Hoje a gente chega na face mais pop do ano de 1987, aquela face que é moldada por grandes números: primeiros lugares nas “paradas de sucessos”, grandes vendas de discos – ainda eram tempos em que a indústria fonográfica lucrava furiosamente, sem ter que lutar com a internet.

A gente começa pela realeza. E realeza, a gente sabe, não se derruba sem derramamento de sangue. No caso, o nosso sangue, já que questionar esses reis e rainhas é pedir para comprar briga inútil. Não é mesmo?

 

Bad – Michael Jackson

O Rei do Pop tem, em sua carreira solo, poucos álbuns de estúdio. Bad veio em seguida a Thriller, de 82. A raridade de lançamentos talvez ajude a justificar a atenção reverente que seus lançamentos sempre receberam – com direito ao ritual da estreia oficial de seus videoclipes no Fantástico.

Dá medo apontar o dedo para sugerir que ele tenha sido superestimado em alguns momentos de sua carreira. Especialmente depois que ganhou o título de rei, virou fenômeno acima do bem e do mal. Único. Tão único que sua coroa, de vez em quando outorgada a algum outro cantor pop por jornalistas diversos, não se fixa em nenhuma outra cabeça. Este é um caso em que o rei morreu, mas não se consegue substituí-lo…

Bad tem hits obrigatórios como a música título, Man in the Mirror e Smooth Criminal. Faz parte do auge do cantor.

Madonna – Who’s that Girl

Aqui, a Rainha do Pop não tem um dos momentos de pico de sua obra. Seu disco de 87 é a trilha do filme homônimo, mais uma tentativa medianamente bem-sucedida de Madonna em explodir no cinema.

Mas, mesmo sendo um “disco menor”, a faixa título e Causing a Commotion são daquelas músicas que constam de qualquer greatest hits que se preze.

Madonna, assim como Jacko, é inatacável e dona absoluta de sua coroa – embora tenha cometido o “pecado” de sobreviver e envelhecer em público, o que não é perdoável no mundo pop e é sempre lembrado por fanáticos por outras divas. O mundo pop é cruel.

Xegundo Xou da Xuxa

Pois é, a Rainha dos Baixinhos é um tipo diferente de fenômeno. Ninguém pode dizer que ela tenha uma qualidade vocal extraordinária ou que seu repertório seja de qualidade musical superior. A qualidade, aqui, é toda desenhada para ser… pop. E, já que voltada para as crianças, conseguiu se manter no imaginário e na memória emocional de várias gerações, que confundem, sorry, competência artística com marketing extremamente bem feito. Tão bem feito que ela não pode ser deixada de lado em uma retrospectiva do ano em que teve seu trabalho consolidado. Pode uma coisa dessas?

INXS – Kicks

Midnigh Oil – Diesel and Dust

Aqui temos dois discos da lista enviada pelo Eduardo Loos, que separei para hoje porque encaixam direitinho nos critérios de “paradas de sucesso”. As duas bandas australianas tiveram um ano de ouro em 1987, com músicas populares até hoje.

Da banda de  Michael Hutchence temos New Sensation, Devil Inside, Need You Tonight, Never Tear Us Apart. Foi o disco mais popular deles.

Do grupo de Peter Garrett, o número de canções super executadas não é menor: Beds are Burning, The Dead Heart, Dreamworld e Sometimes não são desconhecidas dos ouvidos que já estavam na ativa naqueles últimos anos dos anos 80.

 

Depeche Mode – Music for Masses

Pet Shop Boys – Actually

O pop com bases eletrônicas continuava seu caminho para a dominação mundial. Aqui temos dois de seus melhores representantes, daquela época.

Ou alguém acha que consegue passar incólume por It’s a Sin (dos PSB) ou das inesquecíveis Never Let Me Down Again, Strangelove ou The Things You Said, do Depeche Mode? Sem chance. São músicas que, mesmo que sejam fruto de muita influência mais “respeitável” (em primeiro lugar, como sempre, o Kraftwerk), seviram como referência para muito do que foi feito, nessa raia, nas décadas seguintes. Não dá para menosprezar.

 

Antes de chegarmos ao Brasil, tem uma sobrinha de títulos sonoros lançados em 87 que merecem menção: Nothing But the Sun, de Sting (com Englishman in New York e Fragile), o duplo Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me, do Cure (Why Can’t I Be You e Just Like Heaven) e o disco que só o Renato Riffel tinha (e que faz questão de esfregar na cara da turma antiga até hoje), Earth, Moon, Sun dos Love and Rockets.

 

E agora… o rock nacional. 1987 não foi um ano de estreias, mas foi um ano de consolidações. Inclusive do próprio gênero: 87 foi o ano em que a gente pode afirmar sem muito risco que o rock brasileiro (Xuxa à parte) dominou rádios e televisões.

Dois lançamentos são destaques absolutos: Que País é Este, da Legião Urbana, que, hoje, tem cara de coletânea de sucessos. Contém, além da música título, Química (que já tinha sido gravada pelos Paralamas), Eu Sei, Faroeste Caboclo, Angra dos Reis… Um marco na história da banda.

O segundo destaque, fundamental até para quem torce o nariz para eles, é A Revolta dos Dândis, dos Engenheiros do Hawaii. É um segundo disco com sabor de estreia, já que muita gente conheceu o trabalho deles através de Terra de Gigantes, Refrão de Bolero, Infinita Highway

Teve ainda D, ao vivo dos Paralamas, Vida Bandida do Lobão, Sexo do Ultraje a Rigor… e muito, muito mais… E tem playlist própria, com um resumão da conversa de hoje!!!!