Estamos no mês da conscientização do câncer de mama (Outubro Rosa), doença que a cada ano atinge mais de 50 mulheres a cada 100 mil habitantes e provoca a morte de mais de 15 mulheres a cada 100 mil habitantes. O câncer como um todo provoca mais de 20% de todas as mortes por doença no mundo e se estima que ao redor de 40% das pessoas terão câncer ao longo da vida.

Muitas doenças avisam sua presença de alguma forma e dão tempo ao portador para combatê-la. Por exemplo, um fumante com tosse crônica que inicia com falta de ar está avisado que deve fazer mudanças se quiser prolongar sua vida. Mas, há também doenças que chegam de forma súbita sem aviso prévio, entre elas a mais frequente e assustadora é o câncer, que nas suas mais diversas formas pode acometer qualquer órgão e tecido do corpo.
Chamamos câncer a um conjunto de condições que provocam o aumento de velocidade de reprodução das células e a capacidade de migrar a outras partes do organismo (metástase).

A nossa vida depende da permanente renovação das células dos nossos tecidos, temos mecanismos que estimulam esse crescimento e outros que suprimem o crescimento. Quando devido a mutações esse equilíbrio é quebrado aparece um tumor ou neoplasia que pode ser benigno ou maligno (câncer).

A oncologia, especialidade que estuda os tumores sejam malignos (câncer) ou benignos, é uma das áreas da medicina mais dinâmica e em constante evolução. Como fruto desses avanços existem dezenas de tipo de cânceres que podem ser curados ou controlados atualmente, oferecendo aos portadores muitos anos de sobrevida.

Uma das perguntas mais frequentes nos consultórios médicos é aquela formulada por algum paciente que teve um parente recentemente diagnosticado de câncer: doutor, será que não é genético? Posso descobrir se serei afetado?
Muitos desses pacientes sabem que atualmente podem ser realizados testes que analisam se uma pessoa é portadora de mutações genéticas associadas com determinado tumor, o exemplo mais conhecidos são os exames para mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 associados ao câncer de mama.

Hoje em dia o número de mutações conhecidas aumentou significativamente de tal forma que os laboratórios oferecem o “painel genético para câncer de mama” onde são analisados dezenas de genes. Esses painéis existem também para outros tipos de câncer.

Somente seu médico, que conhece seu histórico clínico e seus antecedentes familiares poderá tomar de forma adequada a decisão de recomendar ou não a realização destes testes específicos. Há que lembrar que o fato de ser portador dessas mutações não significa que você vai desenvolver câncer, no máximo significa que você tem um risco aumentado para a doença e deverá ter um seguimento médico mais rigoroso no futuro. Esses exames ainda têm um alto custo, porém há uma tendência para que se tornem mais acessíveis com sua popularização.

Muitas vezes seu médico poderá decidir por solicitar um exame de “marcadores tumorais”, alguns tipos de câncer liberam proteínas que podem ser detectadas no sangue. Este tipo de exame se usa tanto para rastreamento como para acompanhamento de tumores.

Temos que lembrar que apenas entre 5% a 10% dos cânceres são hereditários, tem outros 10% que tem alta incidência familiar embora não propriamente hereditários. Mais de 80% dos cânceres são esporádicos, lembrando que mesmo sendo esporádicos tem como causa inicial mutações genéticas, muitas das quais já estão identificadas e muitas ainda são desconhecidas. O câncer é uma doença genética, o que é diferente de ser hereditária.

Por este motivo o câncer é uma doença que aumenta sua incidência conforme aumenta a idade das pessoas, quanto mais velho o DNA das células tem mais chances de sofrer mutações que levam ao crescimento e reprodução incontroláveis das células.

Atualmente há cura para muitos tipos de câncer, dessa forma a palavra câncer já não carrega de forma intensa o estigma de estar associada à morte.

Conta a escritora Susan Sontag no seu livro “A doença como metáfora” que as doenças podem ser consideradas “o lado noturno da vida”, os avanços da medicina em geral e da oncologia em particular têm permitido que milhares de pessoas possam continuar vivenciando o outro lado, o lado diurno, da luz, da alegria e do convívio com amigos e familiares.

Uma das maiores alegrias de todo médico é conversar com pacientes que sobreviveram ao câncer, esses pacientes nos mostram a junção perfeita entre o desejo de viver e os avanços da ciência.