Mercearia do Santa Terezinha mantém mesmo modelo de negócio há quase cinco décadas

Caderninhos registram fluxos de caixa do estabelecimento, que só passou a emitir notas eletrônicas neste ano

Mercearia do Santa Terezinha mantém mesmo modelo de negócio há quase cinco décadas

Caderninhos registram fluxos de caixa do estabelecimento, que só passou a emitir notas eletrônicas neste ano

Clientes fiéis e a dedicação do filho ajudam a manter a mercearia da dona Dona Loli ainda ativa, no bairro Santa Terezinha. O local acompanhou o desenvolvimento do bairro nos últimos 47 anos, sobreviveu à concorrência com o surgimento de grandes redes, sem deixar de lado a identidade dos primeiros anos de atuação.

O desenvolvimento do bairro não impediu que Américo Gustavo de Oliveira, 82 anos, mantivesse os hábitos de compra na mercearia, considerada por ele um ponto de encontro dos moradores. As primeiras compras foram quando o negócio ainda era gerido por Marinho e Loli Sens, há mais de 40 anos.

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Nas prateleiras da mercearia, é possível encontrar desde pães, cucas, bolos e bebidas a, vassouras de palha e produtos de higiene e limpeza. O local chegou a vender milho e farelos para galinha, panelas, peças de louça. Durante a maior parte do tempo de operação, arroz e feijão só eram vendidos a granel.

Parte da rotina dos primeiros anos de atuação é mantida até hoje. O café é passado no saco de pano e uma balança com quase 40 anos fica guardada no estoque, para suprir necessidades em casos de falta de energia. As notas fiscais eletrônicas funcionam há apenas dois meses. Até o período, os comprovantes eram preenchidos à mão, com caneta.

Nos cadernos e fichas estão os cadastros de clientes ativos desde o fim da década de 1970 e não só do Santa Terezinha. No entanto, a modernidade vem aí: máquinas para serviços de cartão de débito ou crédito estão nos planos.

Ele atribui a longevidade do negócio à praticidade para quem mora no entorno do estabelecimento. “Além da ligação que temos, é uma boa para a gente. É mais fácil e mais perto para quem mora aqui”, diz Oliveira.

Paixão à moda antiga
O local é mantido pelo filho dos fundadores, Oricélis Legal Sens, o Celinho. Aos 54 anos, se descreve como um apaixonado pelo modelo criado pelos pais para o negócio e a aproximação gerada com a população local. Até cerca de oito anos atrás, ele abria para receber clientes de domingo a domingo.

Ele atribui o carinho dos moradores do Santa Terezinha pelo local à forma de interação desde os primeiros anos de atividade. Na época, a família havia locado o negócio, que era considerado falido. Loli, hoje com 81 anos, entregava balas aos filhos dos clientes como forma de cativar novas visitas. A prática é mantida até hoje por ele, usando pirulitos.

O prédio de madeira, na rua Santos Dumont, chegou a ser utilizado por mais de 20 anos, até dar lugar ao estacionamento atual, com coqueiros. Foi com o dinheiro gerado com o negócio e a venda do carro da família na época que viabilizaram a compra da área e a construção da estrutura atual.

Ele reconhece que o modelo já não é habitual ou viável para novos negócios, mas se orgulha da história do estabelecimento e as amizades mantidas ao longo dos anos.

Sens começou ajudando a mãe nos horários disponíveis. Para manter o negócio operando, quando a Loli adoeceu, resolveu deixar o emprego e se dedicar à mercearia.

Casa e trabalho
A compra do local, lembra, foi uma a forma da família conseguir mais estabilidade para enfrentar o tratamento de saúde do pai. Quando resolveram investir, o casal havia recém voltado do Paraná, onde haviam tentado apostado na produção de arroz. Pouco tempo após a chegada a Brusque, Marinho precisou ser internado e a administração ficou por conta da esposa.

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Sens destaca a ajuda de familiares no início da trajetória deles em Brusque, ainda antes do local de trabalho se tornar a casa da família. O apoio garantiu não só com que conseguissem organizar o negócio, mas na adaptação à nova cidade.

O tempo de atividade permite que a Sens conheça boa parte dos clientes pelo nome. Tradicionalmente, a “venda”, como ele prefere descrever, não tem o nome na fachada. “É para não chamar bandidos, assim, quem quer comprar vem”, brinca.

Além da discrição com o estabelecimento, a segurança tem outro reforço à moda antiga. Nas duas portas, quatro cavaletes complementam as fechaduras. As madeiras usadas ainda são as originais e já mostraram sua utilidade em duas tentativas de arrombamento.

Sens afirma não ter previsão de parar com a atividade e se diverte ao lembrar das previsões pessimistas que escutava a cada nova rede de supermercados que surgia na cidade. Mesmo com as exigências de modernização de equipamentos e de adaptações estruturais, ele garante que quer manter as características que fizeram a mercearia reconhecida no Santa Terezinha.

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