Eu venho de uma geração em que as mulheres já foram, na sua maioria, estimuladas e preparadas para, primeiro, pensarem na sua vida profissional, estudar, trabalhar, se estabelecer profissionalmente e depois pensar em ter filhos. Confesso, que comigo, as coisas não aconteceram assim. Muitas de vocês irão se identificar, com certeza!

Primeiro virei mãe e vivo nessa “profissão” há quase 22 anos. Já fui esposa também, hoje não sou mais.

Por muitos e muitos anos sendo mãe, sempre carreguei nas minhas costas um peso tão grande em mim. Levei essa missão de uma forma tão sufocante. Me cobrava tanto internamente. Meu Deus? O que é ser mãe? Tenho que ser MÃE! Um ser que vem de onde? Será que só eu era assim? Mãe tem que ser perfeita, tem que perder 200 quilos em um mês pós gestação, não pode fraquejar na frente dos filhos, desde seu primeiro dia de vida. TEM QUE AMAMENTAR. Tem que seguir o manual politicamente correto sei lá de onde. Mãe não pode mais sair de casa com as amigas, não pode comer porcaria na frente dos filhos e jamais tomar uma cerveja sequer! Tem que ser a primeira a acordar e a ultima a dormir, mesmo quando seus filhos já tenham 20 anos na cara. E você não pode mais namorar. Mas você também não pode escolher ser feliz sozinha porque senão vão falar mal de você! Mas você também vai escutar milhões de vezes que um dia vai encontrar um homem bãoooo pra te “ajudar” a cuidar dos filhos. Mas, oi?

E a vontade que dá de ficar longe dos filhos às vezes. Você sonha em passar algumas horas, ou dias, longe deles, mas, no mesmo instante em que pensa isso, se arrepende, se culpa, se sente uma péssima pessoa. Afinal, que mãe em sã consciência poderia querer ficar longe dos filhos? Só uma desalmada, não é mesmo? Mas será mesmo que sou uma desalmada pensando assim?

Em todos estes anos, na minha principal profissão, a de Mãe, tive ela como principal objetivo de vida, sim. Preparar meus três filhos pra vida. Não me arrependi em nenhum segundo. Tenho orgulho de tudo que fiz e faço por eles. Mas alguma coisa não estava funcionando bem. Sempre tinha algo no ar que parecia meio estranho. Refleti muito, mas só consegui descobrir o que era quando me encarei literalmente frente a frente com meu espelho. Eu tinha esquecido da Daniela. Eu vivia sendo mãe. A mãe tinha me engolido. E a mãe estava engolindo tudo de bom ao meu redor também. Aos poucos, consegui me resgatar e a Dani voltou pra mim. Hoje virei gente de novo.

 

Hoje eu sou mulher. Mulher que é mãe, lembrando que maternidade não é estado civil. Tenho angústias, mau humor, sonhos, muitos desejos, planos, sofro muito e choro. Quero sair pra dançar, tomar cerveja e o gin que eu amo. Quero dar boas risadas com meus amigos. Quero beijar, namorar, quem sabe até casar (isso não significa virar pai dos filhos). Quero trabalhar muito, produzir muito. E ser eu mesma daqui pra sempre.

 

Desde que me resgatei, consegui parar de querer ser sempre perfeita na frente de meus filhos e desencanei com o que os outros pensam.  Meu papel de mãe está mais leve. Meus filhos estão mais afetivos, mais receptivos, mais abertos. Tudo fluindo melhor.

O que eu queria compartilhar, é que, ser mãe é massa! Mas não podemos nos anular. Não dá pra deixar esse lado engolir todo nosso ser. Aceitar nossas imperfeições nos faz mais perfeitas pra todos ao nosso redor. Porque o tempo está passando!!! Temos que buscar o que nos faz feliz. Temos que nos realizar como pessoa. Sendo casadas, solteiras, namoradas, mães, profissionais. Onde quer que seja, fazendo o que quiser. Realizando aquilo que está lá guardado nos sonhos, as vezes de uma vida inteira. Nunca é tarde. Todo dia é uma nova chance pra tentar. Realizações pessoais nos tornam mais humanos, mais felizes. Felicidade contagia. Super vale a pena. Antes de ser mãe, SEJA VOCÊ!

 


Daniela Moritz
– “articulista das minhas incertezas existenciais”