Um ditado antigo diz que “mais vale um gosto que um vintém”. Mas o gosto era por um canudinho de doce de leite, uma bala de goma ou um refresco, prazeres não muito frequentes há algumas décadas. Se o gosto fosse pela mulher do próximo ou por uma substância química que prejudicasse a saúde e causasse dependência, o ditado já não valeria. A fronteira entre o permitido e o proibido provinha dos princípios ensinados ao longo dos séculos pelos grandes mestres: Lao-Tsé, Confúcio, Buda, Moisés, Platão, Aristóteles e Jesus. Todos chamaram a atenção para o perigo da satisfação desenfreada dos desejos e para a necessidade de colocar o que em nós é superior (racional e espiritual) acima do que é inferior (os prazeres físicos).
Mas o mundo contemporâneo viu nascer uma nova “trindade” de mestres: Nietzsche, Marx e Freud. Eles viraram tudo do avesso, colocando o acento na vontade, a felicidade na satisfação dos prazeres e chamando a virtude de dominação e subserviência mascaradas. Seus discípulos cuidaram de disseminar sua doutrina durante o século XX, e a cultura de hoje é um tributo a essas “divindades”. Nesse contexto, o que dá prazer deve ser liberado e cultuado, e a tentativa de impedir isso é tachada de repressão, discriminação ou preconceito.
É nesse contexto que vejo a campanha pela liberação da maconha (ou “cannabis”, para seus defensores – como se chamar nossos excrementos de “coliformes fecais” mudasse sua essência). O simples fato de haver uma discussão minimamente séria sobre isso já mostra o nível da nossa decadência.
O maconheiro, o alcoólatra ou qualquer viciado é incapaz de pensar para além do “barato” do seu vício. Pouco lhes importa sua saúde, seu futuro ou o sofrimento de suas famílias, que, não raro, têm que carregá-los às costas. Quem chega a ter consciência disso enfrenta um duríssimo calvário no caminho de volta. E lá estão as famílias, sofrendo e acompanhando aquele que, ao invés de ser um apoio para os seus, se tornou um peso a ser carregado.
Eu falo pelas famílias e insisto que liberar a droga é dar mais um passo para o abismo. Em breve, os usuários de cocaína exigirão sua “igualdade” e talvez não demore para que tenhamos uma marcha pela descriminalização da pedofilia. É o percurso natural da lógica do prazer. Não se trata de fazer contas ou análises pragmáticas. É uma questão de princípios.
Afinal, vamos sair da decadência ou nos afundarmos mais nela?
Ou voltamos logo aos ensinamentos dos grandes mestres ou nos embrenharemos na loucura em que Nietzsche mergulhou nos seus últimos anos de vida.
O futuro aguarda nossa resposta.