O XIII Simpósio de Filosofia, da Faculdade São Luiz, realizado entre os dias 21 e 23 do mês passado, abordou a Ética na filosofia de Santo Tomás de Aquino. Entre os tópicos desenvolvidos pelos palestrantes, destaco a relação entre liberdade e natureza, porque é fundamental para entender nossos dilemas contemporâneos.
Vivemos numa época em que a afirmação da liberdade do indivíduo parece ser mais importante que o que conhecemos por tradição, moral, bons costumes, mandamentos, ou qualquer coisa nesse sentido. A ideia corrente é que somos essencialmente livres, e podemos nos determinar culturalmente como quisermos.
Vejam, por exemplo, a tal ideologia de gênero. Seus defensores negam que ser homem ou ser mulher seja um dado da natureza, mas que se trata apenas de um condicionamento cultural.
O centro nervoso disso é a negação da natureza. Se tudo é cultural ou resultado de costume, então é relativo, mutável, alterável em qualquer direção.
Ora, filósofos antigos, como Platão e Aristóteles e também os grandes mestres espirituais aceitam a ideia de que temos uma natureza, de que somos feitos de tal modo, que não podemos fazer simplesmente o que queremos. Nosso corpo e nossa alma são de tal forma, que determinados comportamentos são necessários para que funcionem corretamente. Para esses pensadores, a felicidade e a realização do ser humano está exatamente em praticar ações e adquirir hábitos que potencializem essa natureza, ou seja, que nos deixem mais aptos para exercermos nossa racionalidade, desenvolvermos nosso espírito na direção adequada. Qualquer ato contrário à natureza nos enfraquece e, portanto, é considerado mal, vício ou pecado, de acordo com a concepção que se tenha.
Tomás de Aquino foi uma mente privilegiada da Idade Média, que produziu uma síntese primorosa desse pensamento. A ideia de que a liberdade está em primeiro lugar nos jogou num fosso ético. Livres das “amarras” da tradição e da religião, que mostram caminhos para a realização da natureza, perdemos o rumo. A liberdade exercida sem freio produz vício, e todo vício destrói a liberdade. E o viciado se torna escravo exatamente por ignorar a natureza. O álcool, as drogas, ou o sexo livre são condenáveis não porque alguém retrógrado e mal amado decidiu que são, mas porque desordenam nossa vida, são contrários ao desenvolvimento harmonioso do nosso corpo e da nossa alma.
As filosofias libertárias nos levaram para um mundo de trevas. E é curioso que a luz seja buscada exatamente numa filosofia da Idade Média, estupidamente chamada de “idade das trevas”. Mas se existe uma idade de trevas, é a nossa. Entender nossa natureza e os limites necessários da nossa liberdade é essencial para sairmos dessa armadilha.