídos sociais.

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