“Pai e filho sofrem um acidente terrível de carro. Alguém chama a ambulância mas o pai não resiste e morre no local. O filho é socorrido e levado ao hospital às pressas. Ao chegar no hospital, a pessoa mais competente do centro cirúrgico vê o menino e diz: Não posso operar este menino, ele é meu filho”.

Este poderia ser só mais um desses enigmas bobinhos que vivem circulando na internet, mas representa mais, representa muito mais do que isso. Você que é homem mas principalmente você que é mulher, quanto tempo você demorou para deduzir que a pessoa responsável pela cirurgia era a mãe do menino?

A maioria das pessoas acha a história estranha ou mesmo chega a considerar que o menino é um filho bastardo antes de cogitar que – a pessoa mais competente do centro cirúrgico – possa ser uma mulher.

Sabe por que isso acontece?

Segundo o IBGE mulheres ocupam apenas 37% dos cargos e direção e gerência no Brasil, sem contar que nas diretorias executivas das grandes empresas, esse número cai para 10%. Na média a mulher ganha 76% do salário dos homens, desempenhando a mesma função. Quanto mais alto o cargo e a escolaridade, maior tende a ser a desigualdade salarial.

No STF, 81,8% dos ministros são homens, assim como 96,3% dos governadores brasileiros e 88,4% dos prefeitos. No senado? 84% são homens.

E pasmem, 60% dos estudantes que concluem os cursos de graduação hoje são mulheres. A conta fica mais ou menos assim, as mulheres estudam mais, ganham menos, e não raro precisam engolir piadinhas quando recebem uma promoção “Deve estar dormindo com o chefe!”

Se isso tudo já não fosse suficiente, a última pesquisa realizada pelo IPEA concluiu que mulheres brasileiras gastam em média 23,9 horas por semana com as atividades domésticas, contra 9,7 horas dos homens.

Claro que a gente não pensa que o cirurgião ultra capacitado é a mãe do menino, porque na realidade, é muito provável que não seja mesmo.

Você mulher, que estudou tanto quanto o seu colega de classe na universidade, você se sente menos capaz? Eu sei, o mundo talvez faça você acreditar que os homens tem, lá no fundo, mais capacidade e que por isso mereçam ganhar mais. Ou a responsabilidade sobre as atividades da casa devam de ser suas, afinal você leva mais jeito pra isso. Você também acaba acreditando que rachar a conta do jantar pode ferir o ego do seu namorado.

A pergunta é, será mesmo que tem que ser assim? Eu honestamente espero que um dia tenhamos as mesmas oportunidades e as nossas regalias enfim possam ser questionadas. Afinal temos plena capacidade de sermos cirurgiãs, CEOs, ministras, governadoras, engenheiras, astronautas ou que quisermos ser. Você tem alguma dúvida sobre isso? Não né? Então ocupe o seu lugar.

 

 

Mariana Imhof – economista, viajante, escritora