A Múltiplos Serviços e Obras foi criada em 2009 e, desde então, tem crescido exponencialmente, assim como se notabilizado pelo foco em obras públicas: hoje, a empresa participa de licitações por todo o estado de Santa Catarina.

Seu proprietário, Everson Clemente, era funcionário da Azza Terraplanagem, mas decidiu deixar a empresa e atuar como autônomo. Aí entra Murilo Ceconello, da Setorsul, o potencial delator.

Segundo relatou Ceconello, nessa época, ele ganhou uma licitação pela Setorsul, e terceirizou a obra para ser tocada sob o comando de Clemente, enquanto este estava como autônomo. No decorrer da obra, ele criou a Múltiplos, o que até deu margem para boatos de sociedade entre ambos.

A partir de então, a empresa tem feito do setor público seu meio de atuação principal.

Só da Prefeitura de Brusque, por exemplo, a Múltiplos firmou contratos cujos pagamentos renderam, nos últimos quatro anos, R$ 8,74 milhões em faturamento. Em Guabiruba, foram faturados R$ 4,29 milhões em recursos públicos, no mesmo período.

Em sua resposta a acusação, Clemente afirma jamais ter participado de qualquer esquema ilícito, nem promovido qualquer tipo de conluio para fraudar licitações.

Em petição apresentada à Justiça, ele recorda que a Múltiplos começou a participar de licitações de forma mais intensa a partir de 2012.

A soma das licitações das quais efetivamente recebeu recursos do governo do estado, e que foram colocadas sob suspeita pelo MP-SC, atinge o valor de R$ 779.123,62.

Segundo documentação fornecida pela própria empresa, os processos licitatórios por ela vencidos nos últimos dois anos somam mais de R$ 60 milhões | Foto: Reprodução

Os valores podem ser considerados baixos se for considerado que, de 2015 a 2017, a empresa venceu licitações cujo montante dos contratos firmados chega a R$ 60,2 milhões em obras públicas.

Além de Brusque, Guabiruba e Botuverá, a empresa também atuou e atua em obras públicas em diversos outros municípios do estado.

Podem ser citadas as cidades de São João Batista, Itajaí, Porto Belo, Nova Trento, Major Gercino, Gaspar, Rio do Sul, Camboriú, Luiz Alves, Navegantes, Bombinhas, Canelinha e Balneário Piçarras.

Esse dado, aliás, é apresentado pela Múltiplos na defesa junto ao processo: a alegação é de que não haveria motivo para fraudar contratos que, somados, não chegam a R$ 1 milhão, quando a empresa participou de licitações bem mais polpudas nos últimos anos.

Desde que foi criada, há oito anos, a empresa já sofreu alterações em seu porte, no registro perante a Junta Comercial. Quando criada, enquadrava-se como microempresa. Em agosto de 2013, reenquadrou-se como empresa de pequeno porte. Situação que perdurou até 2014, quando sofreu nova alteração.

Em 2012 iniciou-se sua curta trajetória como doadora de campanhas eleitorais, já que, para o pleito de 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) havia proibido o financiamento por pessoas jurídicas.

Na eleição geral de 2014, a empresa colaborou com R$ 24,2 mil à campanha a deputada federal de Marli Leandro (PT), ex-vereadora. Na mesma eleição, contribuiu com R$ 25 mil à campanha ao senado de Paulo Bornhausen (PSB). Ambos foram derrotados.

A Múltiplos contribuiu, ainda, com a campanha vencedora a deputado estadual de Serafim Venzon (PSDB), com um cheque de R$ 30 mil.

No pleito anterior, em 2012, uma única doação de R$ 1 mil à campanha vitoriosa à prefeitura de Paulo Eccel (PT).