Que Brusque não tem praia todos sabem, mas como está tão próxima do litoral, vale lembrar que está aberta a Temporada da Tainha.

A pesca da tainha acontece no período de 1º de maio até 31 de julho. Ocorre em todos os estados da região Sul e na área litorânea do Sudeste, sendo em Santa Catarina o maior volume de captura. É no outono, auxiliados pelo forte sopro do vento sul, que grandes cardumes migram do Rio Grande do Sul (Lagoa dos Patos) para reproduzir por essas regiões.

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A pesca de arrasto de praia é uma modalidade artesanal, bem como uma tradição centenária. Uma figura muito importante nessa prática é o “vigia” que está sempre atento aos movimentos do mar e garante que o cardume seja detectado ao se aproximar da costa. Dia e noite esses homens (sim, essa ainda é uma atividade estritamente masculina) estão apostos e vigilantes. Pode chover ou fazer um sol de rachar, ou mesmo estar um frio danado, que ele está sempre lá nas pedras e ao identificar uma aglomeração de peixes o vigia acena freneticamente com um casaco ou uma espécie de bandeira (não estou certa se já se renderam à tecnologia e usam o celular para avisar os companheiros) com o sinal os outros camaradas que estão sempre com a canoa pronta na praia. Ansiosos, ao receber o aviso, esses homens entram no mar e fazem o cerco, lançando a rede de modo a encurralar os peixes impedindo que fujam para o mar aberto. A partir daí todos os que estão por perto ajudam a puxar, pescadores e seus familiares, comunidade e turistas. Muitos têm que entrar na água para agarrar a barra da rede e iniciar o trabalho. Após todo o cardume estar amontoado na areia procede-se a contagem das tainhas e a distribuição do quinhão e é aí que vem a recompensa, pois quem ajuda se dá bem, levando para casa um ou mais peixes, conforme foi a fartura da matança.

Certo dia, sem aviso prévio, reparei grande movimentação na praia, fui correndo ver do que se tratava e logo fui envolvida num trabalho pesado, cheio de adrenalina e emocionante, eu estava ajudando a puxar uma rede de arrasto! Foi uma experiência incrível! Ganhei duas tainhas ovadas! Fiz delas sashimi e filés. Creio que o prazer de saborear um peixe fresco (fresquíssimo) é algo que todos deveriam provar.

As ovas da tainha tem amplo apelo comercial e geralmente são retiradas do peixe para serem negociadas separadamente. O valor do quilo da ova é consideravelmente maior que o valor da carne da tainha. A bottarga, que é um processo de desidratação da ova, transformando-a em um tipo de caviar, é uma iguaria que tem se difundido no mercado nacional e internacional. Tem sabor marcante e inconfundível, produto sofisticado. Experimente saborizar saladas ou fatiar para acompanhar pães e queijos.

 

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@cozinhaprabikers

Gosto de valorizar nossa tainha, nossos peixes, creio que os produtos locais são sempre os melhores. Quando penso em preparar a tainha, são diversasformas que me dão água na boca. Quando bem fresca, na forma de sashimi, que já comentei a pouco. Além desse, nas formas: filé, posta, inteira ou espalmada. O interessante de se fazer filé é que ao retirar a pele, fica fácil de raspar a gordura que está entre a carne e a pele e assim extrair o “sabor forte” que muitos identificam. Ainda em relação ao filé, o ideal é selar em frigideira com bom antiaderente e um fio de azeite de oliva e fogo bem alto. Se sua preferência for cortar o peixe em postas, fica uma delícia submetê-lo a fritura por imersão. No caso de manter a tainha inteira, pode-se recheá-la e assar em forno, ou assá-la na churrasqueira, se essa for a opção, procure manter as escamas e deixar essa parte em contato direto com a grelha. Quando o corte aplicado for o espalmado, pode-se assar no forno ou em churrasqueira e nesse caso segue a indicação de manter as escamas. Muito versátil e saboroso esse peixe de época é irresistível! Ahhh para os que gostam de festas populares, fiquem atentos, as “Festa da Tainha” estão chegando!

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Michelle Kormann da Silva – Gastrônoma