Não vou tentar esconder que o meu primeiro contato com Lindonéia nem sequer foi através do quadro em si. O LP “Tropicália ou Panis et Circencis” me trouxe essa chance na voz de Nara Leão e na letra de Gilberto Gil e Caetano Veloso. No fim das contas, uma coisa levou a outra e bati os olhos nos da bela moça de 18 anos que “morreu instantaneamente”. Neste momento decidi cremar as palavras de Caetano e Gil, pois era um sacrifício necessário para não deixar que influências externas formassem minha opinião e limitassem minha imaginação.

No fundo, pouco importou. É quase impossível não ser tomado por questionamentos dos mais simples quando se tem tão pouca informação sobre alguém. “Lindonéia quem? Lindonéia donde?”. Talvez seja esse mistério que a transforme  na “Gioconda do Subúrbio”, essa ideia de que possa ser qualquer uma. Mas não significa que Lindonéia não era ninguém em questão. E se fosse vizinha de Gerchman? E se fosse, sem o meu conhecimento, a única pessoa de Rondônia que conheci até hoje? Todas essas dúvidas… Como é fascinante a musa. Como poderia mudar nossas vidas conhecer sua origem ou sua história? Mudar, não muda nada, porém é o desconhecido que mexe conosco.

Não me interessa como Lindonéia morreu, nem o porquê de sua ida tão precoce. Que é agora um amor impossível, isso ficou (legalmente) óbvio. Todavia a falta de cor de Lindonéia me incomoda. Ela é plana, é da cor do fundo. É literalmente o plano de fundo para o que é mais relevante sobre sua vida: era bela, era jovem, e está morta. Que vazio traz a morte da minha Lindonéia de Rondônia.

Ana Alvarenga – estudante