Morador do Steffen percorre seis quilômetros diários de cadeira de rodas para custear curso

Constâncio Matos perdeu os movimentos das pernas em 2009 e hoje conta com equipamento motorizado

Morador do Steffen percorre seis quilômetros diários de cadeira de rodas para custear curso

Constâncio Matos perdeu os movimentos das pernas em 2009 e hoje conta com equipamento motorizado

Baiano de Ponto Novo, cidade a cerca de 350 quilômetros de Salvador, Constâncio de Matos, 54 anos, mora em Brusque há pouco mais de dois. No município, além da possibilidade de estar mais próximo dos filhos e irmãos, consegue manter mais qualidade de vida e autonomia para se deslocar e trabalhar.

Matos foi para São Paulo ainda adolescente e lá formou família. Em 2008, mudou para Brasília, para trabalhar com construção civil. E foi na capital federal, cerca de um ano depois, que ele sofreu a lesão medular que lhe tirou os movimentos das pernas. A queda de cerca de três metros aconteceu enquanto trabalhava.

Depois do acidente, ele tentou um tratamento com células tronco em Salvador (BA). Sem resultados e o diagnóstico de uma fratura da medula, Matos aproveitou para concluir o ensino fundamental, iniciado em um supletivo em 2003. Era uma forma de se manter ativo e retomar os planos pessoais.

A primeira vez em Brusque foi para visitar um irmão. Vendo o movimento da indústria e comércio, assim como a infraestrutura da cidade, resolveu que ficaria. A possibilidade serviu de incentivo para dois filhos que moravam no interior paulista fixassem residência na cidade. Com o passar do tempo, ele passou a cuidar de uma neta, vinda de Brasília.

Sobre rodas
A mudança de vida causada pela lesão não mudou somente a forma como Matos vê o próprio corpo. Segundo ele, o processo de recuperação e a experiência gerada na busca constante por mais autonomia e adaptação o tornaram mais humano e atento às dificuldades das pessoas a sua volta.

De acordo com ele, o comportamento da população em relação à deficiência também tem contribuído na recuperação de uma rotina mais próxima ao normal. Antes do acidente, a vida era voltada ao trabalho e eventos familiares. “Em Brusque as pessoas não me veem como um coitado. A cadeira é só um meio de locomoção. O meu trabalho é a única forma que tenho de dar uma boa condição de vida para meus filhos e é uma forma que eu tenho de melhorar”.

Mesmo com as dificuldades na rotina, ele prefere manter a autonomia na rotina diária. Gosta de se deslocar sozinho e ajudar nos afazeres da casa. Pedidos de ajuda aos familiares são restritos às atividades que exigem mais altura. Apesar das queixas dos filhos, ele prefere manter a postura como uma forma de motivação.

Apoio para locomoção
Apesar de adaptado à cidade, os primeiros dois anos de Matos no município tiveram a locomoção como um obstáculo a ser superado. Mesmo com pontos precários para o deslocamento de cadeirantes, ele avalia a infraestrutura disponível satisfatória. O porte do município, segundo ele, também dá mais segurança para quando é necessário andar pelo canto da via.

Para facilitar a locomoção sem depender do sistema de transporte público, Matos buscou um financiamento para a aquisição de um Kit Livre. O equipamento está sendo utilizado há quase três meses e é adaptado na frente da cadeira de rodas. Ele atinge cerca de 25 quilômetros por hora e permite mais autonomia, se comparado com as cadeiras motorizadas convencionais.

Mercado limitado
Com sonho de comprar uma casa própria, desde os primeiros dias na cidade, Matos tem feito diferentes entrevistas de emprego. As incursões começavam no bairro Steffen, onde mora. Ele levava mais de uma hora para percorrer os três quilômetros da casa dele até o Centro pela ciclovia. O trajeto era feito mais de três vezes por semana dependendo da força dos braços para tocar a cadeira. Hoje é mais fácil. Com a cadeira motorizada, consegue fazer o trajeto de seis quilômetros – ida e volta – mais rápido.

Em resposta às negativas justificadas por falta de qualificação, tem investido parte do valor arrecadado vendendo títulos de capitalização na praça Barão de Schneeburg, para custear um curso de auxiliar administrativo. Ele recebe 12% do total das vendas e se orgulha da contribuição. “Não é muito, mas consigo me manter ativo, conversar com pessoas, estar com o público”.

Segundo ele, apesar das aberturas do mercado de trabalho para pessoas com diferentes deficiências, ainda existem limitações. Com o direcionamento da maioria dos postos destinados ao público para setores administrativos, vê a falta de profissionais em funções ligadas ao comércio e ao atendimento ao público. A ampliação, na avaliação dele, além de mais oportunidades, também seria uma forma de integração.

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